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Empresária criou a maior festa para lésbicas do Rio: 'Pra todos os corpos'

Lela Gomes, criadora do Boleia Bar, no Rio de Janeiro - Divulgação
Lela Gomes, criadora do Boleia Bar, no Rio de Janeiro Imagem: Divulgação

Elisa Soupin

Colaboração para Universa, do Rio de Janeiro

30/11/2022 04h00

Lela Gomes sonhava ter um bar para mulheres que amam mulheres. O sonho era antigo, vinha da adolescência, de quando ela assistia ao filme "Show Bar". Um dia, depois de muito trabalho, esse sonho se tornou realidade. A inauguração teve casa cheia, gente de todo o canto. Até que, no final daquela semana, veio a pandemia. E o bar dos sonhos de Lela teve de fechar.

Mas isso estava longe de ser o fim do Boleia Bar, no Rio de Janeiro, que funcionou em esquema de delivery durante o isolamento social e, conforme a vida foi retomando a normalidade, virou um point do público lésbico. Era difícil encontrar uma sapatão que não tivesse uma foto no famoso corredor colorido, que começou a ficar cheio. Até demais.

"Comecei a ver que, na maioria dos dias, a gente não conseguia atender todas as pessoas, as mesas enchiam muito rápido e também havia um limite de quantas clientes poderiam ficar de pé. Já vi meninas de fora do estado que foram ao Boleia e não conseguiram viver a experiência do bar, e elas mereciam ter uma experiência melhor", conta a empresária Lela Gomes que, na época, tinha um espaço que acomodava 150 pessoas.

Foi assim que ela começou a busca por um novo endereço para o seu Boleia. Procurou muito e achou uma outra casa, três vezes maior, no mesmo bairro, em Botafogo, mas em um ponto mais democrático, perto do metrô. O espaço é todo instagramável e é difícil definir a atmosfera, já que o público —majoritariamente de mulheres lésbicas— é bastante variado, tem meninas mais novas, mulheres mais velhas, casais em clima de romance, solteiras prontas para a pegação e grupos grandes de amigas. Como a noite acaba só depende das suas intenções.

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Ambiente do novo Bar Boleia, no Rio de Janeiro
Imagem: Divulgação

O DNA do Boleia é sapatão. Cada funcionária da casa é lésbica, bi ou trans, da bartender à segurança, passando pela arquiteta que fez o projeto. E teve jeito até de levar o antigo corredor que ficou famoso para o novo espaço.

Detalhe que o Instagram do Boleia é quase um Tinder: a conta do bar reposta todo mundo que tira fotos por lá e aí, nos Stories, você vê aquela pessoa que achou interessante, começa um papo e a coisa vai.

A maior festa para lésbicas do RJ

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Lela Gomes: 'Sou sapatão e sempre fui muito participativa no meio lésbico. Acho que dá certo porque eu consegui tirar do papel as demandas que eu mesma tinha'
Imagem: Divulgação

Além da ampliação do bar, Lela também começou a receber uma demanda por festas para o público de mulheres lésbicas e bissexuais. "Toda hora ouvia que o Boleia precisava ter festa. Imagina, eu mal conseguia atender as clientes! Era impossível fazer festa lá", diz.

Lá não dava, mas ela resolveu empreender de novo. Nasceu o Boleia Produções, que, em fevereiro deste ano, produziu a primeira Lambe Lambe —em dezembro, a festa chega à sua 7ª edição. Na estreia, o público foi de 500 mulheres. Atualmente, cada festa recebe cerca de 1.300 mulheres. Por lá, o clima de pegação impera e só não beija na boca quem não quer.

"Existem outras festas para esse público no Rio, mas realmente nós nos tornamos a maior. Ano que vem, vamos levar a Lambe Lambe para São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e fazer um cruzeiro. As pessoas amam porque tem qualidade de serviço, o atendimento é bom, não tem perrengue de fila e as pessoas se vestem como querem, é um espaço para todos os corpos, é um lugar pra ser livre", resume ela, que acredita que o sucesso de seu negócio tem a ver com ser lésbica e entender a necessidade de seu público.

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Festa Lambe Lambe, no Rio
Imagem: Divulgação

"Sou sapatão, vivencio o que é ser sapatão, e, desde muito nova, sempre fui muito participativa no meio lésbico. Acho que dá tão certo porque eu consegui tirar do papel as demandas que eu mesma tinha, que as minhas amigas tinham, entregar o tipo de experiência que eu queria ter e não achava. E tamo aí, nessa vida louca, dando certo", resume.