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OPINIÃO

Presença de Ana Thais na cobertura da Copa é histórica para as mulheres

Anita Efraim

Colaboração para Universa, em São Paulo

07/11/2022 14h21

O coração de quem gosta de futebol bateu mais rápido hoje no final da manhã quando surgiu a imagem de Tite ao lado da comissão técnica, pronto para anunciar quais seriam os 26 jogadores que viajarão para o Qatar para tentar trazer o hexa.

Ao lado de Tite, na sede da CBF, estavam outros seis homens. A apresentação do evento era feita também por um homem. Para quem assistiu à convocação na TV Globo, no entanto, uma pessoa destoava do cenário integralmente masculino: a comentarista Ana Thais Matos, ao lado de Galvão Bueno e de Júnior.

Ver a jornalista comentando as escolhas do treinador da Seleção Brasileira é o primeiro passo para alcançarmos um momento histórico, com a primeira mulher comentando os jogos do Brasil na Copa do Mundo na TV aberta. Só de escrever, dá um arrepio.

A primeira Copa transmitida por emissoras brasileiras de televisão foi a de 1970. Demoramos, enquanto sociedade, 52 anos para ver uma mulher comentando os jogos da seleção nacional. É importante ressaltar o atraso, mas também celebrar as conquistas. O espaço conquistado por Ana Thais Matos merece ser reverenciado e admirado - não só por mulheres, mas por todos que tem a capacidade de entender que o futebol é para todos.

Ver a comentarista na TV Globo na transmissão da convocação é o aquecimento para vermos a história acontecendo diante dos nossos olhos.

A resistência no meio é difícil. É preciso aprender a lidar com o ódio, com a inveja, com as inúmeras tentativas de boicote - tudo isso potencializado pelas redes sociais. E, claro, é sempre preciso se preparar com excelência, afinal, qualquer deslize é motivo para tirar espaço de uma mulher no meio do futebol. Bem avaliada pelo público e presente nas principais transmissões, Ana Thais mostrou capacidade para chegar onde chegou. Como diria o próprio Tite: ME-RE-CI-MEN-TO.

Em meio a todos os desafios, vimos Ana Thais e outras pioneiras abrirem portas para tantas outras mulheres chegarem. Só na TV Globo, temos Renata Mendonça como comentarista e Renata Silveira - primeira mulher a narrar um jogo no canal aberto da emissora - e Nathália Lara como narradoras.

A expectativa é de ver todas as mulheres que irão trabalhar na Copa do Qatar brilhando, porque sabem que é uma oportunidade de ouro e sabem o quanto foi duro chegar até aqui. Mas também porque, se estão onde estão, elas provaram que estão preparadas para esse desafio.

Quando trabalhei na Rádio Globo, parei Ana Thais no corredor na primeira vez que a vi na redação que compartilhamos, lá em 2017. Senti vontade de dizer a ela que a admirava, era uma das poucas referências que eu, uma jovem jornalista que gostava tanto de futebol, tinha no esporte.

Tenho certeza que, hoje, muitas outras meninas gostariam de agradecer a Ana Thais por ter resistido e seguido em frente. Outras jornalistas, repórteres, comentaristas e narradoras vão colher os frutos do que ela plantou.

Como a própria Ana Thais disse, essa é uma conquista "coletiva e também individual. O mais importante e saber que para trás nós não vamos mais andar". Não aceitaremos mais Copas do Mundo sem mulheres, seja comentando, narrando, reportando. Foram 52 anos esperando, e o momento chegou.