'Cansada demais para transar': sobrecarga afeta vida sexual de mulheres
A falta de tempo decorrente da rotina multitarefa feminina, somada ao consequente cansaço, são motivos que afetam diretamente a vida sexual das mulheres. Nem mesmo gente famosa está livre dessa situação.
Dia desses, a apresentadora Fernanda Lima, 45 anos, revelou que as demandas do dia a dia conseguem atrapalhar os momentos necessários para o sexo, respingando na relação que mantém há quase duas décadas com o também apresentador Rodrigo Hilbert, 42. "Me sinto cansada", admitiu.
A fala, é claro, gerou identificação entre muitas mulheres. A operadora de caixa Silvia* tem 46 anos, é de São Paulo e é mãe de três filhos. Assim como a famosa, ela relata que o excesso de afazeres diários atrapalhou o momento a dois com o ex-marido.
Além disso, o cansaço no fim do dia que ela sentia foi potencializado pela entrada na menopausa e a questão culminou no divórcio. "A gente trabalha tanto e tem que dar conta de tanta coisa, que ter uma relação com o parceiro no final do dia acaba parecendo mais obrigação do que prazer", diz.
Seu único desejo, após horas no emprego e, depois, dando atenção aos filhos e à casa, é colocar os pés para cima e descansar.
A culpa é mesmo do cansaço?
Segundo a psicóloga Ediane Ribeiro, especialista em trauma, o cansaço e a sobrecarga alteram a neuroquímica e, com isso, mexem com a percepção, a libido e com as motivações de qualquer indivíduo.
"A sobrecarga é uma sensação de que algo está acima do que podemos dar conta e indica que a pessoa está sustentando uma carga de estresse. Com isso, há maior produção dos hormônios do estresse e maior dificuldade de relaxar, além do estado de alerta constante", argumenta a profissional.
Tais efeitos são inversamente proporcionais ao que é necessário para uma boa transa, que é justamente a sensação de segurança naquele momento e, sobretudo, de relaxamento.
Entretanto, a falta de vontade em transar pode levar ao questionamento se a culpa é mesmo do cansaço ou se tem algo a ver com o par. Para Ediane, somente a auto-observação pode responder a essa questão, já que ambas as causas não são tão separadas quanto se imagina.
"Se com a redução da libido vem uma tensão constante em relação às tarefas, fadiga, preocupação excessiva com trabalho ou com as rotinas que precisa dar conta e, ainda, falta de disposição para outras atividades de lazer, tudo isso ser indício de um quadro de estresse mais global e não necessariamente relacionado ao par", observa a psicóloga.
Assim, além de constatar que o problema está no cansaço, é preciso entender ainda se é uma situação previsível. Isso porque alterações hormonais são capazes de impactar o desejo sexual e apresentar sintomas parecidos - ou seja, vale uma investigação médica.
De olho nos sinais
Tensão, cansaço e ansiedade formam um trio capaz de afetar o equilíbrio mental e até mesmo interferir no desejo sexual da mulher, conforme explica o sexólogo e psicanalista Fábio Alves.
"A mulher, ainda hoje, carrega o peso de ter que ser 'a base do equilíbrio familiar'. Isso leva a dias de muito esforço físico e emocional, tirando toda a vontade sexual. Muitas vezes, causa baixa autoestima, trazendo a insegurança de que o marido pode traí-la", diz o especialista.
Mas, além de falta de vontade em transar, outros sintomas podem denunciar o quadro, como irritabilidade, sono excessivo, ansiedade e comportamentos depressivos.
Como driblar a situação
Ediane diz que, após realizar checar se a saúde está em dia, adotar algumas atitudes no dia a dia podem mudar o cenário e trazer mais motivação para o sexo. Isso porque, tudo que envolve qualidade de vida é fundamental para recuperar o desejo. A psicóloga cita ser necessário:
- Ter um sono de qualidade;
- Apostar em alimentação com menos açúcares e processados, pois esses alimentos impactam negativamente no desejo sexual;
- Fazer atividade física regularmente, já que a prática aumenta a produção de alguns hormônios importantes para a sexualidade;
- Revisar a rotina e a distribuição de tarefas com as pessoas da casa, buscando brechas para descanso e relaxamento;
- Incluir o parceiro ou parceira na conversa, falando de seus sentimentos, dúvidas e necessidades.
O sexólogo Fábio sugere ainda impor mais limites à carga de trabalho profissional, deixando de sair mais tarde do expediente, por exemplo. Ele igualmente reforça a necessidade de haver mais tempo a dois, principalmente para explorar situações novas, saindo da rotina e se reconectando com aquele lado mais jovial e divertido.
Embora essa situação possa afetar a autoestima da mulher, o sexólogo reforça que sentimentos como culpa e insegurança devem ser trabalhados. "Isso pode fazer a mulher pensar no fim da relação, por isso, indico uma conversa a dois, abordando suas dificuldades e como ambos poderiam se ajudar para solucionar a questão", fala.
Ainda assim, Fábio lembra que, em relações mais desgastadas, investir no diálogo pode ser difícil. Nesses casos, a orientação é buscar um especialista para, juntos, trabalharem a situação nas sessões e entenderem como passar pela fase.
Ediane acrescenta que a culpa é um ensinamento da sociedade, mas que pode ser desaprendido - ainda bem! "O autoconhecimento é um caminho importante para começar a sair dessa armadilha. É importante que a mulher se sinta à vontade tanto para expressar seus desejos sexuais quanto para expressar a falta deles", afirma.
O papel da parceria
A compreensão é o que mais se espera do parceiro ou parceira nesse momento delicado, conforme aponta Fábio. Afinal, se já está difícil para a mulher lidar com a própria sobrecarga, precisar tratar também dessa falta de entendimento torna tudo ainda pior e mais desgastante.
Para isso, o psicanalista indica que o par busque agir com cumplicidade, auxiliando a mulher na rotina dela e planejando a sua para que, juntos, possam dar conta das tarefas da casa e reservar um tempo a dois.
*Nome alterado a pedido da entrevistada
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