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PM é acusado de feminicídio no Rio: 'Matou ex-mulher em frente dos filhos'

 Thiago dos Santos Almeida matou ex-mulher na frente dos dois filhos dela - Reprodução
Thiago dos Santos Almeida matou ex-mulher na frente dos dois filhos dela Imagem: Reprodução

De Universa, em São Paulo

20/10/2022 17h54

O MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) denunciou, na terça-feira (18), o policial militar Thiago dos Santos Almeida pelo crime de feminicídio. No dia 10 de outubro, ele matou a ex-mulher, Ellen Ramos Soares Ribeiro, a tiros e na frente dos dois filhos da vítima —um menino de 12 anos e uma menina de 3.

O crime aconteceu em Bangu, na zona oeste do Rio. A promotora de Justiça Fernanda Neves Lopes apresentou a denúncia. Em entrevista a Universa, ela afirma que crime foi praticado com brutalidade. "Tenho 19 anos de carreira e o caso da Ellen me chocou pelos requintes de crueldade. Foram 11 disparos de arma de fogo, além de lesões de espancamento em um crime cometido na frente dos filhos dela. É uma imagem que nunca vai sair da mente deles", diz promotora.

Fernanda pediu o encaminhamento das vítimas para o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência do MP para o acompanhamento psicológico das crianças.

Thiago foi preso em flagrante e teve prisão preventiva decretada. "A expectativa é que ele responda preso durante", afirma a promotora.

A arma utilizada por Thiago está sob perícia, mas é da corporação militar. Ele ainda estava em treinamento na Polícia. Fernanda acha temerário imputar facilidade de cometer o crime ao fato de ele ser militar.

"O feminicídio pode acontecer em todas as classes sociais, com mulheres ricas ou pobres, e esses crimes são praticados de diversas formas, não só como arma de fogo: enforcamento, faca... Quando este agressor quer matar, ele qualquer circunstância será utilizada", diz.

Ellen foi vítima de homicídio pelo ex-marido, soldado da PM, com tiros de arma de fogo - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ellen foi vítima de homicídio pelo ex-marido, soldado da PM, com tiros de arma de fogo
Imagem: Reprodução/Facebook

"Ele poderia ser policial militar, padeiro, empresário, advogado ou médico. Vivemos em uma cultura de agressão à mulher e de dominação da mulher, em que o homem a enxerga como posse e propriedade. O feminicídio é a ideia de posse suprema da mulher: se ela não é minha, não será de ninguém."

Através do depoimento das testemunhas, o MP quer detalhar o caso. "Sabemos que o réu tinha um sentimento de posse, costumava vasculhar o celular da vítima. Na data do crime, ela teria ido à Bangu dormir na casa da mãe porque eles tinham brigado. Ele foi até lá armado na madrugada e invadiu a casa."

Vizinhos e parentes teriam ouvido discussão e chegaram a acionar a Polícia, que não chegou a tempo de evitar os disparos.

O homem ainda não se pronunciou sobre o caso. "Acusados de feminicídio sempre falam em crime passional, que perderam a cabeça. Seja como for, ele vai ter que se explicar."

Fernanda explica que o caso deve ir ao tribunal do júri. Ellen não tinha medidas protetivas em seu nome. Mas Thiago já tinha anotações criminais por violência doméstica. O soldado havia sido reprovado no processo de seleção da PM, mas ganhou na Justiça o direito de fazer o curso de formação. "A informação que temos é que, inclusive, ele implorava para ela não registrar ocorrência e para ele não ser fichado, o que poderia impedir efetivamente concluísse a formação como militar", diz a promotora.

O que fazer em caso de violência doméstica

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.