Meu filho repetiu de ano, e agora? Como lidar sem gerar traumas ou castigos
Para quem tem filhos em idade escolar, os últimos dias do ano podem ser de muita expectativa e até tensão, principalmente se as chances de reprovação da criança ou adolescente forem altas. Se a notícia se confirmar, a atitude dos pais pode fazer muita diferença.
Paciência é fundamental. Independentemente da idade, os pais devem ter um diálogo claro com o filho, conscientizando-o de que a reprovação faz parte do processo de amadurecimento. Não se deve apresentar a situação como um fracasso, mas como uma consequência de dificuldades, indisciplina ou falta de interesse pelos estudos.
Lucy Carvalhar, psicopedagoga
O papel dos pais é dar apoio e ensinar aos filhos como consertar os próprios erros, lidar com a dor e trabalhar as falhas para trazer novos aprendizados numa segunda tentativa.
É um bom momento para ensinar que a vida não é feita só de aprovação e que as escolhas feitas durante o ano tiveram consequências.
Por que aplicar punições e castigos não funciona?
Repetir de ano já é, por si só, uma punição. Segundo Carvalhar, castigos ou outras penalidades só tendem a afetar a autoestima do filho e aumentar a frustração da criança ou jovem.
Pode-se, entretanto, adotar regras mais rígidas, com rotinas e responsabilidades.
Muitos pais reagem de forma emocional e negligenciam o racional e prático nas situações. Os pais são referências e precisam ser resilientes e fazer uma autoavaliação: 'Como eu aprenderia as consequências de minhas atitudes?'
Lala Fonseca, psicóloga
Evite dizer: "Está vendo? Eu te falei!", diz a especialista, porque isso traz raiva a quem já está fragilizado e não conscientização dos próprios erros.
Quando tomar uma atitude?
Uma conduta agressiva e repressora pode afastar seu filho da conversa. É mais produtivo aguardar o filho se olhar no espelho, sentir angústia e frustração e avaliar as consequências sozinho, até se abrir para o diálogo.
O ideal é promover condições para que todos sejam motivados a seguir em frente, apesar da reprovação, e reconheçam os pontos que precisam ser melhorados.
Há que se respeitar o ritmo e as diferenças sempre, sem as comparações.
Dagmar Rivieri, pedagoga e fundadora da Casa do Zezinho
O que há por trás da reprovação
Não dá para padronizar as razões, porque o contexto de cada estudante pode ser muito diverso, mas a pedagoga aponta algumas coisas a serem observadas:
- provas cansativas e até equivocadas
- baixa qualidade do diálogo em casa e/ou com o professor e a escola
- falta de vínculos estabelecidos com o aluno para impulsionar a aprendizagem
- crianças e jovens desincentivados ou sem costume de tirar dúvidas na classe
- vergonha de se manifestar em sala e/ou medo da reação dos colegas
- déficit de atenção ou dificuldade em determinadas matérias
A escola, no decorrer do ano, percebe que o rendimento do aluno não está bom, então para evitar uma reprovação seria importante que todos participem do processo: estudante, colégio e família.
"Cada intervenção deve mobilizar a todos", ressalta Rivieri. "Muitas vezes, com a reprovação, o filho ou os pais acham adequado mudar de escola, porém, isso deve ser analisado com calma, procurando identificar os fatores que levaram à reprovação."
Bola pra frente
A especialista lista outras atitudes que podem ser positivas daqui para frente:
- Ser rede de apoio para o aluno, animando-o para o próximo período
- Conversar com os professores e a coordenação para compreender o que está acontecendo, se são dificuldades pontuais ou problemas disciplinares
- Ajudar o estudante a expressar seu sentimento em relação à escola, colegas e professores
- Buscar apoio psicopedagógico ou pedagógico, como reforço presencial ou online
- Se necessário, recorrer também à psicoterapia. Outros problemas emocionais e comportamentais, como bullying, ansiedade ou depressão, podem afetar os estudos.
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