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Empresário é preso suspeito de abusar de ao menos 10 mulheres em provador

O empresário acusado de abusar sexualmente de mulheres em Belo Horizonte (MG) foi preso ontem, em São Paulo - Reprodução/PCSP
O empresário acusado de abusar sexualmente de mulheres em Belo Horizonte (MG) foi preso ontem, em São Paulo Imagem: Reprodução/PCSP

Maurício Businari

Colaboração para Universa, em Santos

28/10/2022 14h23Atualizada em 29/10/2022 09h28

Considerado foragido desde março, o empresário Cleidison dos Santos Fernandes, 31, foi preso em São Paulo, acusado de abusar sexualmente de pelo menos 10 mulheres dentro de um provador de roupas da loja Ana Modas, de sua propriedade, no Uai Shopping, em Belo Horizonte.

Procurado pela Justiça de Minas Gerais por violência sexual contra dez mulheres, ele foi encontrado na tarde de ontem, após uma denúncia. A 5ª Delegacia de Patrimônio, que investiga roubo a bancos, recebeu informações que um homem foragido da Justiça mineira estaria escondido em um prédio no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Segundo a polícia, pelo menos cinco vítimas registraram ocorrência por estupro, estupro de vulnerável e importunação sexual. Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, existem ao menos dois processos registrados em nome do acusado. O primeiro, de 2018, por estupro de uma mulher. Já o segundo, que corre em segredo de Justiça, envolve outras dez vítimas.

Segundo a polícia, existem mais de 50 relatos em redes sociais de mulheres acusando o empresário. As vítimas são clientes e funcionárias da loja Ana Modas, além de modelos de roupas.

Ao ser detido pelos policiais, Cleidison admitiu ser procurado pela Justiça, mas negou os crimes na delegacia. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, as vítimas têm entre 18 e 29 anos, e os crimes começaram em 2017.

Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) confirmou a prisão do empresário e informou que ele foi detido durante uma operação realizada por policiais da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

"Ele era procurado pela Justiça de Minas Gerais por violência sexual contra 10 mulheres. O criminoso utilizava um nome falso para não ser encontrado. Contudo, após trabalho de investigação, os policiais localizaram o homem em um prédio na zona Leste, que admitiu ser procurado. O empresário permanece detido à disposição da Justiça", disse o órgão, na nota.

Provando um biquíni

Em conversa com Universa, uma das vítimas diz que foi atacada por ele em 2019, quando esteve na loja Ana Modas de Belo Horizonte para comprar um biquíni.

"Eu estava feliz naquele dia. Eu e meu noivo tínhamos ganhado uma viagem para Florianópolis dos meus sogros, estava empolgada. Quando entrei na loja, não percebi nada de errado. Pelo contrário, ele parecia muito simpático", conta a mulher, que pediu para não ser identificada.

Daí conversei com ele, contei de Florianópolis e disse que precisava de um biquíni. Ele me mostrou alguns modelos e começou a sugerir qual ficaria melhor no meu corpo. Não gostei, porque o sorriso dele foi meio esquisito. Daí ele me apontou o provador e disse para eu experimentar todos, assim eu iria sair de lá 'satisfeita'.

A mulher entrou no provador que, segundo ela, era apenas uma cortina de frente para um espelho na parede, e começou a experimentar os biquínis. Num dado momento, ela sentiu que alguém parecia estar observando por uma fresta da cortina. Mas ela pensou ser algo "da cabeça dela" e continuou a provar as peças.

Não deu 3 minutos, eu estava vestindo as roupas para ir embora, já tinha escolhido o biquíni que eu queria, senti a cortina atrás de mim abrindo um pouco e foi quando a mão dele tocou na minha nádega. Eu gelei. Bati na mão dele e comecei a falar para ele parar. Ele então entrou no provador e colocou a mão na minha boca, me prensando contra o espelho. Não sei como, mas comecei a me debater até que me soltei dele. Peguei minha bolsa e corri feito louca em direção à rua.

Primeiro registro em 2017

O primeiro caso envolvendo o empresário, foi denunciado em 2017. Segundo o boletim de ocorrência registrado pela PM (Polícia Militar) à época, uma jovem de 18 anos relatou que marcou uma entrevista de emprego com o empresário. Durante a conversa, porém, ela teve o cabelo puxado, foi beijada à força e até mesmo mordida.

Universa entrou em contato com os advogados de defesa do empresário, Julia Barcelos Rodrigues e José Jonai Gomes de Lemos, mas eles ainda não se pronunciaram sobre o caso.

A Polícia Civil de Minas Gerais também foi contatada pelo UOL, para que pudesse fornecer mais detalhes sobre o caso, mas até o momento não havia respondido aos questionamentos.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.