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Ciúme de irmão recém-nascido é comum, pode causar volta às fraldas e birra

Virginia, Maria Flor, Maria Alice e Zé Felipe - Reprodução/Instagram
Virginia, Maria Flor, Maria Alice e Zé Felipe Imagem: Reprodução/Instagram

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

26/10/2022 04h00

No último sábado (22), nasceu Maria Flor, a segunda filha do casal Virginia Fonseca e Zé Felipe, assim, a pequena Maria Alice foi promovida a irmã mais velha. Neste domingo (23), Virginia usou suas redes sociais para desabafar como está sendo a rotina após o nascimento da caçula e confessou que Maria Alice está sentindo ciúmes da irmã mais nova. "Isso está sendo um desafio para mim! Mas tenho fé que logo estaremos tirando de letra tudo isso", disse influencer em suas nas redes sociais.

Segundo a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, especialista em comportamento infantil, esse ciúme não é nada raro e existem alguns fatores para explicá-lo. A atenção que o bebê recebe ainda na barriga (e fora dela) é um deles, assim como a redução de tempo e proximidade com o mais velho durante a gravidez, caso a mãe enfrente algum tipo de situação que exija repouso.

"Desde a notícia da gravidez, a criança deve ser inserida em todas as etapas de comemorações, escolhas de enxoval e decoração do quarto. Essas ações vão incluí-la e dar responsabilidades de 'irmã mais velha', valorizando seu papel na relação", aponta a psicóloga.

Ciúme do recém-nascido: 'Minha filha mais velha voltou a usar fraldas'

A comunicadora Caroline Fakhouri, 34 anos, de Minas Gerais, vivenciou o ciúme entre irmãos após o nascimento do seu segundo filho, Jorge, em abril. A primogênita Sofia, de 3 anos, ficou enciumada desde a chegada do caçula e passou a ter comportamentos para lá de provocativos, sobretudo nos três primeiros meses.

"Ela fazia coisas para deixar nossa paciência à flor da pele mesmo, como atitudes que chamavam atenção e até comportamentos retroativos, voltando a usar fralda para dormir", cita a mãe.

A atitude foi - e continua sendo - incluir a mais velha nos cuidados com o bebê, o que tem tido resultados positivos. "Também sempre ficamos atentos para fazer as coisas igualmente, ou seja, se compramos um presente para ele, compramos um para ela. Agora ela já entendeu que o irmão é tão amado quanto ela e que existe espaço para os dois - e que é o mesmo espaço", conta Carolina.

A comunicadora Caroline Fakhouri, 34 anos, de Minas Gerais, vivenciou o ciúme entre irmãos após o nascimento do seu segundo filho, Jorge, em abril. A primogênita Sofia, de 3 anos, ficou enciumada desde a chegada do caçula e passou a ter comportamentos para lá de provocativos, sobretudo nos três primeiros meses. - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Caroline vivenciou o ciúme entre irmãos após o nascimento do seu segundo filho, Jorge, em abril. A primogênita Sofia, de 3 anos, passou a ter comportamentos para lá de provocativos
Imagem: arquivo pessoal

Como o ciúme se manifesta

De acordo com Bárbara, alguns sinais comportamentais são capazes de revelar tal situação. Entre os principais, ela destaca episódios de choros sem motivo, birras, regressões - voltar a usar fralda, chupeta ou mamadeira, como no caso de Sofia -, ter a fala mais infantilizada e deixar de cumprir combinados que funcionavam anteriormente.

"Crianças e bebês estão em fase de formação e, geralmente, não sabem organizar suas emoções, colocá-las em palavras e verbalizar como estão se sentindo, por isso, sentem necessidade de extravasar de outras formas", explica a psicanalista Paloma Carvalhar, que relembra ser papel dos adultos ajudar o pequeno a compreender, acolher e ressignificar esses sentimentos.

