Elas são fiscais de fidelidade: 'Já me pediram para testar até amante'
Por um pix no valor de R$ 45, Nicolly, 22 anos, dá em cima do seu namorado, manda fotos e áudios e pode até marcar um encontro com ele de forma sigilosa.
É assim que funciona o modelo de negócios da paulista de Itapecerica da Serra. Assim como ela, dezenas de mulheres jovens e bonitas, com um arsenal de fotos bem produzidas, trabalham testando a fidelidade de homens comprometidos na internet.
Depois de trocar mensagens e, em alguns casos, marcar encontros com os maridos das clientes, Nicolly manda todos os prints para as esposas, comprovando que eles caíram no teste, ou seja, foram infiéis.
Mãe de um bebê de um 1 ano e dois meses, Nicolly estava no puerpério e sem fonte de renda quando recebeu um pedido inusitado de uma seguidora.
"Ela me procurou no Instagram dizendo que me achava muito bonita e que eu fazia o tipo do marido dela. Falou que estava muito desconfiada dele pois já havia aprontado algumas vezes, então queria que eu desse em cima dele para ver se cairia", contou a Universa.
O primeiro teste deu certo. Nicolly mandou mensagens no Whatsapp do marido da cliente, fingindo ser engano. Papo vai, papo vem, ele se entusiasmou e investiu nela, que imediatamente mandou fotos das conversas para a esposa. Satisfeita com o resultado do trabalho, fez um pix em agradecimento.
Nicolly achou a história divertida e postou um vídeo no TikTok, que acabou viralizando. Começou a receber mais pedidos e descobriu ali um negócio lucrativo. Hoje, ela fatura entre R$ 4 mil e R$ 5 mil por mês desmascarando maridos e namorados infiéis.
Além de fonte de renda, os testes de fidelidade têm para ela uma função social. "Já ajudei muitas mulheres a se livrarem de relacionamentos tóxicos, abusivos", diz.
Essa foi também a motivação de Stefani Lara, 20 anos, para fazer o mesmo trabalho. Após ser vítima de uma traição, a jovem de Curitiba começou a realizar os testes para livrar outras mulheres de relações tóxicas como a que viveu.
"Estava muito revoltada com os homens e comecei a fazer os testes para ver no que dava", conta. Por cada teste que faz por dia ela cobra R$ 35, o suficiente para trabalhar apenas com isso. A cada dez homens testados, cerca de seis são reprovados, ou seja, aceitam as investidas de Stefani.
"Não acho que o teste vá provar 100% que uma pessoa é fiel ou não. Mas acho que ajuda muito a descobrir qual a intenção de quem está do nosso lado. Muitas mulheres só precisam de uma prova para sair fora", diz a curitibana.
Para não se perder entre a dezena de homens que contacta diariamente, Stefani mantém um caderno onde anota todas as informações passadas pelas próprias esposas: profissão, bairro onde mora, interesses ou hobbies que ajudam a armar o cenário da paquera. Junto com a contratante, ela monta um plano para fisgar o infiel em potencial.
"Você treina na academia da rua tal? Te vi lá na semana passada e te achei bem gato. Tá solteiro?" — é um exemplo de abordagem usada pelas fiscais de fidelidade. Claro, há ainda os infiéis que nem precisam de investidas. Basta adicionar no Instagram e curtir algumas fotos para o homem já morder a isca e ele mesmo puxar assunto.
Amante ciumenta
Nem só de relações monogâmicas vivem as fiscais de fidelidade. Há clientes de diversos perfis: amante que pede para testar o homem casado, gente que pede para testar o ficante antes mesmo do envolvimento virar namoro e tenha quem invente planos mirabolantes para acabar com o casamento alheio.
Nicolly conta que não é raro ser procurada para testar ficantes. Segundo ela, as clientes querem saber se vale a pena investir no boy antes de tentar ter algo mais sério com ele.
"Já aconteceu de me procurarem para testar amantes ou mesmo mulheres que são amantes e querem testar o cara que é casado para, no fim, mandar o print para a mulher dele no intuito de destruir o casamento porque querem ficar no lugar da esposa", relata.
Há também um perfil de cliente que só precisa de um empurrãozinho final para conseguir terminar um relacionamento que já não vale mais a pena.
"Já aconteceu muito de a mulher não querer mais estar na relção, pois esfriou é só precisa de um motivo para conseguir terminar, então me procuram para isso", conta.
Profissão perigo
Livrar as mulheres de relações abusivas pode ter seu preço também para as fiscais, que muitas vezes acabam sendo alvo de perseguição por homens violentos.
Foi o que aconteceu com Iasmin, 19 anos, que faz testes de fidelidade há cerca de um ano e cobra R$ 20 por cada um.
Certa vez, enquanto conversava com uma cliente, ela foi surpreendida por um áudio do rapaz que estava testando. Ele tomou o celular da namorada, descobriu todo o plano das duas e ameaçou Iasmin.
"Ele ficou muito nervoso e disse que ia me achar. Fiquei assustada", conta a jovem, que por segurança, passou a não fazer testes na mesma cidade onde mora.
Segundo ela, o casal resolveu a situação e o homem parou de persegui-la. "Não sei se continuam juntos", diz.
Testes em massa
Os preços para testar o namorado variam. No TikTok, tem gente oferecendo teste por preços populares ou mesmo gratuitamente. E há quem passe orçamentos mais elaborados, que variam de acordo com o tempo de duração do teste. Pode ser que o alvo demore alguns dias para ceder às investidas da fiscal, por exemplo, fazendo com que a cliente tenha que pagar diárias extras.
O valor mais caro encontrado por Universa foi de R$ 150 para um teste com duração de dez dias. Trata-se de uma empresa com mais de 16 funcionárias, com perfis diferentes para agradar todo tipo de infiel.
"Contamos com perfis diversos, que você pode escolher na hora da contratação, de acordo com o gosto pessoal de quem está sendo testado. Todas as meninas são preparadas para você ter a melhor experiência possível", diz a mensagem da empresa.
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