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Em música de 1981, Erasmo cantou a mulher forte e chamou homens de carentes

O cantor Erasmo Carlos - Reprodução/ Instagram
O cantor Erasmo Carlos Imagem: Reprodução/ Instagram

Débora Pill

Colaboração para Universa, em São Paulo

22/11/2022 16h17

Um dos inúmeros clássicos de Erasmo Carlos, o eterno Tremendão, morto hoje, a música "Mulher (Sexo Frágil)" é uma composição do início da década de 1980 e que teve um papel importante na época como propulsora de reflexão sobre o poder das mulheres.

A faixa integra o álbum "Mulher (Sexo Frágil)", lançado em 1981, e defende as mulheres como verdadeira força dentro da família, colocando os homens (no caso pais e filhos) como carentes e dependentes.

Uma leitura atual também rapidamente identifica elementos machistas na composição, como a parte em que se fala da submissão --mais especificamente, sobre a presunção da mulher em se fingir submissa para satisfazer o ego do homem.

Ou mesmo o trecho aparentemente inofensivo "Quero uma mulher só minha", que traz uma visão da mulher como propriedade e também pode remeter a ideia daquela monogamia que, muitas vezes, foi praticada somente pela mulher.

Por isso, é essencial manter uma visão crítica, mesmo se tendo em mente os contextos em que essa composição foi criada. Por outro lado, é também possível perceber o ineditismo da letra --convite para um olhar mais íntimo e realista sobre a mulher, algo pouco comum na época.

Essa música também convida a dar uma espiada nas revoluções que acontecem nos detalhes, nas pequenezas do dia-a-dia, os milagres entre quatro paredes. Sapiência, maternidade, encantamento, amamentação, afeto e ancestralidade são alguns dos assuntos costurados com destreza nessa composição.

O que pouca gente sabe é que essa faixa é também da então esposa de Erasmo, Narinha, morta em 1995 em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. A coautoria sem dúvida foi fator determinante para o sucesso da música, principalmente com o público feminino na época.

Confira a íntegra da letra:

"Dizem que a mulher é o sexo frágil
Mas que mentira absurda!
Eu que faço parte da rotina de uma delas
Sei que a força está com elas
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço
Satisfaz meu ego, se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça
Quando eu chego em casa à noitinha
Quero uma mulher só minha
Mas pra quem deu luz não tem mais jeito
Porque um filho quer seu peito
O outro já reclama a sua mão
E o outro quer o amor que ela tiver
Quatro homens dependentes e carentes
Da força da mulher
Mulher! Mulher!
Do barro de que você foi gerada
Me veio inspiração
Pra decantar você nessa canção
Mulher! Mulher!
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um 10
Sou forte, mas não chego aos seus pés"

*

E aqui uma pequena seleção musical do Tremendão que dialoga com o universos feminino:

"Sorriso Dela", Erasmo Carlos
Faixa de "Sonhos e Memorias", de 1972, dos álbuns mais celebrados pelas novas gerações

"Mais um na Multidão", Erasmo Carlos & Marisa Monte
DVD 50 Anos de Estrada, lançado em 2012

"Maria e o Samba (Quem Foi que Disse que Eu Não Faço Samba...)", Erasmo Carlos
Faixa do EP "Quem Disse Que Eu Não Faço Samba...", lançado em 2019