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Combate à fome e pautas femininas: o que esperar da Janja primeira-dama?

Camila Brandalise

De Universa, em São Paulo

30/10/2022 19h53

O cargo de primeira-dama é lembrado pela atuação das mulheres que o ocupam em ações de assistência social. Quem inaugurou isso foi Darcy Vargas, mulher de Getúlio Vargas, em 1942, quando criou a LBA (Legião Brasileira de Assistência). O objetivo era "promover a proteção à maternidade, à infância e à velhice, o incentivo à educação e a atenção à saúde e à habitação popular".

Com o resultado da eleição de Lula (PT) neste domingo (30), a próxima a ocupar esse cargo é a socióloga Rosângela Silva, a Janja, 56 anos. Entra na vaga de Michelle Bolsonaro, esposa de Jair Bolsonaro (PL), que entre seus legados deixa o programa Pátria Voluntária, criado em 2019 para incentivar doações e estimular o trabalho voluntário em organizações. Michelle também teve sua passagem pelo Planalto marcada por trabalhos voltados para acessibilidade de pessoas surdas.

A mulher que ocupa o cargo de primeira-dama não ganha salário nem precisa cumprir obrigações oficiais como o marido. Mas, além de atuar no trabalho social, costuma acompanhar o presidente em eventos. Janja, porém, já disse que quer "ressignificar" a função. Apesar de não cravar quais serão seus projetos, deu algumas pistas ao longo da campanha sobre o caminho que deverá seguir. Leia abaixo:


Combate à fome

Nos comícios em que participou com Lula, Janja falou mais de uma vez sobre querer voltar seus esforços para combater a fome no país. Ela usa um termo específico, segurança alimentar, que diz respeito a um trabalho governamental visando garantir a alimentação do povo de maneira contínua, com programas e políticas públicas específicas.

"Se eu puder contribuir em alguma coisa nessa campanha, nesse governo, que se Deus quiser tudo vai dar certo, vai ser justamente na questão da segurança alimentar voltada para as mulheres", declarou ela em abril, durante um encontro com eleitores no bairro da Brasilândia, em São Paulo.

Rosângela da Silva, a Janja - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
Petista desde 1983, a socióloga começou o relacionamento com Lula em 2019. Os dois se casaram em maio de 2022
Imagem: Ricardo Stuckert

Segundo Janja, "a cara da fome do Brasil é a cara das mulheres", já que é a população feminina que ocupa a linha de frente no cuidado com a família e na alimentação com os filhos.

Carinho pela pauta das mulheres

A próxima primeira-dama disse que tem "um carinho muito especial pela pauta das mulheres". Além do tema da segurança alimentar, deve agir também pela garantia de direitos e combate à violência.

Janja chegou a ser apontada como a principal responsável pela inclusão de temas ligados às mulheres no plano de governo de Lula.

No documento, o presidenciável cita o investimento em programas de proteção a vítimas de violência doméstica, a mulheres negras e a população LGBTQIA+. Também cita o fortalecimento do SUS para o atendimento da população feminina.


Sustentabilidade

O foco de Janja no tema da segurança alimentar se estende, segundo ela, a todo o sistema de produção de alimentos. Ela tem se aproximado de ativistas da área, como Bela Gil, de quem é amiga, e se posiciona sobre a importância de cultivos mais sustentáveis.

A área também tem a ver com a carreira dela: ela tem MBA em Gestão e Sustentabilidade e trabalhou na hidrelétrica Itaipu Binacional por 15 anos e, foi coordenadora de programas voltados ao desenvolvimento sustentável.

Causa animal

Janja também é apontada como a responsável por atrair os olhos do presidente para a causa animal. Em evento realizado pela candidata à deputada federal do Distrito Federal Vanessa Negrini (PT), Lula se encontrou com movimentos sociais pela libertação animal e dialogou com ativistas e coletivos conhecidos, como o Vegano da Periferia e Luisa Mell.

Quem é Janja

Nascida dia 27 de agosto de 1966, em União da Vitória, Paraná e formada em ciências sociais pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Janja também se especializou em História e Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável. Há 19 anos, trabalha na Itaipu Binacional, onde desenvolveu o projeto de Desenvolvimento Sustentável no Oeste do Paraná, e também foi assessora de comunicação e relações institucionais na Eletrobrás por quase quatro anos.

Janja é filiada ao PT desde 1983, e fez parte da vigília que acompanhou os 580 dias em que Lula ficou preso em Curitiba. Apesar de estarem juntos desde 2018, ano da condenação de Lula, a primeira aparição pública do casal só aconteceu em 2019, quando o petista foi colocado em liberdade. Ela e o presidente se casaram em maio deste ano, em uma cerimônia reservada.