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'Comprei máquina que cria pênis': esta ginecologista fez delivery divertido

Cristina Bianchi, de 42 anos, é ginecologista e criou um delivery de waffles eróticos - Arquivo pessoal/Reprodução
Cristina Bianchi, de 42 anos, é ginecologista e criou um delivery de waffles eróticos Imagem: Arquivo pessoal/Reprodução

Marcela Schiavon

Colaboração para Universa

28/11/2022 04h00

Foi durante a realização de um parto que a ideia ganhou força. A ginecologista Cristina Bianchi, de 42 anos, contou aos colegas, e uma anestesista, companheira de trabalho, se empolgou. "Nesse mesmo dia, cheguei em casa e comprei a máquina que cria os pênis."

O equipamento produz waffles com formatos de pênis e vulvas que Cristina passou a vender em um delivery neste ano em São Paulo. Os doces têm cobertura de chocolate e confeitos como corações e letrinhas. O box "gozada" vem com dois, três ou quatro sexy waffles à sua escolha.

Inspirada em lojas da Europa, a Oh L'Amour de Cristina desafia os tabus relacionados ao sexo e aos genitais e coleciona histórias curiosas sobre os pedidos de clientes. Segundo Cristina, trata-se do primeiro delivery do tipo na capital paulista. Há outras lojas físicas na cidade.

Ao UOL, a ginecologista explica que, por tratar mulheres diariamente no consultório, consegue abordar o tema de forma leve — por isso a facilidade na idealização e criação da loja. O maquinário para criar os waffles — um tipo de massa doce de origem belga — foi garimpado na China e demorou dois meses para chegar ao Brasil.

"Sempre tive um lado fora da caixa, apesar de ser bem nerd. Foi o que me fez ir atrás desse produto", conta ela. Cristina estudou medicina na USP (Universidade de São Paulo) e fez residência no Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

Waffle - Reprodução/Oh L'Amour - Reprodução/Oh L'Amour
Waffle em formato de vulva é vendido em delivery pioneiro em SP
Imagem: Reprodução/Oh L'Amour

No consultório, trata casos de vaginismo, mulheres com dor na relação que nunca se tocaram. E tem como prioridade fazer com que as mulheres ganhem intimidade com suas vulvas. "Hoje, o espelho é o meu 'terceiro braço' no consultório. Faço questão de que as mulheres vejam suas 'pepecas'", diz Cristina.

Na loja de sexy waffles, ela também encontrou uma chance de falar sobre sexo mais abertamente, e de forma divertida. "Trabalhei com sexualidade e com meninas que sentem dor na hora da relação, com vaginismo, que nunca se olharam no espelho. Vi nesses waffles uma oportunidade de falar sobre isso."

Os doces também são usados em campanhas. No mês passado, por exemplo, ela enviou waffles com confeitos especiais para ativistas do movimento de outubro rosa — de conscientização sobre o câncer de mama, "conciliando o propósito do Oh L'Amour com a medicina".

Também há parcerias da loja com coletivos ligados à sexualidade feminina, como a colaboração lançada com o projeto Meu Clitóris Minhas Regras, que estuda os mistérios do órgão de prazer das mulheres.

Embora possa falar sobre o empreendimento quando é questionada pelas pacientes, uma regra do CFM (Conselho Federal de Medicina) a proíbe divulgar os produtos em seu consultório. Por isso, boa parte dos clientes nem é paciente de Cristina.

Pênis 'vasec': os pedidos inusitados

Waffle - Reprodução/Oh L' Amour - Reprodução/Oh L' Amour
Loja recebe encomendas para presente, como o waffle 'vasec'
Imagem: Reprodução/Oh L' Amour

A maioria da clientela é de mulheres e pessoas LGBTQIAP+. E os doces que fazem mais sucesso são os que têm formato de pênis.

Os waffles marcam presença em chás de lingerie, aniversários e viram presentes inusitados. Entre as encomendas que já recebeu, chamou a atenção a de uma jovem que presenteou o marido com um doce em formato de pênis e o escrito "vasec" com letrinhas coloridas sobre o biscoito.

Outro caso foi o de um homem que fez dois pedidos para pessoas diferentes. Ele implorou para que não houvesse confusão entre eles, dando a entender que ficava com mais de uma mulher ao mesmo tempo.

Apesar de ter apoio de boa parte das pessoas, Cristina diz que ainda não é fácil divulgar os produtos em feiras e eventos. A médica relata a dificuldade em encontrar marcas de sorvete para o verão, por exemplo. "As pessoas ainda têm preconceito. Ridículo, mas têm".

Também há vergonha em relação aos produtos. "Fomos em uma feira no Itaim [bairro nobre de São Paulo] e entendemos que não podemos ir a lugares da 'família tradicional brasileira'", afirma Cristina. "É aquela tal história: se essa mesma pessoa vai a Bruxelas e vê uma loja disso lá, acha o máximo. Mas aqui no Brasil acha vulgar."