'Não conta pra sua mãe': como lidar com quem ensina algo errado a seu filho
A convivência familiar nem sempre é das mais harmônicas e, na maioria das vezes, os conflitos podem acontecer graças a parentes intrometidos que adoram dar pitacos ou interferir onde não são chamados. O cenário pode ficar ainda pior quando há filhos na jogada. Afinal, como agir?
"Tenho uma filha de 4 anos e sempre estou lidando com a influência e as opiniões da família com relação ao meu criar. Certa vez, flagrei o avô falando para ela não me contar que fez algo porque eu iria ficar brava. Numa outra ocasião, eles estavam lhe ensinando a esconder doces para comer na hora que quisesse, já que eu faço um controle maior da ingestão de açúcar aqui em casa", conta a comunicadora Amanda Barrocas, 33 anos.
Segundo o psicólogo Ronaldo Rangel Cruz, coordenador do curso de psicologia da Estácio Curitiba, impedir situações como essa é algo praticamente impossível. Crianças convivem com tios, avós e outros parentes que acabam dando sugestões e orientações muitas vezes diferentes das oferecidas pelos pais, além dos próprios exemplos comportamentais que esses adultos dão.
"No início, tentava lidar e equilibrar os 'pitacos' e atitudes, como quando liberavam o uso desenfreado de telas ou recorriam àquela expressão 'eu dei e não morreu'. Agora, me posiciono mais e tento explicar os impactos diretos que podem acarretar na vida da minha filha, como omitir e não contar para nós, pais, quando algo verdadeiramente sério acontecer", diz Amanda.
Porém, apesar de esse contexto ser bastante incômodo, o psicólogo ressalta ser importante considerar, primeiramente, se aquilo que os outros estão ensinando à criança é, de fato, errado ou os pais apenas não concordam por ser algo que lhes desagrada.
"Se for algo apenas diferente do modo de pensar, é possível apresentar ou orientar aos filhos que aquela é a forma do determinado parente agir ou pensar, mas que existem outras. Assim, mesmo discordando deles, é importante não desqualificá-los perante as crianças", diz o profissional.
Mas se o ensinamento em questão for mesmo algo errado, a maneira de proceder é outra. De acordo com a educadora parental Aline de Rosa, especialista em desenvolvimento infantil integrativo, é essencial que, antes de tudo, os pais estabeleçam entre si sobre o que é certo ou errado para eles.
"A depender do que foi ensinado, os pais podem retirar a criança da situação ou, de forma firme e gentil, explicar para o adulto envolvido que eles tratam o assunto de outra forma", afirma a profissional.
No entanto, Aline reforça o mesmo ponto exposto pelo coordenador: não desmentir esses parentes na frente dos filhos. Isso porque, ao dizer para a criança que tal pessoa é mentirosa, ela tende a entender que não pode mais confiar em ninguém.
"Já quando o parente agir errado, do ponto de vista moral, ético ou legal, deve ser apontado para o filho de forma clara e direta, sem deixar dúvidas, É importante para as crianças entenderem desde pequenas a diferença de certo e errado. Valores são construídos; não ocorrem de forma automática", fala Ronaldo.
Filho também tem opinião
Pode acontecer da criança achar que os ensinamentos daquele parente sejam corretos - afinal, o certo e o errado são conceitos muito abstratos para os pequenos. Para cenários assim, a regra básica é os pais investirem desde cedo em uma educação baseada em valores.
"A criança é livre para seguir o caminho que quiser, desde que saiba os motivos pelos quais aquele ensinamento é importante para a família", diz Aline de Rosa. Além disso, a especialista enfatiza a importância do exemplo dos pais. Ou seja, embora ensinar seja importante, adotar o comportamento que está ensinando ao filho é indispensável.
"Se os próprios pais são extremamente coerentes e honestos entre o que falam e como agem, é muito difícil que essa criança maior ou adolescente se distancie dos valores e da moral da família, sobretudo enquanto vivem todos juntos na mesma casa", afirma a profissional.
O diálogo aberto costuma ser uma solução muito apontada por psicólogos para que a educação dos pais prevaleça e, nessa situação, não é diferente. Segundo Ronaldo, o ideal é dialogar com uma linguagem adequada à idade dos filhos, mas sem esconder ou disfarçar partes importantes da conversa.
"É importante que o adolescente respeite as regras básicas e os valores da sua família, o que não significa que ele não tem espaço para ter suas próprias ideias. Isso tem que acontecer em um ambiente de diálogo, de respeito e de escuta ativa entre pais e filhos", diz Aline.
Dicas práticas
Por se tratar de uma situação recorrente e, na maioria das vezes, inevitável, os profissionais advertem sobre ter algumas medidas previamente tomadas. Algumas atitudes capazes de mudar o cenário são:
- Fazer combinados prévios com a criança sobre situações que possam gerar contrariedade;
- Definir, previamente e entre si, como irão com tal episódio;
- Impor limites para algo recorrente, através da educação positiva, controlando o comportamento da criança;
- Negociar limites com os parentes sem "ensiná-los" como agir, solicitando que evitem tal postura ou fala, se inadequada;
- Repreender o parente em casos mais sérios - como incentivo ao consumo de bebida alcoólica ou pegar aquilo que não é seu, por exemplo -, imediata e diretamente e, se possível, sem que os filhos presenciem.
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