Sinais de alerta

Embora as manifestações ciumentas sejam esperadas por grande parte das famílias, existem indícios de alerta para esse comportamento, que pedem uma atenção ainda maior dos pais.

"Os responsáveis devem avaliar quais comportamentos estão dentro do esperado e como essa criança está reagindo ao longo do processo, antes e após a chegada do bebê. Mas é importante ressaltar que, quando falamos de aspectos psicológicos como uma fase de transição, não existe uma fórmula matemática", observa a psicanalista.

Nesse caso, Paloma diz que a melhor maneira de identificar esse exagero é avaliando a parte comportamental do filho mais velho. Mas, acima disso, vale também repensar sobre as próprias expectativas dos pais quanto à reação daquele primogênito e os resultados realmente possíveis.

"Quanto, de fato, essa criança está com um ciúme acentuado ou quanto disso é a exigência de que ela tenha uma maturidade que ela não está pronta para ter?", questiona a profissional.

Como lidar, então?

Entretanto, se o ciúme já estiver acontecendo, é hora de agir contra ele, a fim de estabelecer a paz e harmonia nessa nova relação que surgiu com o nascimento do bebê. Para isso, a inclusão do mais velho nas atividades cotidianas e, sobretudo, relacionadas ao mais novo é essencial.

"É importante que a criança se sinta parte do processo de chegada do irmão mais novo, com diálogo e explicações didáticas, usando ferramentas lúdicas, para mostrar que essa é uma mudança importante, que traz desafios, mas, também, aspectos positivos", argumenta Paloma.

Além disso, os adultos têm um papel fundamental nessa adaptação, ainda antes da barriga da mãe começar a despontar: cabe a eles explicarem que vai chegar um novo membro na família e mostrarem que o filho mais velho não está sozinho nesse processo.

Isso porque é comum os pais pensarem que a criança não entende o que está acontecendo e, com isso, ela perde seu protagonismo de forma brusca, sem explicações, levando à sensação de rompimento e instabilidade emocional.

É possível, também, adotar algumas dicas práticas, capazes de amenizar essa ciumeira, como ensina Bárbara Calmeto:

  • Envolva a criança nos cuidados com o bebê, respeitando suas limitações. Não crie obstáculos. Pelo contrário, solicite ajuda com o que ela consegue fazer: pegar a fralda na gaveta, limpar a boquinha do irmãozinho, escolher a roupinha que ele vai usar, por exemplo. Valorize e elogie essas ações.
  • Não espere que o irmão mais velho tenha comportamentos inadequados para prestar atenção à necessidade dele. Por mais que seja cansativo, separe um tempo só para ele, mesmo que seja pouco. Esse momento será muito valorizado pelo filho.
  • Elogie os bons comportamentos. Abrace seu primogênito e mostre alegria por ter se comportado bem e ter tido demonstrações de carinho com o caçula.
  • Converse sobre o assunto com seu filho. Abra espaço para que ele fale como está se sentindo, mostre foto de quando também era bebezinho e explique como ele também precisava de você. Se possível, diga: "Que sorte seu irmãozinho tem de tê-lo por perto para ensiná-lo tudo que já aprendeu".

Agora, se há dificuldade em resolver a situação na casa, a recomendação é que os pais busquem ajuda profissional. Segundo Paloma, a terapia é amplamente indicada em fases de transição, como na chegada de um irmão, além de promover autoconhecimento ao pequeno filho.

Ela lembra ainda que essa manifestação de ciúme pode levar a outras descobertas, revelando que essa criança tem, na verdade, problemas com a autoestima, na dinâmica familiar ou até nas relações com as pessoas, o mundo e consigo mesma.

"Um profissional vai contribuir para que o filho mais velho se sinta compreendido e acolhido, além de utilizar as ferramentas corretas de investigação para verificar se o ciúme é uma manifestação pontual ou parte de uma questão mais profunda no aspecto psicológico", finaliza a psicanalista.