Ela já cortou cana e hoje fatura R$ 12 milhões com empresa de semijoias
A mineira Sabrina Nunes, 36 anos, costuma dizer que é importante reconhecer e ser grata pelas oportunidades de trabalho que surgem, mas sem se conformar ou se acomodar. Natural de Itinga, região rural de Minas Gerais com cerca de 15 mil habitantes, começou a trabalhar aos 14 anos para ajudar a família e foi mãe aos 18. No decorrer do tempo fez de tudo um pouco para sustentar sua filha depois de se separar. Já vendeu picolés, foi garçonete e cortadora de cana em lavouras em Mato Grosso do Sul.
"Não foi fácil, mas fiz o que tinha de ser feito sempre vislumbrando ir além. Na época em que trabalhei nas lavouras, lembro-me de ver os engenheiros, todos com bons salários e carrões, e pensar: o que preciso fazer para ganhar melhor, sair deste lugar e poder oferecer uma vida mais digna à minha filha?", conta. Foi quando ela decidiu fazer o ProUni. "Passei em engenharia e me mudei para o Rio de Janeiro, onde tinha uma irmã como referência. Foi o começo da grande virada na minha vida."
Para conseguir uma renda extra enquanto trabalhava e estudava, ela juntou R$ 50 e comprou acessórios em um mercado popular. Começou a revender as peças em feiras e, depois, com um computador emprestado, em um marketplace. O negócio foi crescendo e, atualmente, Sabrina está à frente do e-commerce Francisca Joias, que vende em média 700 peças por dia —em 2021, o empreendimento faturou R$ 12 milhões.
Com operação 100% online, Sabrina aposta nas redes sociais para vender. No Instagram, a loja tem mais de 1 milhão de seguidores, e pelo TikTok converteu cerca de 1.000 vendas em um mês. O negócio emprega mais de 50 pessoas, a maioria mulheres, e projeta um aumento de 55% no faturamento este ano.
'Me virava de todos os jeitos para vender'
Chegar a esse patamar, no entanto, exigiu muito trabalho e estudo. Além disso, Sabrina cita a resiliência e o olhar atento para pensar em soluções diferentes, características que aprendeu com a avó Francisca —por isso o nome da empresa. "Ela é minha maior inspiração, pois era uma mulher forte, à frente do seu tempo e que estava sempre buscando inovar. Lembro que não tinha luz em casa, mas ela conseguiu uma televisão que era à bateria; e, para resolver a questão de falta de água, batalhou até conseguir um poço artesiano", diz.
No início, Sabrina revendia as peças em feiras e se virava de todos os jeitos para trabalhar. "Quebrei muito a cabeça e perdi dinheiro até entender que deveria colocar toda a minha energia na rua mais movimentada do mundo: a internet", diz. Assim, ela começou a trabalhar com redes sociais, aprendeu a fazer tráfego pago e a atuar no meio digital. "Na época, era o início do Facebook, e o trabalho começou a fluir, mas foi com a chegada do Instagram que as oportunidades se multiplicaram e comecei a profissionalizar meu negócio", afirma.
Porém, ela ressalta que precisou estudar e ler muito para isso. "No começo levava a empresa de maneira amadora. Tive muita dificuldade em contratar e gerir pessoas, e delegar, por exemplo".
Com o tempo, Sabrina estruturou a empresa e parte do sucesso hoje está nas conexões: com clientes, influenciadores digitais, colaboradores e parceiros. "A colaboração é essencial, assim como a experiência do cliente. Cuidamos de todos os detalhes, desde a construção das campanhas até a chegada do produto na casa do consumidor", diz.
Atualmente, mais de 80% dos acessórios são de design exclusivo. E há coleções em parceria com influenciadoras, como Bianca Andrade, Andreza Goulart e Evelyn Conversani. O cuidado com as peças é um ponto importante nesse sentido. Segundo a empresária, a marca usa metais nobres para o banho das semijoias e trabalha com zircônia para deixar os produtos com toque de joia. "Usamos sempre matéria-prima de primeira qualidade. Também temos o cuidado de fazer tarraxas grandes para que o cliente tenha mais conforto e a peça fique melhor na orelha", exemplifica.
Momentos difíceis são parte do jogo
Permanecer no mundo do empreendedorismo e ter sucesso, segundo Sabrina, é também saber que momentos difíceis fazem parte do jogo. "Acredito que todo empreendedor já teve vontade de chutar o balde e desistir. Comigo não foi diferente, mas tenho um objetivo claro, que é realizar os sonhos dos meus filhos, inspirar pessoas e transformar outras vidas, ajudando mais mulheres a criar seus negócios. Já não é mais o meu sonho, não é sobre mim, ficou maior. E esse grande sonho é o que me faz seguir em frente todos os dias", afirma.
Ela tem, inclusive, grupos de mentoria para empreendedores e cursos de vendas online. "Quando ajudamos um empreendedor, geramos mais empregos. Gosto especialmente de falar e agregar valor para as mulheres."
Outro ponto é entender que o medo também faz parte. "A questão é trabalhar para diminuí-lo. E a melhor maneira de fazer isso é com conhecimento. Com ele, você terá mais confiança e mais clareza sobre os próximos passos", diz. E deixa um conselho: "Não desistam! Somos capazes de fazer nossos negócios darem certo. Nada pode parar uma mulher decidida."
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