Mãe de 50 e abuso sexual: série mostra os mistérios do caso Flordelis
A três dias do julgamento da cantora, pastora e ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, 61, o Globoplay lança, nesta sexta-feira (4), os dois primeiros episódios de uma série documental que reconta sua história. Ela é acusada de mandar matar o marido, Anderson do Carmo —ele foi assassinado a tiros na porta de casa, em Niterói (RJ), em junho de 2019.
Sem imunidade parlamentar, a carioca está presa preventivamente desde 13 de agosto do ano passado. Ela havia sido cassada dias antes do cargo na Câmara dos Deputados por 437 votos favoráveis.
A série "Flordelis: Questiona ou Adora" é uma parceria do canal de streaming com o jornal "O Globo". Serão seis capítulos roteirizados e dirigidos pela cineasta Mariana Jaspe.
O documentário começa com os fatos que ocorreram na data do assassinato de Anderson. A partir disso, narra a trajetória de Flordelis, desde a juventude na favela do Jacarezinho, no Rio, à fama como cantora gospel e liderança evangélica aliada ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
55 filhos a levaram aos holofotes
Flordelis e Anderson, que se casaram em 1994, tinham 55 filhos — entre biológicos, adotados e socioafetivos. Antes mesmo do sucesso nacional como liderança evangélica, ela ganhou os holofotes da mídia pelo seu altruísmo ao abrigar dezenas de crianças, o que era visto como uma alternativa às carências do Estado.
O título "Questiona ou Adora" é inspirado no título de um de seus CDs como cantora gospel, que tem trajetória marcada por crimes e fatos pitorescos. Relembre:
Ex-deputada mentia ao dizer que adotou crianças após chacina
Flordelis sempre contava em entrevistas que 37 crianças, entre 55 filhos, foram adotadas após uma chacina na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1994.
O escritor e jornalista Ulisses Campbell afirma, no entanto, que o relato é uma mentira. Autor de "Flordelis: A Pastora do Diabo", ele descobriu que não houve registro de chacina na data relatada pela pastora. Nas pesquisas para seu livro, ele encontrou apenas a notícia de uma tentativa de assassinato contra um sobrevivente da chacina da Candelária, que ocorreu em 1993, também no Rio.
De acordo com o autor, havia uma rotatividade entre as mais de 50 crianças que frequentavam a casa de Flordelis. Ela encontrava mães altamente debilitadas, nas ruas, levava a criança, dizendo que era um "missão", mas tinha como meta completar um número e capitalizar em cima disso, já que a pastora utilizava o slogan "mãe de 50 filhos".
A pesquisa do livro sustenta que ela era bem-intencionada no início do seu trabalho social, quando começou a ajudar crianças. Nessa época, não passavam de 14. Mas isso mudou ao conhecer Anderson do Carmo, em 1991. Ele começou namorando Simone, filha biológica da Flordelis, mas passou a transar com filha e mãe.
'Casa era uma congregação diabólica'
Dentro de casa de Flordelis e Anderson, diz Campbell, a louvação era para o demônio. Ele diz que o casal seguia o livro "São Cipriano, o Bruxo" (ed. Pallas). A obra traz instruções para feitiços, magias e invocações.
"A casa era uma seita, uma congregação diabólica. Ela seguia ritos desse livro. Havia um ritual de purificação em que ela tinha que transar com filhos, se banhar com o esperma deles, sempre no cunho macabro sexual", afirmou o escritor em entrevista para Universa.
Anderson estuprava crianças
Segundo depoimentos à Justiça, Anderson dizia que trocava de energia entre as pessoas, mas o que de fato aconteciam eram estupros contra os filhos.
Morto aos 42 anos com 30 tiros, Anderson cometia abusos contra a esposa, de quem controlava todas as ações e subtraía parte do faturamento dela como artista, e contra os filhos —principalmente as filhas que, segundo relatos, eram estupradas, com força e violência, por ele. "Entre as vítimas há inclusive uma criança de 9 anos", afirma o autor de "Pastora do Diabo".
Pelas práticas abusivas recorrentes que surgiu o plano para matá-lo, segundo denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro. Flordelis é acusada de ter sido a mandante.
Defesa sustenta que Flordelis não participava de abusos
O advogado Rodrigo Faucz afirma que Flordelis não participava dos abusos sexuais cometidos contra os filhos, que seriam praticados apenas por Anderson. Em entrevista a Universa em abril deste ano, Faucz disse que todas as acusações feitas contra sua cliente são falsas. Ele diz que uma das filhas biológicas da cliente, Simone, já admitiu ter sido a mandante do assassinato de Anderson, e não a mãe.
Em abril deste ano, quatro pessoas foram condenadas pelo crime: o filho biológico da ex-deputada, Adriano dos Santos Rodrigues; o filho afetivo Carlos Ubiraci Francisco da Silva; o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia. Eles foram condenados por associação criminosa e estão em liberdade condicional.
Já em novembro passado, Flávio dos Santos Rodrigues, também filho biológico da pastora, foi condenado a 29 anos e três meses por ter sido o autor dos disparos que mataram Anderson. Lucas, adotivo, recebeu pena de sete anos e meio por ter comprado a arma.
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