Veterinário a distância: elas criaram 1ª startup de telemedicina para pets
Quem trabalha na área da saúde sabe o quanto é difícil atender às inúmeras solicitações dos pacientes, que podem chegar a qualquer hora do dia. O problema é que nem sempre os profissionais conseguem atender a todas as demandas. Assim como no atendimento às pessoas, no mundo pet acontece o mesmo. "Há uma pressão para responder prontamente, mas, com a rotina corrida de consultas e cirurgias, isso nem sempre é possível", diz a veterinária baiana Ana Gabriela Lima, 49 anos.
Pensando em mudar esse cenário, ela criou a Dr. Mep, primeira startup de telemedicina para pets do Brasil. Segundo Gabriela, esse pensamento rondava a sua cabeça há algum tempo e, assim que ela soube da regulamentação do serviço pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, no final de 2021, resolveu tirar o negócio do papel.
Assim, ao lado de outra baiana, Lara Judith Martins, 19, e da paulistana Nathália Lubini, 30, fundou a empresa. "Eu tinha o sonho e a constatação do problema; a Nathy, a experiência no mundo das startups; e a Lara, o perfil de marketing. Unimos nossas competências para a criação do negócio", explica.
Além de pesquisas para definir o público-alvo e o que os veterinários precisariam para os atendimentos, o trio apostou na criação de um MVP (sigla em inglês para Produto Mínimo Viável) para validar a ideia e as funcionalidades que deveriam fazer parte da plataforma.
"No início usamos a rede de pacientes da Gabriela para testar o serviço, como um bônus de atendimento", diz Nathália. Em paralelo, elas buscaram profissionais para fazer parte da Dr. Mep, sempre apostando na diversidade de perfis, ou seja, veterinários clínicos, cardiologistas, oftalmologistas e demais especialidades. Esse trabalho foi feito pelo Instagram e em feiras e eventos da área. "Nosso maior medo era a aceitação dos profissionais e dos tutores. Mas todos receberam bem, pois sentiam falta de uma ferramenta desse tipo", diz Nathália.
Colaboração e parcerias para criação da empresa
De acordo com Gabriela, o trabalho foi de muita colaboração, tanto com os profissionais da área quanto com outras startups. "Unimos nossas forças e todas as pontas de um atendimento de qualidade", diz.
Uma parceria fundamental é com a Capri Venture, que atua no ecossistema pet e tem como idealizadora a Anilhas Capri, parceria da FCJ Venture Builder, multinacional pioneira e líder no segmento de venture builder na América Latina. A Capri auxiliou em diversas áreas —desde o planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos, passando por marketing, administração e setor comercial, até a construção de um networking com investidores que buscam oportunidades em pet techs.
Hoje, a empresa atua tanto no B2B quanto no B2C, e tem o plano de expandir as parcerias a hospitais, clínicas e convênios médicos, e já conta com mais de 300 veterinários parceiros em áreas como cardiologia, dermatologia e endocrinologia.
Para 2023, a expectativa é alcançar todas as regiões do Brasil e internacionalizar ainda mais a marca, seja para veterinários que atendem de forma autônoma em outros países, seja para players que queiram utilizar a tecnologia para ofertar a telemedicina aos seus clientes. Além disso, a ideia é ultrapassar os R$ 500 mil em faturamento, atingir mais de cinco mil tutores cadastrados e cerca de 100 clínicas e hospitais parceiros. "Já temos veterinários no México, Itália e Canadá. São profissionais brasileiros que moram nesses locais e atendem tutores que também são do Brasil", conta.
O sistema utiliza tecnologia de ponta para fazer a conexão entre uma base de profissionais e os tutores. A intenção é encurtar caminhos para os diagnósticos, valorizar o tempo dos agentes envolvidos no atendimento e trazer conforto para os pacientes. Gabriela explica que há dois tipos de atendimento: com hora marcada (horário comercial) e de emergência (que funciona 24 horas por dia).
"Para que as consultas sejam ainda mais efetivas, contamos com a chamada teleinterconsulta, método que estabelece um processo de comunicação entre dois profissionais de saúde, permitindo a troca de informações para tratar do mesmo paciente", explica.
'Queremos fazer a diferença na vida dos animais e dos tutores'
A empresa tem crescido em ritmo acelerado, mas as empreendedoras ressaltam que o caminho não é fácil e as dificuldades existem, como em todo novo negócio. Lidar com o preconceito, tanto de gênero e raça, quanto do modelo de negócio em si, é um deles. "Sou mulher, nordestina e negra. Imagina o tanto de preconceito que já enfrentei. Mas sempre fui movida a desafios e pensar em desistir nunca fez parte dos meus pensamentos. Já faltou dinheiro para alimentação e transporte, mas sempre dei um jeito", diz.
Além disso, ela ressalta que é inquieta e gosta de temas desafiadores. "Gosto de 'disruptar' o setor. Além de apostar na telemedicina para pets, que está começando e sobre o qual ainda há desconfiança, faço mestrado em cannabis medicinal para animais", diz.
Por outro lado, Nathália ressalta a dificuldade de equilibrar maternidade e empresa. "Tenho três filhos, um deles com deficiência, e conciliar os papéis é muito difícil", diz.
Apesar das dificuldades, elas não se intimidam, pois acreditam que não são diferentes de ninguém por causa do sexo ou da cor da pele. "Somos mulheres fortes e capazes e queremos fazer a diferença na vida dos animais e de seus tutores", diz. "No começo, chegaram a dizer que não daria certo: 'Ah, mas só tem uma consulta marcada por enquanto'. Tudo bem, melhor do que não ter nenhuma, né? É assim que se começa e sempre acreditamos no propósito da empresa", completa Gabriela.
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