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Meu Cabelo Tem História

Ana Paula Xongani: 'Mudar o cabelo é parte importante da cultura preta'

Ana Bardella

Colaboração para Universa, em São Paulo

09/11/2022 11h00

A primeira vez que Ana Paula Xongani —apresentadora e influenciadora —admirou uma mulher usando dreadlocks foi aos 15 anos, quando pesquisou no Google o nome da cantora norte-americana Lauryn Hill. Durante as gravações do programa "Meu Cabelo Tem História", ela recordou o momento.

"Um amigo me parou no intervalo da escola e disse que eu me parecia com ela. Mais tarde, em casa, pesquisei para saber quem era. Foi a primeira vez que vi a imagem de uma mulher preta, escura e com o cabelo crespo em um lugar de poder, de beleza. Me apaixonei porque foi uma identificação direta. A sensação ficou até hoje gravada em mim", conta.

Anos depois, os dreads entraram na sua vida para valer. Ao terminar a graduação em design de interiores, ela se mudou para Moçambique, a fim de continuar suas pesquisas sobre a moda e o design africanos. "Lá, eu vi que o cabelo endredado poderia estar em diversos lugares do dia a dia de uma mulher. Vi noivas, senhorinhas, executivas indo para o trabalho: todas usando dreads. Pensei: 'Ok, existe essa possibilidade'. E fiz também", relata.

A paixão foi tão grande que Xongani permaneceu com os cabelos assim por 13 anos. "Considero um vetor de muitas conquistas. Foi através dele que comecei a falar sobre cabelo nas redes sociais e que tinha algo de novo para comunicar. Foi com ele que tive uma filha, que me tornei a primeira embaixadora de dreads de uma marca de cuidados com o cabelo no Brasil", resume.

"Mudar o cabelo é parte importante da cultura preta"

Desde pequena, ela foi incentivada pela mãe a explorar as possibilidades do cabelo e construir sua autoestima a partir disso. "Sou filha de pais ativistas, de uma mãe muito consciente. Sempre fui muito inventiva: queria o cabelo da moda, que estava nas revistas —e tudo ela dava um jeito de realizar com ele natural. Nunca alisei porque não precisava. Todos os meus desejos capilares foram realizados com ele crespo", recorda.

A vontade de mudar permaneceu também na vida adulta. Depois da fase endredada, Ana Paula decidiu raspar a cabeça. Então, passou pelo período de crescimento dos fios e hoje transita entre o black e as tranças. "Eu mudo quase que semanalmente. Gosto de me mostrar múltipla. E é impressionante a capacidade do cabelo crespo de mudar. Ele vai do black power ao cacho perfeito no mesmo dia", analisa.

A influenciadora também destaca que grande parte das mulheres negras aprendem a mexer no cabelo por influência de amigas ou da família. "Uma cuida do cabelo da outra. Então mudar não é algo estranho, é cotidiano, tradicional", aponta.

"É muito forte saber que inspirei a transformação em alguém"

Ana Paula Xongani considera o cabelo raspado a maior loucura capilar que já cometeu - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Ana Paula Xongani considera o cabelo raspado a maior loucura capilar que já cometeu
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Nos bastidores da gravação, Xongani comenta que já recebeu diversos vídeos emocionantes de mulheres que se inspiraram nela para raspar a cabeça ou fazer dreads. "São imagens de arrepiar. É muito impactante saber que você inspirou uma transformação que a pessoa vai carregar diariamente. Ser uma referência é algo muito forte, muito potente", garante.

"Pomada é igual carteira. Sempre tenho uma bolsa"

Alguns dos itens preferidos da influenciadora nos cuidados com o cabelo são as pomadas e gelatinas. "Sempre tenho um dos dois comigo porque sei da capacidade que eles têm de transformar o visual. Sabe aquela coisa de sair do trabalho e depois ir direto para outro lugar? Com um deles em mãos dá pra fazer isso tranquilamente", diz.

E no topo da sua lista de penteados preferidos, está o garfado. "Gosto de dividir no meio, passar pomada e colocar um elástico. Acho que isso faz toda diferença".

Outro truque de finalização que ela indica é para os penteados que deixam uma parte do cabelo esticada, bem rente ao couro cabeludo. "É imprescindível passar uma pomada e pegar um lenço, de preferência de cetim. Depois, o segredo é colocá-lo sobre a parte que você quer que fique esticada e passar jatos de secador quente sobre o pano. Com isso, o penteado dura o dia inteiro", garante.

"Nos dias em que o cabelo não está legal, meu conselho é garfar"

Conselhos para um bad hair day? Xongani tem também. "Garfa o seu cabelo e fica em paz. Em alguns dias, eu costumo até deixar o garfo no cabelo: isso é uma comunicação estética que diz: 'Estou assim porque eu quero' e ainda facilita para retocar durante o dia", conta.

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