Outubro Rosa: 'Peruca devolve autoestima e vida social'
"Descobri o câncer em fevereiro deste ano e fiquei três meses fugindo do espelho para não me ver sem cabelo. Hoje, com peruca, até esqueço que sou careca", conta a arquiteta Veridiana de Souza Carvalho, 50, em tratamento contra o câncer de mama.
Por causa das sessões de quimioterapia, Veridiana perdeu os longos fios cacheados em maio último, e com eles a autoestima também foi embora. Deixou de sair, de se cuidar. Até conhecer o trabalho da Cabelegria, uma ONG que recebe cerca de 10 mil doações de cabelos por mês, confecciona e distribui gratuitamente perucas a quem tem problemas capilares —uma simples custa em média R$ 4 mil. Veridiana escolheu uma parecida com seu cabelo natural.
"Parece que devolvem a sua autoestima, porque no começo você fica em choque com o diagnóstico, e vem a depressão. Quando me vi careca, achei minha cabeça desconectada do meu corpo e não a aceitei. Hoje vejo até mais resultado no tratamento e estou muito disposta", disse a Universa a moradora de Jabaquara, zona sul de São Paulo.
Mais que autoestima
Era 2013 quando a designer gráfica Mariana Robrahn e a publicitária Mylene Duarte procuraram por São Paulo algum local confiável que recebesse doação de cabelos, mas não encontraram nenhum espaço acolhedor ou confiável. Decidiram elas mesmas fazerem todo o processo, e para isso fizeram uma campanha de doação nas redes sociais num 17 de outubro, mês de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama.
"Para nossa surpresa, em menos de um mês a gente tinha mais de mil doações de cabelo, e começaram a cobrar para onde levaríamos o material, mas não encontramos um local específico que fizesse a confecção e entrega das perucas. O que achamos foram locais que trocavam cabelo humano por perucas sintéticas ou que vendiam os fios e usavam o dinheiro com tratamento das pacientes, então decidimos fazer todo o processo, desde a captação até a confecção e entrega dessas perucas", conta Mariana.
Além de doação de perucas a quem tem qualquer patologia que provoque a queda do cabelo, ou mesmo mulheres escalpeladas e queimadas, a ONG também troca e faz manutenção da peruca, caso precise. Para receber o material, basta se cadastrar e apresentar laudo médico.
A maior procura fica entre adolescentes e mulheres, porque é nessa faixa etária, explica Mariana, que há uma preocupação maior com o espelho, conforme apontou Veridiana:
"As crianças não sentem tanta falta do cabelo, mas no início da adolescência a autoestima conta demais. Temos muitas jovens que param de ir à escola, e também mulheres que deixam de sair, então muitas vezes a gente não devolve só a autoestima para a paciente, mas a vida social."
Após pegar sua peruca, por exemplo, Veridiana foi direto ao mercado.
"O que mata é a maneira como as pessoas olham para você, e querem identificar o que que está acontecendo, mas se estou de peruca ninguém percebe. Já fui à missa, ao shopping, tomo sol na piscina do prédio e vou à academia. Às vezes nem percebo que estou de peruca. Me pego sentada pensando em fazer uma escova e aí lembro que não tenho cabelo", ela ri.
Para a confecção de uma peruca simples é necessário 20 centímetros de 3 a 6 cabelos de pessoas diferentes. A ONG recebe doações via Correios ou pessoalmente.
"Ia vender, mas menina sem cabelo me emocionou"
A química Caroline Brambilla, 27, foi uma das colaboradoras da ONG. Em 2018 ela passou por um processo de transição capilar e doou os longos fios para o Hospital Nove de Julho, no centro de São Paulo. Mas conta que não se sentiu de fato ajudando uma paciente, e quando o cabelo cresceu novamente, conheceu a Cabelegria através de amigos em comum e resolveu doar para a ONG.
"Na época meus pais estavam com problemas financeiros e pensei em vender o cabelo, que é ruivo. Quando estava a caminho do salão para cortar, sentou ao meu lado, no metrô, uma menina sem cabelo, sobrancelha e cílios, e aquilo me tocou muito. Ela deveria ter no máximo 16 anos, então naquele momento resolvi doar", Caroline conta.
"Quando entrei no espaço delas, chegou uma mulher precisando de doação, e fiquei emocionada de conhecer todo o processo"
E é esse tipo de acolhimento que traz mais confiança ao tratamento de Veridiana, ela endossa.
"Eu tenho um processo giganteainda pela frente, uma cirurgia, mas estou muito mais confiante, sentindo mais o efeito do tratamento", conclui.
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