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Quiet quitting em relações: eles preferem te deixar 'cozinhando' a terminar

Natália Macedo, 27, passou por uma situação de "Quiet quitting" dos relacionamentos - Acervo pessoal
Natália Macedo, 27, passou por uma situação de 'Quiet quitting' dos relacionamentos Imagem: Acervo pessoal

De Universa, em São Paulo

09/11/2022 04h00

O termo "quiet quitting" ('demissão silenciosa', na tradução livre) ficou famoso recentemente para definir profissionais que fazem o mínimo em seu ambiente de trabalho para serem demitidos. Não demorou muito e a expressão chegou também ao campo dos relacionamentos - nesse caso, para falar de parcerias que param de se esforçar pelo bem da relação, mas não terminam.

O par fica ali cozinhando as crises sem investir para que aquele namoro ou casamento seja duradouro. O termo é novidade, o comportamento não. "Isso costuma acontecer mais com os homens, que tendem a ser a maioria a desistir de uma relação. Eles não terminam e continuam empurrando com a barriga. As mulheres, por exemplo, veem o casamento como uma relação amorosa. Os homens, como uma família. E para eles, romper uma 'família' é mais difícil do que terminar um amor", diz a psicóloga clínica e terapeuta cognitiva Lala Fonseca, que cita um estudo feito em 2017 pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que mostrou que as mulheres são responsáveis pelo pedido de divórcio em 69% das relações heterossexuais.

Segundo a psicóloga Alessandra Augusto, a parceria começa a "quiet quitting" na relação quando para de investir naquilo que o casal tem junto. "Você pode perceber isso acontecendo quando os seus desejos pouco importam para a parceria, quando você não tem lugar de fala dentro dessa relação e está sobrecarregada com os problemas dele", explica. Se você está deixando de fazer algo que gosta para não desagradar seu par é necessário atenção.

A influenciadora digital e jornalista Natália Macedo, 27, passou por essa experiência. Ela teve um relacionamento em duas etapas, uma que era menos séria e outra, dez meses depois, de uma maneira mais sólida. E por mais que seu parceiro tenha insistido para que eles namorassem, de uma hora para outra, ele desistiu da relação. "No início, foi ótimo. Ele realmente mostrava que queria algo sério. Mas brinco que ele dormiu uma pessoa e acordou outra. Do nada, começou a ter atitudes que não condiziam com o relacionamento que tínhamos", lembra.

O namorado, que antes fez questão de que eles tivessem um relacionamento sério, começou a não querer mais vê-la e contar mentiras que ela viria a descobrir apenas meses depois. "Ele falava que ia viajar a trabalho, mas ia com os amigos. Dizia que não podia viajar comigo por empecilhos da família, sugeriu até pegar o dinheiro pago de volta, mas na verdade, foi sem mim. Mentiu até que tinha sofrido um acidente de moto", conta.

Porém, quando Natália confrontava o namorado, ele fugia das conversas. "Fui perdendo a confiança naquele relacionamento, era uma sensação de não conseguir ter paz. Eu cobrava, dizendo que aquilo não estava certo. Mas ele não terminava", relembra.

"Tive que terminar por mensagem"

"Comecei a fazer terapia, porque aquilo estava me deixando ansiosa. Eu não conseguia terminar, me sentia culpada. Trabalhei isso em mim e consegui colocar o fim no relacionamento. Mas não sentamos para conversar. Ele ficava se esquivando, desmarcando... Tive que terminar por mensagem mesmo. Eu sou tranquila, mas hoje em dia qualquer instabilidade que sinto em um parceiro, eu travo", conta Natália.

Não é fácil colocar um ponto final, mas a psicóloga Alessandra Augusto destaca que a pessoa que está incomodada com essa situação precisa ter responsabilidade afetiva com seus próprios sentimentos. "Existem diversas questões que levam a esse comportamento: ser uma relação tóxica, medo de começar algo novo, falta de vontade de conhecer outras pessoas... É preciso se questionar se você não está terminando porque não está pronta para ficar sozinha. Neste caso, acontece uma dependência emocional", questiona a especialista.

Natália percebeu e procurou ajuda, mas muitas mulheres não têm a mesma visão. "Se o outro terminar, você não terá outra alternativa além de aceitar. Então espera que isso seja feito. Algumas mulheres, por exemplo, permanecem no casamento, vivendo uma felicidade parcial, porque colocar um fim naquela relação é muito doloroso", diz Lala.

Quem passa por um 'quiet quitting' nos relacionamentos se depara com uma pessoa que, além de não levar em consideração o que quer, se distancia do outro. "Ele não quer mais conversar, mesmo com seu esforço. A cada tentativa frustrada de falar sobre a relação, começa a faltar esperança de melhora", diz Lala. Segundo ela, muitas pessoas ficam presas em relacionamentos de 20 anos pelos bons dois primeiros anos. Pode ser também que a parceria não queira ser o responsável pela dor do fim.

Natália também sentiu isso em seu relacionamento. "Eu estava incrédula. Afinal, foi ele que pediu para voltar e ter uma relação séria. Eu estava ali no limbo, vendo as coisas acontecerem e sem conseguir terminar também. A relação toda estava nas mãos dele: nos víamos quando ele queria, saímos se ele quisesse... Não tinha o menor esforço da parte dele", contou.

"Esse final pode levar anos e, nesse processo, o outro perde toda a energia. Quem continua tentando, acha que quanto mais investe nessa relação, maiores são as chances de despertar o outro. Mas as mudanças só vêm quando os dois lados querem", diz Alessandra. Para a especialista, é preciso atenção para ver se há equilíbrio no desejo da relação.