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Recebi do ex: 'Que esse ano pegue câncer. Merece ser estuprada'; foi preso

Ameaças chegaram por mensagem de texto para a vítima de 37 anos - Arquivo Pessoal
Ameaças chegaram por mensagem de texto para a vítima de 37 anos Imagem: Arquivo Pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro

11/01/2023 21h05

As ameaças chegaram por mensagem de texto para essa vítima de 37 anos, que preferiu não se identificar por questões de segurança. "Você merece ser estuprada e espancada muitas vezes. Você tem que sofrer muito ainda", disse o ex-companheiro Elimar Corrêa dos Santos, 33, preso na manhã de terça-feira (10), em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.

O relacionamento com o agressor durou um ano e sete meses e o problema de Elimar com o alcoolismo era a principal discussão entre o casal.

"Tentei terminar algumas vezes, mas ele nunca aceitava muito bem, só que a gente resolvia de maneira conversada. Da última vez, em abril, cheguei um pouco mais cedo em casa, sem avisar e me deparei com ele embriagado, dormindo no sofá. Ali eu vi que não dava mais. Era uma pessoa que omitia fatos. Quando ele despertou, conversei com ele e disse que não dava mais para mim. Foi então que ele me agrediu fisicamente e me fez diversas ameaças", disse a vítima ao UOL.

Assim que cessaram as agressões, a vítima chamou a polícia. Os agentes foram até a casa dela, mas como ele ainda estava embriagado, a mulher teve pena, não deixou que o levassem, na esperança de que quando ele acordasse no dia seguinte, tudo seria resolvido com uma conversa — mas isso não aconteceu.

"Quando amanheceu, ele não queria resolver nada. Queria que eu continuasse com ele, quebrou algumas coisas dentro de casa, como a minha TV, com um soco. Ele só saiu quando eu ameacei novamente chamar a polícia", relatou a mulher.

A mulher decidiu procurar a delegacia, parou de atender mensagens e ligações de Elimar. Enquanto aguardava o atendimento para fazer o registro de ocorrência, o agressor passou a fazer ameaças e enviar mensagens terríveis.

"A ideia era que eu me sentisse diminuída, inferior. Ele me diminuía como mulher, como mãe e para mim foi muito complicado. Isso quando não oscilava com situações de ameaças, dizendo que minhas filhas tinham que sofrer junto comigo. Ele relembrava traumas que vivi durante minha infância e minha adolescência, dizendo que eu tinha que passar por tudo aquilo novamente. Me atacava nos meus pontos frágeis", disse a vítima à reportagem.

"Uma pessoa ruim, capaz de tudo", diz vítima

Eliomar coleciona quatro registros de ocorrência, o primeiro em abril de 2022 por lesão corporal, ameaça e injúria. Desde então, foram deferidas medidas protetivas para a vítima, mas as mesmas foram descumpridas pelo autor dos crimes, que continuou ameaçando, injuriando e agredindo a ex-companheira e suas filhas.

Em um dos prints que a DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Nova Iguaçu teve acesso, Eliomar dizia:

"Para esse ano que começa espero que você sofra e que pegue um câncer que coma você todinha por dentro. Desejo do fundo do meu coração que suas filhas sofram 10 vezes pior do que você passou", disse a mensagem enviada na virada do ano, no dia 31 de dezembro de 2022.

O agressor continuou enviando mensagens com ameaças até o dia 9 de janeiro, um dia antes de sua prisão. Em outra ameaça, ele disse:

"Sua vagabunda, imunda, espero que você morra, seu lixo", disse Eliomar.

Relacionamento com o agressor durou um ano e sete meses  - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Relacionamento com o agressor durou um ano e sete meses
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Segundo a vítima, ele se sentia inatingível. "Eu ficava dentro da minha casa e quando ouvia qualquer barulho, já achava que era ele tentando invadir. Já ficava nervosa, me tremendo, com medo. Hoje, vejo que ele é uma pessoa ruim, capaz de tudo. Temo pela minha vida e pela minha família. Já tinha feito três denúncias e não tinha surtido efeito. Me sentia impotente", disse a mulher."

Após observar as mensagens no celular, a delegada Mônica Areal decidiu pela prisão do autor.

"Um agressor que não para, que não se intimida nem com a polícia, nem com o judiciário, que descumpre reiteradamente as medidas protetivas, fala coisas terríveis e ameaça indiretamente as filhas dessa mulher", disse a delegada a Universa.

Elimar foi preso na casa de sua mãe pela manhã após várias diligências pelo seu paradeiro no distrito de Tinguá e então conduzido à DEAM de Nova Iguaçu, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante.

Perseguição

No final do ano passado, a vítima chegou a mudar de número de telefone, mas ele conseguiu descobrir o novo número para fazer ameaças e injuriar a mulher nas redes sociais.

"Ele divulgou meu telefone em uma rede social e desde o último dia 28 passei a receber mais de 300 ligações e mensagens de homens diferentes, onde ele ficava oferecendo diversas coisas, desde amizade, namoro até mesmo conteúdos sexuais. Me senti sufocada, não dava mais. Foi então que fiz a queixa na delegacia pela quarta vez, fui desacreditada, mas ali Deus agiu de alguma forma", contou a mulher.

Aliviada, a vítima disse que a ficha ainda está caindo, mas ainda continua um pouco apreensiva: "Não sei quanto tempo ele vai ficar detido e quando ele for liberada, como vai ficar a cabeça dele. Mas é um misto de sensações, de alívio, esperança, mas também de receio do que possa vir acontecer", relata.

Eliomar responderá por violência psicológica, lesão corporal, ameaças, injúria e a pena total pode chegar a quatro anos de prisão.
A audiência de custódia foi pautada para amanhã, às 13 horas.

A reportagem ligou para o celular do agressor em busca de familiares, mas as ligações não foram atendidas. Universa procurou também a Defensoria Pública, mas não obteve retorno até a conclusão da reportagem.