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'Veem meu marido no app e me xingam de burra, mas não sou monogâmica'

Kate tem relacionamento não-monogâmico com Max: "falam que não é amor de verdade" - Arquivo pessoal
Kate tem relacionamento não-monogâmico com Max: 'falam que não é amor de verdade' Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para Universa

07/01/2023 04h00

Relacionamentos não-monogâmicos têm se tornado mais comuns, mas ainda são rodeados de preconceitos. Mulheres adeptas do amor livre dizem que são questionadas sobre a decisão de se relacionarem com mais de uma pessoa e permitirem que os parceiros façam o mesmo.

A Universa, três mulheres que moram com seus parceiros e não são monogâmicas revelam as ofensas que já receberam.

'É como se eu não tivesse capacidade de escolher'

Kate Lima de Lima, de 43 anos, funcionária pública casada com Max William Rogowski, de 37 anos, empresário

Era monogâmica até conhecer o Max. Vim de um casamento de treze anos muito traumático nesse modelo [monogâmico]. O Max já era não-monogâmico e me fez essa proposta. Resolvemos tentar.

Escolhemos esse tipo de relacionamento por ser o mais saudável e o mais sincero para a gente. Ele não me forçou nem impôs nada. Os acordos são nossos. Prefiro assim do que aquela coisa velada, mentirosa ou o desejo reprimido que causa muito mais problemas.

Sofremos todos os tipos de preconceito, desde os diretos, de pessoas falando que isso não é amor de verdade, até os velados, quando dizem que respeitam, mas não fariam igual.

Algumas amigas falam que meu companheiro é tóxico e abusivo. Chegou a um ponto de as pessoas se afastarem, mesmo sem conhecer o Max pessoalmente.

Certa vez, formamos um trisal e fomos com a nossa namorada a uma festa. O Max foi agredido verbalmente e jogaram um copo de bebida na cara dele.

Muitos tentam me proteger como se eu não tivesse capacidade de escolher. Acham que o Max está me enganando, que quer se aproveitar da minha beleza e me dar um golpe. Eles não aceitam que o nosso relacionamento é verdadeiro.

Eu sei que ele paquera outras mulheres na internet e eu também tenho essa liberdade. Só que, quando as pessoas descobrem ele nos sites de namoro, elas me humilham, me xingam de idiota e de burra.

'Perguntam se já fiz suruba'

Nelly Coelho, de 34 anos, atriz casada com Jackson Carvalho, ilustrador

Nelly e Jackson - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nelly e Jackson: 'não preciso ficar pensando se estou sendo enganada'
Imagem: Arquivo pessoal

Estou em um relacionamento não-monogâmico há seis anos. Acho problemático [a regra de] alguém poder ficar apenas contigo e, se tiver vontade de ficar com outro, ter de sufocar esse sentimento. Descobri que o que me incomodava [na monogamia] era o simples fato de eu não saber [se ele estava ou não com alguém].

Procurei meu marido para conversar sobre isso. No primeiro momento, ele pensou que eu estava propondo um relacionamento não-monogâmico só para eu ficar com alguém, mas não era isso. Então, entramos em um consenso. Hoje sou muito mais tranquila porque não preciso ficar pensando se estou sendo enganada.

Algumas pessoas associam o fato de eu ser não-monogâmica com ser atriz e não tem nada a ver. Vejo pessoas falando que artista é promíscuo e vagabundo. Me perguntam se já fiz suruba. Eles não entendem que isso não tem a ver com práticas sexuais.

Ainda piora quando falo que somos pansexuais [pessoas que sentem atração por outras, independentemente do gênero, de como se expressam para o mundo e de orientação sexual].

'Pensou que estávamos querendo pegar a mulher dele'

Bianca Oliveira de Andrade, de 36 anos, empreendedora casada com Wander Ramos Castedo, de 39, também empreendedor

Bianca - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bianca, sobre a não-monogamia: 'as pessoas acham que fico com todo mundo'
Imagem: Arquivo pessoal

Quando falo que sou não-monogâmica, as pessoas acham que fico com todo mundo. Tem muito cara sem noção que acha até que é uma obrigação eu sair com ele.

Quando revelei nas redes sociais que estava em um relacionamento não-monogâmico, veio uma infinidade de mensagens. Pessoas próximas achando que tudo estava liberado. Tive de me posicionar e falar que nada tinha mudado.

Certa vez, em uma festa de um amigo, eu e outra amiga estávamos alegres e bebendo, dançando, até chegar uma terceira menina. Todas ficamos amigas, mas o marido dela pensou que estávamos querendo "pegar" a mulher dele. Ele surtou e não tinha nada de mais, só amizade.

Gerou um constrangimento sem necessidade. Tudo isso porque achou que, pelo fato de sermos não-monogâmicos, teríamos nos aproximado com essa intenção. A liberdade sexual assusta, principalmente se você for mulher.