Lady Gaga inspira os figurinos de série 'A Rainha Serpente'
Karen Muller Serreau tem uma filmografia de mais de 20 filmes e séries, tendo assinado produções de época e modernas. Detalhista, divertida e ousada, ela é a responsável pelos figurinos de tirar o fôlego da série "A Rainha Serpente", disponível no streaming Lionsgate Plus (ex-Starz).
A série biográfica sobre Catarina de Médici, rainha francesa de naturalidade italiana, que apavorava seus inimigos por usar venenos para eliminá-los, traz uma espetacular Samantha Morton no papel principal. É apurada historicamente, mas tem espaço para uma trilha sonora de mulheres do rock punk e uma narrativa cínica, inteligente. Diante dessa descrição, seria surpresa que a referência fashion para a rainha seria Lady Gaga? Pois é, Karen parou seu trabalho em um filme, na Itália, para conversar exclusivamente com o Universa sobre os trabalhos da série.
UNIVERSA: A história de Catarina de Médici é fascinante e tem sido contada de uma forma deliciosamente maliciosa. É curioso saber que a inspiração de seus figurinhos veio de Lady Gaga, uma mulher de atitude tão oposta da Rainha Serpente!
KAREN SERREAU Pois é. Quando me contataram para o projeto, me contaram um pouco como seria a narrativa e nessa conversa Lady Gaga foi mencionada como uma referência. Aceitei e decidi: OK, se for esse o caso, vamos em frente!
Mas combinavam? Lady Gaga é ousada e as imagens que temos de Catarina são a da viúva sempre de preto...
Exato, como naquele período havia apenas alguns retratos de pessoas da realeza, não há uma grande quantidade de documentação para usar como base, mas isso me deu liberdade para interpretar como queria. Diane de Poitiers era conhecida por usar branco e preto e branco, mas Catarina só passou a usar preto depois de ter ficado viúva. Foi muito desafiador para mim pensar em uma Catarina de Médici com cores, mas quando li o roteiro, que mostraria ela vindo da Itália, decidi que ela viria com cores fortes.
De todo guarda-roupa de Catarina, qual vestido você acha que Lady Gaga escolheria?
Provavelmente o nosso vestido "Rainha Serpente", que tem mangas enormes e eu acho que provavelmente ficaria ótimo nela.
Sem imagens ou documentos, como foi a criação?
Usei a cultura fashion atual e transpus para o período. Olhei para todos os designers de moda que fizeram desfiles com referências da Renascença e a partir daí voltei no tempo.
Agora estamos com uma Catarina adulta, vivida por Samantha Morton. Como foi a transição?
Quando chegamos a uma Catarina mais velha, o figurino torna-se um pouco mais historicamente correto. Quero dizer, no sentido mais convencional porque ela ainda está se adaptando para ser Rainha da França.
O valor de produção é inegável e as roupas da época eram caríssimas, não?
Na vida real um dos vestidos de Catarina custava o preço de um castelo. Você não pode competir com isso em uma série! (risos) então decidi que iria apenas brincar com texturas. Ao mesmo tempo, usei alguns modelos de cores absolutamente nada a ver com as da época, apenas para tentar dar vida. Por exemplo, seu primeiro vestido, quando chega à França é completamente exagerado. Está cheio de joias, rendas. Isso porque eles a estão vendendo (literalmente) e precisavam comunicar opulência.
O preto e branco de Diane de Poitiers, não era restritivo? Você conseguiu ousar mesmo com essa limitação!
Sim, na coroação de Henry 2º, Catarina percebe que ele está vestindo as cores de Diane. Eu sempre gostei de preto e branco, mas pensei: o que vou fazer agora para realmente se destacar? Foi aí que usei uma estampa de zebra (risos). Sim, para fosse forte e realmente as cores de Diane de Poitiers.
Em quais outros momentos você pôde se divertir assim?
Com Mary, Rainha da Escócia. Ela sempre tem suas quatro damas de companhia e todas são chamadas de "Mary". Isso é historicamente correto. E eu tive a ideia de fazer vestidos meio renascentistas de tweed Chanel. Todas as "Marys" têm seus vestidos brancos, que era a cor do luto naquela época para uma rainha, mas todos têm pequenos enfeites Chanel neles. Também quis brincar com as roupas do Henry 2º quando jovem, usando três tiras na manga, pensando na Adidas, mas não tivemos autorização e tive que tirar uma delas. A proposta era ver até onde poderia modernizá-lo, brincar um pouco, parecendo historicamente correto, mas sem ser.
Catarina de Médici entrou para a História meio como vilã, com péssimas referências, veio a ser conhecida como "A Rainha Serpente". O elemento de cobra então era inevitável?
Sim. A primeira coisa que pensei dela foi o cabelo, que têm tipo de serpentes nele, que estão sempre lá. E fizemos o vestido que se chamava "vestido da serpente", o que aparece nos créditos da série e nos pôsteres.
Vestir os homens foi mais difícil, fácil ou igual?
Foi desafiador, os Bourbons estão sempre de preto e os Guises de vermelho escuro, para dar uma ideia da oposição entre eles. E claro, todos os protestantes usam apenas preto. Por outro lado, o astrônomo de Catarina era um viajante, sempre de calças de couro meio velhas.
Há troca de ideias com os atores para decidir as roupas?
Sim, tive muitas conversas com Samantha [Morton] sobre o que as coisas significavam. Por exemplo, o vestido de coroação dela é meio azul, com bordado dourado, mas o bordado se parece muito com céu e as estrelas, representando o lado místico dela. Trabalhamos cores para refletir os humores de Catarina, conversamos muito sobre o que essas cores significavam. Mas foi bastante difícil porque havia a pandemia na época que gravamos e os atores passaram por isolamento de duas semanas quando vieram para a França gravar, então o tempo de troca ficou muito limitado. Muitas das minhas conversas com Samantha foram por zoom, mas ela foi fantástica.
Quantos vestidos, quantas roupas, em grande número você criou para a série?
Oh, Deus, centenas! Tínhamos muitos extras, não sei o número exato. Diane de Poitiers tem mais de 25 vestidos (todos em preto e branco) e tinha um trailer inteiro só para guardar os vestidos de Samantha Morton. Sim os vestidos ocupam muito espaço e são muito pesados!
Qual a dica para fazer um trabalho tão rico em detalhes como o seu?
Faço muita documentação. Leio muito sobre os personagens porque preciso saber quem são. Falo com os diretores, quero saber de onde vêm, quem são e trabalho a partir daí.
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