Regida por hormônios: entenda ciclos da mulher da adolescência à menopausa
Quem nunca culpou os hormônios por alguma situação desconfortável? Seja o mau humor, aquele choro aparentemente sem motivo ou até mesmo o excesso de fome, é bastante comum atribuir a culpa às questões hormonais - e isso não está errado! Afinal, as mulheres são regidas por eles durante toda a vida, da adolescência à menopausa.
"Os hormônios são, realmente, responsáveis por tudo: controle da fome, ansiedade, humor, sono, disposição, cabelo, unha, pele e libido, entre outras questões", cita a endocrinologista e metabologista Elaine Dias, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Assim, basta um descontrole de algum hormônio para que o corpo sinta seus reflexos. "Se a produção da leptina, responsável por diminuir a fome, fica descontrolada e aumenta a grelina, hormônio que dá mais fome, logo, teremos um aumento da vontade de comer", exemplifica.
São muitos os exemplos, segundo Elaine: se o TSH - o estimulador da tireoide - se altera, decorrente de um hipotiroidismo, a mulher deve experimentar cansaço, desânimo, queda capilar, unhas quebradiças, dificuldade para emagrecer, além de outros sintomas.
Já quando o estrogênio diminui - na menopausa ou pré-menstruação -, é hora de lidar com a irritabilidade, a insônia e a falta de libido. Ou seja, prestar atenção nos hormônios é essencial para entender o que se passa no corpo da mulher em seus anos de vida.
Adolescência: a ebulição hormonal
De acordo com a endocrinologista, a adolescência é marcada por um pico de progesterona e estrogênio e um aumento da testosterona. Com isso, há uma redistribuição da gordura subcutânea, aumentando glúteos, coxas, braços e culotes - o que pode resultar nas celulites e retenção de líquido.
"O aumento da testosterona leva ao excesso de oleosidade da pele e cabelo, e, consequentemente, causa acne e queda dos fios. Tem também alteração do humor, picos de irritabilidade e, eventualmente, agressividade", explica Elaine.
Se ser adolescente, por si só, já traz tantas modificações decorrentes dos hormônios, quando a menina engravida nessa fase, a explosão pode ser ainda maior e mais intensa.
"Uma gravidez na vida dessa jovem traz muita emoção, alteração de emoção e humor, pois é uma situação não esperada. As gestações nos extremos das idades podem acarretar riscos de morte, pressão arterial bem mais difícil de controlar, diabete e um trabalho de parto prematuro", alerta a ginecologista Carolina Curci, especialista em reprodução humana e obstetrícia, da Clínica Curci.
Gravidez: a montanha-russa hormonal
É certo dizer que a gestante fica com os hormônios à flor da pele durante os nove meses e isso acontece por uma parte hormonal bem específica: a sexual.
"Todos os hormônios sexuais ficam elevados, principalmente progesterona e estrogênio. Essa elevação proporciona sonolência; instabilidade emocional, que traz muita sensibilidade; e fome. Porém, em compensação, a pele e o cabelo ficam lindos!", diz Elaine.
Vale lembrar que a vida reprodutiva depende exclusivamente dos hormônios e, com a ausência deles, a própria gestação não acontece. "Sem eles, não tem um ciclo menstrual, não tem como ter o crescimento do folículo dominante, nem a ovulação e, consequentemente, não tem como ter a manutenção dessa gestação e o desencadeamento do trabalho de parto", argumenta a médica.
Ainda de acordo com a ginecologista, as alterações hormonais inviabilizam essa regularidade menstrual - e, assim, dificultam a gravidez -, justamente porque cada etapa de produção hormonal está ligada a uma fase do ciclo.
Climatério e menopausa: o declínio hormonal
No climatério, há o pico de LH (ligado diretamente à fertilidade) e FSH (que age na maturação dos óvulos no período féritil). Consequentemente, leva a uma perda de massa muscular, diminuindo o metabolismo. "Ocorre, também, uma diminuição da progesterona e, principalmente, do estrogênio", acrescenta Elaine Dias.
Essas reduções culminam em alterações do humor, com irritabilidade e instabilidade emocionais mais frequentes; ressecamento de pele e cabelo; flacidez; insônia; fogachos (calores) e redistribuição da gordura para o abdômen, tronco e vísceras.
Ainda são previstas alterações cognitivas (como esquecimento, dificuldade de foco e raciocínio) e sexuais (como diminuição da libido e pouca lubrificação) que leva à dor durante o sexo - sintomas clássicos da menopausa.
"No climatério e na menopausa, o organismo começa com seu declínio de produção hormonal. A mulher passa por ciclos que vão mudando e entra na menopausa quando fica um ano sem menstruar", esclarece a ginecologista Carolina, que alerta sobre confusões comuns com o hipotiroidismo, já que os sintomas são parecidos. Nesta fase, a gravidez já é quase que impossível.
Hormônios X emoções
Já a psicóloga clínica Camila Puertas, especialista em psicoterapia clínica e saúde mental, esclarece que alguns hormônios influenciam negativamente nos sentimentos, enquanto outros contribuem para a sensação de bem-estar, conhecidos como "hormônios da felicidade" - alguns deles são a serotonina, oxitocina e a endorfina.
"As baixas quantidades de progesterona podem deixar a mulher sem energia e indisposta, como se estivesse deprimida. Somado a isso, o cortisol aumenta e provoca sinais de estresse e irritabilidade. Já a redução do estrogênio pode levar à depressão, ansiedade e síndrome do pânico", aponta a profissional.
Ainda assim, não vale pensar que os hormônios são apenas ruins, viu? A psicóloga lembra que seus níveis também podem ajudar a reduzir a ansiedade, acalmar a resposta ao medo e até agir sobre o amor e o vínculo afetivo. A ocitocina, por exemplo, ajuda em momentos mais que importantes: o parto e a amamentação.
Cuidando dos hormônios
Muito se fala em desiquilíbrio hormonal, mas o correto seria dizer "alterações hormonais". "Primeiro, a gente tem que entender qual é essa irregularidade hormonal. Descobrindo, vamos analisar as causas e tratamentos, que podem ser com hormonoterapia, controle da alimentação e trativas específicas", diz Carolina Curci.
Uma dica da obstetra é anotar os ciclos menstruais desde a adolescência, contemplando suas durações, sintomas e datas. Se escrever parecer cansativo, já existem vários aplicativos que monitoram a menstruação. Além desse monitoramento, ela ressalta a importância do acesso às informações e, principalmente, a conversa com a ginecologista, mesmo sem vida sexual ativa.
Elaine Dias destaca a importância de manter os checapes em dia para verificar se há alguma alteração hormonal e, assim, evitar os sintomas ruins causados por isso. O mais recomendado é se submeter a uma consulta anual com o ginecologista ou endocrinologista para checar os níveis do TSH, T4 Livre, estrogênio, progesterona, FSH e LH, por exemplo.
"Quando se tem um estilo de vida saudável, praticando exercícios regularmente, com boa alimentação e dormindo de sete a nove horas por noite, a possibilidade de se ter alguma alteração hormonal é bem menor", finaliza a especialista.
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