40 fraldas e 28 mamadeiras: o dia de mães de gêmeos, trigêmeos e quíntuplos
Mais de 15 horas diárias amamentando, 40 trocas de fraldas por dia e 1h30 dedicada a dar banho. Se ter um filho pequeno em casa já é desafiador, os números mostram que a rotina de desafios das mães e pais de múltiplos é consideravelmente maior.
Priscila Sandri, de São Paulo, já era mãe de Catarina, na época com menos de 2 anos, quando, de forma natural, engravidou de quádruplos. Já a bióloga de Brasília Ana Cláudia Ferreira foi presenteada com a gravidez de múltiplos duas vezes. Ambas dividem a rotina de criação agitada com os respectivos maridos. Já Bruna Scarabelli, 31 anos, que mora nos Estados Unidos, encara um desafio a mais: é mãe solo de três meninas de quatro anos em tempo integral.
Leia sobre a rotina das famílias a seguir.
'Desafios é não enlouquecer e educar com respeito'
Priscila desde pequena conviveu em uma família grande e queria ser mãe. Aos 30 anos, a fisioterapeuta se apaixonou pelo analista de logística Ricardo Cláudio de Mello e seis meses depois estavam morando juntos. Um ano e meio depois, engravidou da Catarina. "Com três meses, ela já dormia a noite toda e nos apaixonamos mais pela maternidade. Não demorou muito, fiquei grávida de um filho, mas perdi com 10 semanas. Ficamos devastados, porque era algo que queríamos muito."
Em janeiro de 2018, o casal foi a Aparecida (SP) e pediram para serem pais de gêmeos. As duas bisavós de Priscila tiveram gestações gemelares e a possibilidade era real.
Meses depois, Priscila descobriu que estava grávida de gêmeos e ao chegar nas 20 semanas teve um sangramento. No hospital, descobriu que na verdade estava gestando quatro crianças. "Fiquei internada por 40 dias e com 31 semanas entrei em trabalho de parto". Caio, Diego, Antonella e Ícaro nasceram em novembro de 2018.
Depois de quase 60 dias internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), todos estavam em casa. Nesse período, Priscila amamentou os quádruplos, mas depois disso, ela dava 28 mamadeiras por dia.
"Nos primeiros dias foi muito difícil. Eram os cinco filhos, os quádruplos não dormiam, trocávamos de 32 a 40 fraldas por dia e gastava cerca de 1h30 para dar banho nos quatro"
A adaptação da mais velha, então com menos de 2 anos, também foi difícil. "Catarina perdeu a referência de quem era a mãe e quando voltei para casa, não queria que eu fizesse coisas por ela", relembra Priscila.
Orientada pela psicóloga da maternidade, a criadora de conteúdo passou a levar desenhos da primogênita para os quádruplos para criar uma ligação dela com os irmãos. Com o passar do tempo, a relação da Catarina e dos mais novos foi melhorando, e ela hoje desempenha um papel de irmãzona.
Priscila atualmente divide seu tempo em criar conteúdo para as redes sociais e cuidar das cinco crianças. "Eles exigem muita atenção e cuidado, e meus maiores desafios nesse tempo têm sido não enlouquecer, não perder a razão e educar com respeito", fala.
A organização na rotina ajuda para que os dias caminhem bem. "Na parte da manhã arrumo tudo para eles para ir na escola, as meninas já se trocam sozinhas, já os meninos precisam de uma ajuda ainda. De tarde cuido da casa e no almoço busco na escola, eles almoçam, tiram um cochilo e depois brincam ou me ajudam com algumas gravações para as redes sociais. Às 18h estão dormindo. De noite, foco no meu trabalho", conta Priscila.
Em uma casa com cinco crianças, claro, os dias são agitados. "Cerca de quatro vezes por dia preciso dar uma bronca. Cada dia um toca o terror, a Catarina é a líder e a Antonella é da pá virada, corta o próprio cabelo. Eles se pegam, disputam muita coisa e têm ciúmes de mim."
Priscila foca em uma educação positiva. "Quando eu era pequena era comum as pessoas castigarem, baterem, tirarem as coisas, de ser na base da chantagem, mas em 38 anos isso mudou. Então é preciso ter equilíbrio emocional para entender que é só uma birra e lembrar quem é o adulto da relação."
'Não sabia que era possível engravidar de novo de gêmeos'
Desde criança, a bióloga e escritora Ana Cláudia Ferreira, 42 anos, brincava que teria gêmeos, mesmo não tendo ninguém na família com histórico desse tipo de gestação. Acabou sendo presenteada com a gravidez de múltiplos duas vezes.
Ana Claudia já era mãe de Theo e do Henrique, na época com 2 anos, quando casou novamente. Ela e o segundo marido, o major da polícia militar Jerônimo Araújo, quiseram ter mais filhos. Para sua surpresa, ficou grávida naturalmente de gêmeos novamente.
Thor e Zion chegaram quando a moradora de Brasília tinha 29 anos."Eu não sabia que era possível engravidar de novo de gêmeos e fiquei muito assustada quando descobri minha segunda gestação natural."
Os gêmeos mais novos nasceram quando Ana estava com oito meses de gestação e precisaram ficar 44 dias na UTI. "Thor e Zion nasceram no dia 6 de agosto e no dia 15 Theo e do Henrique fariam cinco anos. Não deixei o aniversário deles passar em branco para que não ficassem tristes com o nascimento dos irmãos".
Após o final da licença do marido, Ana viveu dias intensos, porque não teve muita ajuda. "Era uma loucura e eu ficava exausta. Os gêmeos mais velhos estudavam de tarde, então de manhã era aquela preparação para levar eles na escola, dar banho nos nenéns. Theo e Henrique ajudavam um pouco, segurando e entretendo os mais novos, mas sempre era um perrengue para levar na escola. Até hoje é difícil, mesmo com todos adolescentes, na hora do transporte e viagem."
