Mulher parada na estrada por atos dos caminhoneiros no RJ: "Pedras e fogo"
Natural de São Paulo, a assistente de direção Alice*, 35, mora no Rio de Janeiro há um ano por causa de um trabalho temporário e acabou não transferindo o título de eleitor. Para votar no segundo turno das eleições, foi do Rio a São Paulo na manhã de domingo (30), junto com a mãe, de 65 anos, e as filhas de 8 e 5.
Ainda ontem à noite, ela e família pegaram um ônibus na estação Hebraica-Rebouças, em São Paulo, para retornar ao trabalho. Mas está desde às 4 da manhã está presa na estrada por causa do bloqueio feito por caminhoneiros bolsonaristas na Via Dutra. "Peguei o ônibus a meia-noite e deveria estar no trabalho às 9h, mas estamos parados aqui há mais de 6 horas", conta Alice, para Universa.
Segundo ela, a viagem correu bem até que, por volta das 4 da manhã, quando o ônibus fez uma parada no Graal de Queluz, cidade que fica a cerca de 220 km de São Paulo. "Dali, não conseguimos mais sair. Tem uma barricada em Barra Mansa (RJ) que impede todos os tipos de transportes de circularem", afirma.
O motorista do ônibus que estava com a família decidiu não seguir viagem, por questão de segurança. "Paramos antes de chegar nesse ambiente violento, mas sabemos que um ônibus foi queimado e outro apedrejado perto das barricadas", diz.
Por enquanto, não há uma previsão de quando o ônibus seguirá viagem. "Algumas pessoas estão assustadas, mas muitas apoiam a ação". Segundo a Alice, ela, a mãe e as filhas estão assustadas. "Minha mãe está aflita e minha filha mais nova está com um pouco de medo. A mais velha pediu para trocar a camiseta antes de sair do ônibus, já que a roupa tinha uma frase contra a morte das mulheres por racismo."
A empresa de ônibus consegue dar uma previsão do retorno da viagem. O conforto no local também é limitado. "Pedi comida na área dos caminhoneiros. Lá, um pão na chapa custa R$ 3,50 e não R$ 6,50, como no local dos viajantes. Não está muito confortável e tem poucas tomadas para carregar o celular. O ônibus segue desligado", disse Alice.
Caminhoneiros bolsonaristas fecham os dois sentidos da Via Dutra no RJ
Caminhoneiros bolsonaristas fecharam os dois sentidos da Via Dutra (RJ) no início da madrugada desta segunda-feira (31). Eles contestam o resultado das eleições após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno.
A via é a principal ligação rodoviária entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram interdições na BR-116, altura de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro. O UOL confirmou a informação com a CCR RioSP, que administra a rodovia.
Nas redes sociais, motoristas relatam que estão parados há pelo menos quatro horas. Há lentidão nos dois sentidos da via, segundo a CCR RioSP. Alguns motoristas usaram seus próprios caminhões de carga para bloquear as vias. Em outros lugares, pneus também foram queimados.
Há manifestações em outros estados. Em Mato Grosso, há seis pontos de bloqueio, 18 em Santa Catarina e pelo menos seis no Rio Grande do Sul.
Áudios dizem: "Nem PRF passa"
Desde 2017, Alice está infiltrada em alguns grupos bolsonaristas no WhatsApp com alguns amigos. A princípio, a ideia era virar votos, mas após a eleição de Bolsonaro ela se manteve nas discussões para entender o comportamento desse público.
Universa teve acesso a alguns áudios que estão sendo distribuídos nesses grupos entre os caminhoneiros. Com palavras de ordem e ameaçando parar o Brasil, as mensagens dizem como o grupo deve se comportar nas estradas - dizendo, inclusive, que polícia não é serviço essencial.
Nesses áudios é possível ouvir ameças: "O negócio é hoje, chovendo, para mostrar que não temos medo de chuva, que não somos ladrões e que o pau vai torar. Concordo em deixar a ambulância passar que é serviço essencial. Polícia não será essencial, porque de qualquer jeito ele quer desmilitarizar, então o roubo vai continuar igual. É só ambulância que passa e o pau torando", diz uma das gravações.
Em outro, o homem diz confiar em Bolsonaro e "e que isso não vai ficar assim". "Vai dar merda ainda. Aqui em Joinville estão trancando, não passa mais ninguém. Isso vai dar uma guerra civil", finalizou. Nas mensagens, a ordem é não deixar a PRF passar pelas estradas. "Vamos nos posicionar. Daqui a pouco é só avançar 2 metros para frente os caminhões, dos dois lados, tchau e obrigado. Nem a PRF passa. Trava tudo."
* Nome trocado a pedida da entrevistada
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