Fotógrafa que aumenta autoestima: 'Mãe não precisa posar só com filho'
"Meu primeiro curso de fotografia foi aos 13 anos. Tinha acabado de me mudar para o Rio de Janeiro, vinda de Brasília (DF), e não me encaixava muito bem na cidade. No ensino médio, fiz outro curso de fotografia e decidi que era isso que eu queria fazer da vida. Aí entrei na faculdade de jornalismo e completei um curso técnico para ser fotógrafa.
Nesse período da faculdade, fiz estágio em alguns jornais e acabei me especializando em retratos. Gosto de olhar para a pessoa, conversar com ela e extrair o que ela me transmite.
Alguns anos depois, fui deixando o jornalismo diário e passei a trabalhar com famílias. Primeiro com minha própria família, depois, com amigos de conhecidos, fazendo fotos em festas infantis, de mulheres grávidas e de casamentos. Esse universo me encantava.
Até que eu mesma engravidei, há seis anos, e passei a me interessar muito pelo feminino, pelo que é ser mulher. Minha fotografia mudou e eu comecei a ficar amiga das clientes, que são tão importantes na minha trajetória como fotógrafa que eu até me emociono.
Percebi que sempre fiz muitas fotos de mulheres e crianças, mas não de mulheres sozinhas. E então, no Dia das Mães de 2022, perguntei às minhas seguidoras quando foi a última vez que elas tinham sido fotografadas sem os filhos por perto. Pouquíssimas responderam que tinham esse tipo de foto.
Queria possibilitar que minhas clientes e amigas vivessem um momento delas sem marido, sem filho, sem ninguém. Queria que fosse um encontro com elas mesmas.
Comecei a estruturar esse projeto na minha cabeça, busquei um lugar legal, bonito, chamei uma maquiadora e stylist, a Aline Massa.
Mãe está sempre com um coque, com roupa manchada e tomando um café frio. A gente não olha para si, na verdade. Eu queria que essas mulheres se vissem nessas fotos.
Fiquei muito nervosa, mas tentei pensar que sabia fotografar e dirigir pessoas. Logo que terminou a primeira sessão, veio a segunda, uma procura enorme. Percebi que o negócio estava funcionando.
A maternidade fez com que eu entendesse a potência que temos. Me descobri feminista e me vi cercada de mulheres fortes. É natural que eu seja mais acolhedora com as mulheres, porque elas também são acolhedoras comigo. A gente está ali conectada em descobrir quem nós somos, minhas clientes estão fazendo foto para se encontrarem.
Fotografo muita gente que não conheço e até choro nas sessões. Não tem nada melhor do que mostrar uma foto e escutar: 'Nossa, estou muito linda'. É bom ver mulheres comuns se sentindo lindas apenas por serem elas mesmas.
Aprendo coisas em todas as sessões com elas. Trocamos áudios, falamos sobre as feridas, sobre o corpo, sobre a moda. Quando elas chegam eu já sei quem elas são, o que incomoda, quem não gosta das sardas, por exemplo.
Um dia, uma mulher chegou tímida e logo estava nua para tirar uma foto na frente da equipe. A ideia não é fazer fotos sensuais, mas se acontecer de fotografar um nu é porque tudo fluiu de maneira natural —por isso é tão bonito.
E tem histórias fortes, como a mulher que havia sido abusada na adolescência e tinha fotos em estúdio marcadas para o dia seguinte.
Ela passou o resto da vida sem se deixar fotografar, porque ao olhar para as fotos de quando era menina, só via tristeza. Fiquei apreensiva ao fazer essas fotos, era algo muito importante para ela. Mas foi tudo perfeito. Tanto que ela nem queria ir embora e apesar de não sorrir muito, estava serena.
Tem gente que quer ter um ensaio para ser seu —e nem quer postar as fotos, só quer ter. Acho bonito quando a mulher não faz fotos para mostrar, faz apenas para si.
Outra cliente tinha passado por uma mastectomia e achou natural mostrar a cicatriz após vencer um câncer. É muito forte ser parte desse processo.
Todas saem muito gratas, felizes. Na verdade, elas só precisam se olhar com amor e generosidade e gostar do que veem —e eu ajudo nesse processo.
Quero que essas mulheres olhem as fotos aos 70 anos e se vejam como eram aos 40. Estou ajudando na transformação delas e transformando coisas em mim também. A gente aprendeu a olhar nossos defeitos, mas temos que aceitar que somos bonitas. Meu objetivo é realçar a autoestima de mulheres maravilhosas que vivem em uma sociedade que julga demais.
Quero fotografá-las para que elas se sintam mais bonitas. E como elas ficam felizes, se sentem mais belas mesmo."
*Paula Giolito, 33 anos, é fotógrafa no Rio de Janeiro (RJ). O projeto está no Instagram como @eumevejo_ensaiosfemininos
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