Lésbicas, elas criaram perfil no Instagram para assumir relação: 'Orgulho'
Quem vê a procuradora de justiça Laize Macedo, 61, e a nutricionista Thaize Guimarães, 32, fazerem publicações no Instagram mostrando o dia a dia do relacionamento entre duas mulheres nem imagina que, até pouco tempo atrás, elas evitavam demonstrações de afeto em público, como andar de mãos dadas ou dar um beijo na boca.
A Universa, Laize e Thaize, que são do Rio de Janeiro, contam que, antes, não viviam a relação plenamente, e a experiência de casal era compartilhada somente entre a família ou em rodas de amigos. Para mudar essa situação, em abril deste ano, elas criaram o perfil "Ih Assumi" com o objetivo de assumir publicamente a relação das duas e já somam mais de 34 mil seguidores.
"Tinha muito medo de me expor e fui entendendo junto com Thaize que, quando a gente não age com naturalidade ou não assume publicamente a nossa relação, o que está por trás da atitude é a vergonha de sermos quem somos", avalia Laize.
Ideia surgiu após ataque homofóbico
O ponto de partida para essa mudança foi um episódio de discriminação. No início do ano, durante as comemorações do Réveillon, no condomínio onde moravam na época, Laize e Thaize foram atacadas por um outro morador enquanto estavam numa das áreas comuns do residencial, com um casal de amigos gays.
De forma agressiva, o homem interpelou o grupo dizendo que, se visse homens ou mulheres se beijando ali, iria bater em todo mundo. "Esse episódio foi muito traumático para nós. Sentimos como se ele dissesse que não somos bem-vindas, que aquele ambiente não é para a gente. Até hoje, estamos impactadas com a violência verbal gratuita que sofremos", afirma Thaize.
Com medo, as duas foram até a delegacia para registrar uma ocorrência, mas não conseguiram dizer que eram um casal. "Laize teve vergonha de se expor e assumir o real motivo das ofensas porque trabalha na área criminal", relata a nutricionista. A situação foi registrada, então, como ameaça, e não LGBTfobia, que é crime equiparável ao racismo e pode resultar em pena de um a cinco anos de detenção.
"Queremos normalizar diferentes tipos de família"
O ocorrido levou as duas a uma reflexão, e o perfil no Instagram foi uma maneira que o casal encontrou para lembrar que não precisam pedir licença para serem quem são. "Não temos que procurar sermos 'aceitas' e, sim, respeitadas. Não somos melhores nem piores do que ninguém, somos absolutamente iguais, e é esse respeito que exigimos", diz Thaize.
Com suas publicações fazendo sucesso entre os seguidores, elas contam que pretendem continuar dividindo o dia a dia do casal no perfil. Por lá, por exemplo, é possível ver desde a cumplicidade delas até cenas cotidianas com a cachorrinha Tereza, além da convivência com os netos de Laize, familiares e amigos das duas. Outro objetivo dessa presença online é combater estigmas e preconceitos em torno da relação entre pessoas do mesmo gênero.
"Agora, lutamos para naturalizar modelos de família como o nosso. Queremos que sejam comuns, aos olhos da sociedade, casais de duas mulheres, dois homens, trans, travestis ou quaisquer outros, para que não haja tanto choque nem aquelas crenças de que somos má influência", destaca Laize.
O casal busca ainda, por meio do perfil, ajudar outras pessoas LGBTs a se assumirem. "O tempo que cada um leva para ser livre é individual e depende do processo, mas queremos, no mínimo, levá-las a compreender que têm valor e que podem vencer os próprios medos. Não assumir fortalece o preconceito, ao passo que se assumir é o maior ato de autoaceitação e orgulho", defende Thaize.
Diferença de idade já foi um problema e motivo de preconceito
Laize e Thaize estão juntas há mais de cinco anos e, com 29 anos de diferença, a idade foi uma questão no início do relacionamento. Apresentadas por um casal de amigas em comum em 2014, após a nutricionista ter visto uma foto da procuradora no Facebook e se interessado em saber mais sobre ela, elas levaram mais de três anos para se envolver.
O motivo da demora foi o receio de Laize em estar com uma mulher mais nova e que tinha idade próxima à de sua filha caçula, hoje com 37 anos. Atualmente, essa diferença está superada entre o casal, mas elas contam que o etarismo já apareceu em algumas situações do cotidiano.
"Como antes não assumíamos publicamente, nos perguntavam bastante, muitas vezes por pura maldade, se éramos mãe e filha. A gente apenas respondia 'não, somos amigas', mas, depois do 'Ih Assumi', dizemos sem medo: 'Somos casadas' ou 'ela é minha mulher'", conta Thaize.
"Cientes de que temos nosso valor, todas essas investidas preconceituosas perderam a força e apenas nos mostram o como ainda existe pessoas maldosas, dispostas a destilarem suas frustrações em pessoas que estão apenas amando e sendo felizes."
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