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Com pinta de pop star, Rupi Kaur faz stand-up misturando piadas e poesia

A escritora Rupi Kaur faz turnê mundial de apresentação em que fala de sua vida, brinca com a plateia e declama poemas - Reprodução
A escritora Rupi Kaur faz turnê mundial de apresentação em que fala de sua vida, brinca com a plateia e declama poemas Imagem: Reprodução

Gabriela Simionato

Colaboração para Universa, em Barcelona (Espanha)

29/10/2022 04h00

Se sua ideia de um espetáculo de poesia é a de um evento em que alguém apenas lê um livro com rimas, esqueça. Ainda mais se quem estiver no palco for a escritora e poetisa Rupi Kapur. Best-seller mundial, a indiana figura nas listas de mais vendidos de diversos países, incluindo o Brasil. O primeiro, "Outros Jeitos de Usar a Boca" (ed. Planeta), foi um sucesso: traduzido para mais de 30 línguas, projetou seu nome e a tornou um fenômento do feminismo pop.

Desde setembro, Rupi tem viajado por diversos países com o espetáculo ao vivo que leva seu nome e mistura os poemas de seus livros: além do já citado, estão lá "O que o Sol Faz com as Flores" e "Meu Corpo Minha Casa", ambos da editora Planetas. Outras poesias são inéditas.

Sua escrita é densa e pungente e trata de temas como violência contra a mulher, feminismo, amor, sexualidade, imigração e empoderamento. Surpreende, portanto, que em seu show de stand-up, atualmente em turnê mundial, faça o público rir como se estivesse em uma apresentação de um comediante.

Na noite de quinta-feira (27), ela encerrou a tour europeia com ingressos esgotados em Barcelona, na Espanha. Universa acompanhou o espetáculo e conta como foi.

Poesia como meio de curar traumas alheios

Rupi durante apresentação de sua turnê na Europa: show mistura stand up comedy e poesia - Reprodução - Reprodução
Rupi durante apresentação de sua turnê na Europa: show mistura stand-up comedy e poesia
Imagem: Reprodução

Rupi abre o espetáculo fazendo uma pequena introdução sobre si. Ela nasceu em Hoshiarpur, na India, e imigrou com a família para o Canadá aos quatro anos de idade.

Os costumes de seu país de origem eram mantidos dentro de casa, o que a irritava profundamente quando adolescente. Sem muitos recursos, o passeio da família era ir à biblioteca da cidade, onde eles tinham acesso a 20 minutos de computador com internet. Durante a espera, ela se entretinha com os livros e, assim, nasceu seu amor pela literatura.

Com o passar dos anos, passou a entender que seu dom estava completamente conectado às suas origens e que, por meio de seus poemas, poderia valorizar a cultura e inspirar outros jovens, mulheres e pessoas lutando para curar seus traumas.

Diagnóstico de depressão é contado entre gargalhadas

O espetáculo começa com piadas sobre as tradições de sua família e esses passeios à biblioteca. "Pude ter meu primeiro email, mas ninguém me escrevia. Então, eu usava meus 20 minutos para cuidar do meu bichinho de estimação online. Quem não teve um? Isso foi uma febre", brinca, enquanto faz a plateia rir em uníssono.

Em seguida, ela relembra sobre sua luta contra a depressão e a batalha para encontrar um terapeuta e tratamentos alternativos. "Encontrar um terapeuta é tão difícil quanto encontrar um parceiro. Como todo bom homem, os bons terapeutas já estão com alguém. Os médicos me dizem que só vou melhorar se eu me exercitar uma hora por dia. Como podem exigir isso de mim se, na maior parte dos dias, eu não quero nem me levantar da cama?".

Assim que termina de recitar um poema sobre o tema, alivia clima. "Fico feliz em anunciar que estou me sentindo muito melhor."

Mudanças bruscas de humor para mostrar que poesia não é sinônimo de tédio

A oscilação de humores do espetáculo também é alvo de brincadeiras da escritora, que aproveita para criticar quem acha poesia tediosa tédio. "Em especial aos homens que vieram aqui obrigados por suas namoradas: se você acha que vai ser um show chato, sinto muito, mas vou decepcionar vocês."

Durante as quase duas horas de espetáculo, Rupi faz performances de seus versos e interage a todo momento com o público. Também convida uma pessoa a subir e recitar um poema para ela.

"Achavam que eu era algo passageiro. Mas sigo sendo uma best-seller"

Antes de encerrar o show, ela relembra o início da carreira, quando foi desacreditada por todos ao tentar publicar seus poemas. Afinal, diziam que poesia não vende. Sem apoio de editoras, publicou seu próprio livro e se tornou a best-seller mundial que é hoje.

"Existem guardiões do mundo literário. E percebi que esse mundo no qual tanto quis entrar estava fazendo de tudo para me descreditar. Achavam que eu era algo passageiro. E sigo sendo uma best-seller", orgulha-se.

"Depois, os críticos começaram a dizer que minha poesia não era 'de verdade' porque tinha muita gente lendo. Acho que é assim que eles aprenderam matemática", ironiza. "A acessibilidade não é valorizada".

Ficava ofendida quando diziam que minha poesia era para adolescentes e menininhas falando sobre seus sentimentos. E foi quando entendi que, quando mulheres se unem, elas são diminuídas e têm seus sentimentos diminuídos Rupi Kaur, escritora e poetisa

Seu mais recente livro, "Healing Through Words" ("curando pelas palavras", ainda sem edição no Brasil) foi lançado em julho. Rupi Kapur segue com a turnê mundial pelos Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália e Singapura.