Com a chegada da segunda dupla, as horas de sono eram escassas. Quando um acordava o outro dormia e vice-versa. "Até conseguir sincronizar os dois foi difícil, mas consegui implementar uma rotina do sono quando eles tinham quatro meses".
A amamentação também foi um desafio. "Quando nasceram, o pediatra passou o leite complementar para ir alternando entre o leite materno. Amamentava por livre demanda no início, depois a cada três horas mais ou menos, ou seja, multiplicando por dois, umas 15 vezes ao dia. Amamentei, tanto os mais velhos quanto os mais novos até os quatro meses." Com os mais velhos, ela precisava suprir as necessidades escolares e dar atenção.
"Foi desafiador mostrar que não estava 100% com os irmãos deles e tentei dar atenção. Às vezes até deixava os menores chorando um pouco para saber que estava com os maiores."
Depois de um ano da segunda gestação, Ana voltou a dar aulas de biologia. "O trabalho era uma válvula de escape para fugir de pressão como mãe e sentia falta de um momento para mim. Até hoje quando estou sobrecarregada sei que preciso de um momento só meu, para me cuidar, porque é enlouquecedor."
Mesmo já tendo vivido as mesmas fases da adolescência com gêmeos mais velhos, hoje com 18 anos, os desafios de Thor e Zion, agora com 13, são diferentes. Ana resolveu lançar um livro, junto com o marido, para compartilhar a experiência vivenciada com os quatro filhos - "Duas Vezes Mãe de Gêmeos: a História".
'Ser mãe solo não é fácil, você chora e ninguém te ouve'
Paulistana criada no interior de Minas Gerais, Bruna decidiu mudar para New Jersey em 2015 para ficar mais perto da mãe, que já vivia nos Estados Unidos.
Em solo americano, ela conheceu o ex-namorado, que se tornaria pai de Antonella, Jasmine e Valentina, hoje com 4 anos. "Eu acreditava no processo, namorar, casar e ter filhos, até que me vi grávida de um namorado. Eu sabia que não era um relacionamento que poderia durar, mas ainda sim tentamos."
O ex deu apoio durante a gestação e, na intenção de criar as meninas da melhor forma possível, eles foram morar juntos. Mas não deu certo, e Bruna decidiu seguir só com a criação delas. "Não é fácil cuidar de três crianças, é uma decisão diária, em muitos momentos a força acaba, o cansaço bate pesado. Mas o amor faz você estar ali cuidando do seu filho e sinto que não era assim com ele", conta Bruna.
Assim como geralmente acontece na gravidez de múltiplos, as meninas nasceram prematuras, com 34 semanas de gestação, por meio de uma cesariana programada. "Foi uma gravidez muito tranquila e eu fazia tudo, parei de trabalhar quando eu não aguentava mais respirar. Elas nasceram muito bem, mas precisaram ficar 23 dias na UTI neonatal por questões de peso. Nesse tempo, eu tentava dar o peito e também dava mamadeira. Mas meu leite secou em 30 dias depois que elas nasceram."
Quando chegaram em casa, elas mamavam de três em três horas. Cada parada para dar a mamadeira, colocar para arrotar e trocar fralda demorava cerca de 30 minutos. Com uma rotina árdua para dar banho, comida e colocar para dormir, Bruna foi aprendendo. "Sempre que elas iam dormir, eu também tirava um cochilo. Eu precisei me adaptar para sobreviver mesmo, porque era eu sozinha. Nos primeiros meses, o tempo de banho em cada uma, era de 20 a 30 minutos. Dava banho em uma de cada vez e colocava no berço para ficar de olho."
Desde que as meninas nasceram, Bruna parou de trabalhar regularmente. Quando elas completaram três anos, passou a trabalhar limpando casas.
"Cuidar de três crianças é muito desafiador, no início é tudo lindo, mas com o passar dos meses as noites sem dormir, sobrecarga, reflete na nossa saúde, no nosso humor, saúde mental mesmo. Mas eu fazia com amor e chorava sozinha com elas, mesmo sabendo que eu estava dando meu melhor", relembra.
"Sinto que nessa fase as pessoas não enxergam a mãe. Você pode estar destruída, mas essa é sua obrigação para sociedade."
Por conta da prematuridade já era esperado um atraso, por isso desde novinhas começaram a fazer terapia. "Quando elas fizeram dois anos não falavam quase nada e nem apontavam e eram muito agitadas. Acrescentamos mais uma terapia da fala e onde eu vi que começou a ter uma evolução. Ao pesquisar sobre o autismo, eu tive certeza que era isso e decidi marcar um neurologista."
Bruna relembra que como essa busca por um especialista aconteceu durante o início da pandemia, houve demora. "Esperei cinco meses para a primeira consulta e recebi o primeiro diagnóstico quando elas tinham um pouco mais de 3 anos".
Hoje elas recebem 20 horas por semana de terapia e evoluíram muito. É um conjunto, escola, creche e terapia. Hoje elas têm as dificuldades delas, mas cada dia estão evoluindo mais."
Vivendo dias corridos, Bruna tenta ao máximo ser leve e fazer passeios com as meninas. "O principal desafio é ser mãe solo, sem rede de apoio que realmente deseja te ajudar nessa missão. Quando eu decidi me separar, me senti em muitos momentos sozinha e até hoje me sinto. Ser mãe solo não é fácil, você chora e ninguém te ouve."
Apesar das dificuldades, a mãe das trigêmeas se diz realizada. "Nunca me imaginei mãe, mas não era algo que eu não queria ter. Mas me redescobri na maternidade e acho que descobri o verdadeiro sentido do amor", conta Bruna.
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