Bissexuais e casamento aberto: quais as regras para funcionar?
O ator Igor Rickli, 38, e a cantora Aline Wirley, 40, assumiram publicamente que são bissexuais e que vivem um casamento aberto. Juntos há sete anos, o casal publicou um relato no Instagram no qual descreveram a relação como "sincera, aberta e respeitosa", e afirmaram entender o sexo "pelo viés da saúde e não do erótico".
"Curamos um ao outro na nossa dualidade. Trabalhamos para manifestar o sagrado masculino e feminino em harmonia em cada um de nós. Nos reconhecemos como parceiros e não como posse um do outro [...] Evocamos o amor, e não o romântico. O REAL, que cuida na dor, que limpa a ferida, que nutre de saúde e que se apaixona pela vida", diz a publicação.
Em um contexto cultural no qual a monogamia é tida como regra, como fazer uma relação aberta dar certo? A sexóloga Lelah Monteiro ressalta a importância de estabelecer alguns pilares quando a decisão de abrir a relação for tomada pelo casal. O primeiro deles é a clareza das intenções.
"É importante que desse combinado cada um entenda o que o outro está querendo. Às vezes um imagina que a relação será de uma forma, mas não deixa claro, e na hora da emoção acha que tudo está valendo", afirma Lelah.
Depois de esclarecidas as vontades, o próximo passo é entender se há maturidade, tanto quanto indivíduo como também enquanto casal, para lidar com os desdobramentos que a não-monogamia pode ter: ciúmes, envolvimento afetivo com as outras partes e insegurança.
"Vejo muito na terapia a pessoa falar que viu o parceiro ter o melhor orgasmo da vida com o outro e acabar rolando ciúmes. Por isso é importante conversar e deixar definido desde o começo esse tipo de situação, porque, se isso acontecer, o casal precisa entender se vai conseguir conversar numa boa, sem terminar a relação", diz a sexóloga.
Também é necessário determinar os limites que cada um pode avançar no relacionamento com as outras pessoas que farão parte do contexto do casal, como a possibilidade de manter contato ou mesmo de se envolver afetivamente. Nesse caso, é preciso estabelecer algumas regras.
"Limite é uma coisa tão pessoal e delicada, mas é um lugar de maturidade nos relacionamentos. Então é quase que colocar no papel como cada um gostaria que fosse a relação. Se na sexta-feira à noite, por exemplo, é o dia que o casal sai juntos. Se vão precisar contar sempre que se relacionarem com outra pessoa, ou mesmo se viajarem juntos, todos vão dormir na mesma cama? Vão poder andar de mãos dadas na rua com os outros parceiros?", afirma Lelah.
Ainda que os dois decidam abrir a relação — em consenso sobre as vontades e limites de cada um —, colocar em vista a possibilidade de fechar a relação novamente também deve ser uma questão levantada, segundo a sexóloga, até mesmo para entender como a confiança será gerida nessa volta. Afinal, a não-monogamia não está associada à infidelidade.
Além disso, Lelah afirma que é preciso ter cuidado para que a perspectiva de um relacionamento aberto não seja usada para curar traumas anteriores àquela relação.
"Às vezes a pessoa sofreu muito por ciúmes obsessivo, seja dela mesmo ou do outro parceiro, e pensa em abrir a relação para não sofrer, mas não fica claro se ela vai dar conta desse relacionamento, então isso também precisa ser abordado de forma honesta", afirma a especialista.
Bissexualidade x casamento
É importante entender que a bissexualidade é uma orientação sexual e não está atrelada à não-monogamia, muito menos à ideia de ter vários parceiros sexuais simultaneamente. A maturidade do casal e a confiança também devem estar em harmonia quando a sexualidade for colocada em questão, segundo a sexóloga.
"Tenho visto muitas mulheres ditas em relacionamentos heteronormativos, que começam ter atração por mulheres, mas não falam porque acham que isso vai ser um fetiche do companheiro e elas querem experimentar sozinhas uma relação com outra mulher, então isso também precisa ficar claro se esse casal decidir abrir a relação", afirma a sexóloga.
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