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'Castigo de silêncio': 47% dos solteiros viveram ghosting e 21% temem apego

Luciana relata já ter vivido cerca de dez situações de ghosting nos últimos quatro anos - Arquivo Pessoal
Luciana relata já ter vivido cerca de dez situações de ghosting nos últimos quatro anos Imagem: Arquivo Pessoal

Camila Corsini

De Universa, em São Paulo

27/01/2023 04h00

Conhecer alguém, trocar mensagens, sair algumas vezes. O que poderia desembocar em um namoro muitas vezes termina em sumiço sem qualquer explicação. É o famoso ghosting — termo em inglês derivado da palavra "fantasma" e usado para aquele caso em que o paquera, que parecia interessado, acaba desaparecendo em um piscar de olhos.

Você deve conhecer alguém que, de tanto medo de tomar um desses "chás de sumiço", até evita engatar um romance.

Essa percepção ganhou números com uma nova pesquisa. O estudo, realizado pelo aplicativo Par Perfeito com 3.200 solteiros, identificou que quase metade (47%) afirma já ter sofrido "ghosting" e 21% têm medo de se apegar e ser deixado pelo parceiro. Entre aqueles que já sofreram ghosting, esse percentual é ainda maior (27%).

Ghosting - Rafaella Robba/Canva - Rafaella Robba/Canva
Pesquisa identificou que quase metade dos solteiros já sofreu ghosting
Imagem: Rafaella Robba/Canva

'Percebi que estava sozinha'

A sergipana Luciana Nascimento, de 30 anos, é uma delas. A Universa, ela conta como lida com os relacionamentos desde que se tornou alvo frequente de pessoas que somem como fantasmas.

"Nunca namorei. Há dois anos eu achava que estava em um namoro — e foi justamente a partir de um ghosting que eu percebi que estava sozinha.

Hoje até tenho um perfil em aplicativo, mas esqueço de usar. Conto com a sorte de conhecer pessoas por meio de amigos ou por acaso. Mas, ultimamente, tenho até evitado isso.

Um dos piores ghostings com que tive de lidar foi há alguns anos. Eu me colocava extremamente à disposição e a pessoa simplesmente virou uma chavinha. Parou de falar comigo e não olhava mais na minha cara.

Por muito tempo, tentei conversar, mas o tratamento sempre era péssimo ou de silêncio. Era uma pessoa que se mostrou afetiva no começo, mas depois mudou da água para o vinho.

Em um outro caso, a pessoa sumiu. Tentava falar pelo WhatsApp, não me respondia. Me via na rua, virava a cara. Acho que também passa por eu ser uma mulher negra. Percebi que o ghosting comigo era muito cruel.

Uma vez, o cara colocou a culpa em mim por ter criado expectativas demais. Só que ele quem veio atrás de mim. Eu nem o conhecia. Ele me viu no perfil de uma amiga, insistiu em mim. Quando conseguiu, caiu fora.

Poderia passar o dia inteiro falando sobre isso — consigo contar mais de dez casos apenas nos últimos quatro anos

O contexto é sempre o mesmo: são pessoas muito disponíveis que, de repente, mudam a chave e ficam indisponíveis. Não estão abertas. Ou estão abertas demais e, de repente, ficam reativas. Não têm a coragem de dizer 'não dá mais'.

Querem fazer você parecer doida, errada, exagerada e insistente. É uma estratégia que eu considero violenta

Muita gente age assim por questões não resolvidas — não sabe o que quer, não encontra e simplesmente descarta. Outros agem por maldade mesmo, facilidade de não se apegar ou construir algo saudável e ter responsabilidade emocional. Não acho que seja só imaturidade.

Para mim, é inadmissível fazer castigo de silêncio, sumir e agir como se nada tivesse acontecido. O machismo estrutural incentiva homens a se amarem entre si e tratarem as mulheres como qualquer coisa.

Em muitos momentos, achava que era culpa minha. Tentava ter outro direcionamento, mudava minhas atitudes. Mas já era claro que ele não queria estar comigo, só não queria dizer.

Todos esses casos fizeram com que eu olhasse para dentro de mim e das minhas atitudes e buscasse o melhor para mim

Infelizmente eu só fui perceber isso depois dos 29 anos, demorou. Graças à análise pude entender várias coisas. Se sinto minha intuição apertar, dou para trás. Aos poucos, tento conhecer pessoas, mas jamais ultrapassando meus limites.

E, quando vejo uma bandeira vermelha levantada, caio fora. Isso não é ser relutante ou difícil, mas é porque sabemos o que as pessoas são capazes de fazer."

Caso não é isolado

Ghosting - Felipe Germano/Canva - Felipe Germano/Canva
Ghosting: prática é comum, mas desencoraja novos relacionamentos
Imagem: Felipe Germano/Canva

Segundo o estudo, em comparação com a pesquisa realizada em 2018, o porcentual de quem afirma já ter sofrido ghosting cresceu. Entre as principais vítimas dessa prática estão as mulheres, os mais jovens, pessoas com maior poder aquisitivo e não heterossexuais.

De um modo geral, segundo a pesquisa, 88% dos entrevistados têm algum tipo de receio ao iniciar um novo relacionamento. O levantamento também mapeou quais são as expectativas dos solteiros em um novo relacionamento:

  • 64% querem encontrar alguém que seja companheiro em todos os momentos;
  • 53% desejam que o parceiro o ajude a evoluir como pessoa;
  • 46% querem que tenham objetivos em comum;
  • 43% querem encontrar alguém com com autoconhecimento e estabilidade emocional.

Os participantes do estudo têm mais de 18 anos, são usuários e não usuários de aplicativos de relacionamento de todas as classes socioeconômicas e várias partes do país. Eles responderam a questionários online em uma plataforma. A pesquisa foi realizada pela Ideia Consumer Insights em parceria com a Toluna, entre 25 de outubro e 3 de novembro de 2022.