Após lipo, mulher tem perna e dedos amputados em GO: 'fora do normal'
Uma servidora pública de 43 anos teve parte da perna, quatro dedos da mão e todos os dedos de um pé amputados após fazer uma cirurgia de lipoaspiração em Goiânia. O médico responsável pela intervenção nega que tenha havido qualquer erro médico.
O caso foi denunciado à polícia civil nesta semana por Indialma Antunes de Oliveira, submetida ao procedimento em julho de 2021. Segundo o advogado Fabrício Póvoa, a mulher sofreu uma sepse grave após a cirurgia plástica, que comprometeu a circulação e necrosou os membros dela. Por isso, ela também ingressou com ação indenizatória contra o médico e o hospital envolvidos na plástica.
Em entrevista a Universa, a moradora de Araguaçu (TO), a 400 km de Palmas, contou ter escolhido se submeter à operação em uma clínica particular de Goiânia por ver a capital como uma "referência médica" e usou a casa de parentes como base para a recuperação. Com todos os exames pré-hospitalares requeridos feitos, ela passou pela plástica e recebeu alta em um dia, mas começou a passar mal pouco tempo depois.
"Após o almoço, comecei a passar muito mal. Começamos a tentar contato com o médico e não conseguimos, isso perdurou até a noite. Conseguimos falar com algumas pessoas da equipe dele, que nos orientaram a procurar um pronto-socorro", afirma.
Indialma diz ter sido medicada e mandada de volta para casa no mesmo dia, mas que teria passado mal novamente e precisou retornar ao hospital particular no qual foi operada. "Cheguei lá por volta das 11h e ele [o médico] só chegou por volta das 13h, me deixou lá até o outro dia, falando que era normal, fazendo exames. Eu tive uma parada cardiorrespiratória, tentaram me animar e me mandaram para a UTI de outro hospital", lembra.
Ela conta que então teve um AVC e outras complicações, entrando em coma por 20 dias. Os médicos consultaram familiares para pedir autorização para amputar extremidades necrosadas do corpo dela e evitar que a infecção tomasse conta do restante do corpo.
Quando eu acordei do coma, parecia uma boneca de pano. Só movimentava a cabeça, era uma coisa fora do normal. Recebi alta naquelas condições, sem saber como seria a minha vida dali para frente.
Buscando nova vida (e respostas)
Indialma, que praticava esportes, gostava de viajar de moto e fazer trilhas, conta que entrou em um quadro depressivo após as amputações e demorou meses até aceitar a nova realidade.
"Foi em Deus que eu encontrei a força necessária para aceitar a minha nova realidade. Fui para a fisioterapia para tentar reconquistar meus movimentos, tive todo um processo de espera em cima de uma cadeira de rodas. Também esperei o processo de cicatrização para poder começar a protetização [uso de próteses] e voltar a andar", conta.
A servidora passou quase seis meses na casa de parentes em Goiânia até conseguir voltar para o Tocantins. Apesar disso, ela precisa fazer viagens periódicas de volta à cidade para tratamentos. A mulher diz também que chegou a ser visitada pelo cirurgião no hospital após a amputação, mas não teve contatos recentes com ele.
"Estou sem muitas respostas. Quem pode fazer a avaliação hoje do que aconteceu deve ser a Justiça. Ingressamos com essa ação para ter todas as respostas que tanto preciso para ter paz e saber de quem foi o erro sobre o que aconteceu comigo", afirma.
Para a defesa da paciente, tanto médico quanto hospital têm "responsabilidade solidária pelo evento lesivo". A Polícia Civil de Goiás informou que o caso é investigado em sigilo pelo 4º Distrito Policial de Goiânia.
Médico e hospital se defendem
O cirurgião responsável pela intervenção foi o médico-cirurgião Fabiano Calixto Fortes de Arruda. De acordo com a defesa dele, a cirurgia ocorreu sem qualquer intercorrência e apontou que os problemas posteriores à operação têm relação direta com a internação da paciente na UTI de outro hospital.
"A paciente evoluiu com trombose arterial, relacionada a procedimento envolvendo a passagem de cateter no membro inferior, que evoluiu com complicações que levaram à amputação do membro inferior, fato este não relacionado à cirurgia", afirma a defesa em nota, esclarecendo ainda que, mesmo que todos os protocolos sejam seguidos, "intercorrências com pacientes não são sinônimos de erros médicos, mas das consequências da inevitável evolução clínica".
Em nota, o Hospital Unique afirmou que se sensibiliza com a paciente e reforçou a informação de que a cirurgia ocorreu sem intercorrências. A administração da unidade de saúde informa que a paciente deu entrada novamente no hospital no dia 12 após ter falta de ar, foi encaminhada para um exame de imagem em outra clínica e voltou do local com uma máquina de oxigênio por insuficiência respiratória. No local, ela foi entubada e encaminhada à UTI de outro hospital em Goiânia.
"No contexto relacionado às boas práticas hospitalares, foi realizada a melhor prestação de serviços, sem nenhuma responsabilidade civil, em especial porque não há vínculo empregatício ou subordinação com o cirurgião plástico, Dr. Fabiano Calixto, afastando, com isso qualquer responsabilidade objetiva da unidade hospitalar", diz nota oficial da unidade de saúde.
A nota apontou que analisará a conduta do médico e disse que aguarda o pronunciamento final das autoridades policiais para se manifestar tecnicamente.
Confira o posicionamento da defesa do médico:
Em relação à informação sobre a cirurgia de lipoaspiração, informamos que a cirurgia foi bem sucedida, não ocorrendo nenhuma intercorrência durante o ato cirúrgico pela cirurgia plástica. Os exames pré-operatórios da paciente foram solicitados e estavam normais.
A paciente recebeu alta hospitalar e, no dia seguinte, queixou-se de dor no peito, em casa, sendo encaminhada pelo cirurgião, e então atendida em hospital de referência de Goiânia, onde não foi detectada nenhuma alteração grave, recebendo alta para casa no mesmo atendimento.
Mesmo com a orientação do Hospital de referência em Goiânia, com o acompanhamento clínico da equipe e do Cirurgião Plástico, orientou-se a reinternação para melhor investigação clínica do quadro. Paciente foi atendida por médico intensivista que iniciou os cuidados no hospital para prosseguir com toda investigação clínica, acompanhada do cirurgião plástico.
Durante a evolução da paciente na UTI, a paciente evoluiu com trombose arterial, relacionada a procedimento relacionado a passagem de cateter no membro inferior, que evoluiu com complicações que levaram à amputação do membro inferior, fato este não relacionado a cirurgia e sim ao procedimento específico realizado na passagem do cateter pela equipe da UTI.
O quadro de trombose arterial e de infecção relatados foram desenvolvidos durante a internação na unidade de cuidados intensivos e não tem relação com a cirurgia de lipoaspiração.
As intercorrências médicas ocorridas com a paciente são inerentes ao exercício da profissão, não são sinônimo de "erro médico", e sim de consequência inevitável da evolução clínica, mesmo com a adoção de todos os protocolos adotados e acompanhamento integral do cirurgião.
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