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Caso Saul Klein

A investigação envolvendo empresário, membro da família que fundou as Casas Bahia, acusado de crimes sexuais por 14 mulheres


Como acusações de estupro envolvendo Saul Klein entram em briga por herança

Camila Brandalise, Cristina Fibe e Pedro Lopes

Colaboração para Universa, no Rio; do UOL, em São Paulo

03/02/2023 04h00

Michael, Eva e Saul Klein, os três filhos escolhidos como herdeiros por Samuel Klein (1923-2014), fundador das Casas Bahia, travam na Justiça um embate por uma das maiores fortunas do Brasil.

Pedidos milionários de adiantamento feitos por Saul têm sido refutados pelos irmãos na disputa pela herança. Eva cita que o empresário está falido e que gastou seu dinheiro em "extravagâncias financeiras e desvios morais".

Michael e Eva Klein lembram as denúncias contra Saul, já publicadas por Universa, e as acusações de estupro, prostituição e tráfico de mulheres, entre outros crimes, pelas quais está sendo investigado e processado.

As denúncias também estão no documentário "Saul Klein e o Império do Abuso", de Universa e MOV, a produtora de vídeos do UOL.

Michael destaca no processo do inventário do pai que Saul "vem sendo demandado civilmente em ações de alta monta". Ele se refere aos processos trabalhistas movidos por jovens que o denunciaram por violência sexual após terem sido contratadas para participar das festas em suas residências.

Universa já mostrou, com informações obtidas nos processos judiciais, que em um deles o acordo foi de R$ 800 mil, e a garota em questão também o denunciou por estupro.

"Além de estar sendo, inclusive, investigado no âmbito criminal", afirma Michael no processo.

Saul Klein entre duas jovens durante evento em sua mansão, em foto que consta no inquérito do caso - Reprodução - Reprodução
Saul Klein entre duas jovens durante evento em sua mansão, em foto que consta no inquérito do caso
Imagem: Reprodução

Relembre o caso

Saul Klein é investigado pela polícia desde setembro de 2020 pelos crimes de organização criminosa, trabalho análogo à escravidão, tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, casa de prostituição, favorecimento à prostituição e falsificação de documento público.

O processo envolve 14 jovens, que fizeram as primeiras denúncias em setembro de 2020 à então promotora de justiça Gabriela Manssur e foram encaminhadas ao projeto Justiceiras. As vítimas passaram por acolhimento psicológico e orientação jurídica, e as acusações foram levadas à Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri.

Após 18 meses de investigação e três trocas de delegados, a polícia finalizou o inquérito pedindo indiciamento e prisão de Saul Klein em 29 de abril de 2022. A Justiça, no entanto, rejeitou o pedido em 19 de maio, argumentando que ainda há dúvidas a serem esclarecidas A investigação foi retomada, e não há previsão de conclusão.

Enquanto isso, o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação civil pública contra Saul Klein por tráfico e escravidão sexual. A indenização pedida é de R$ 80 milhões e, caso a Justiça declare que Klein deva pagá-la, será encaminhada ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) ou a programas sociais. O caso aguarda julgamento.

Saul Klein fotografado em uma de suas festas - Reprodução - Reprodução
Polícia pede prisão preventiva do empresário Saul Klein por crimes sexuais
Imagem: Reprodução

"Direito de Saul à herança não tem relação com investigação policial", diz advogado

A reportagem procurou o advogado que representa Saul no processo, Ricardo Zamariola Junior, do escritório Luc Advogados. Ele afirmou que os pedidos de seu cliente não são propriamente para antecipação da herança.

"São para que seja cumprido um memorando que foi celebrado entre os herdeiros anos atrás", afirma.

Ele se refere a um acordo entre os irmãos firmado em 2015, em que transferem uns aos outros partes de imóveis e quotas societárias disponibilizadas após a morte de Samuel. Saul Klein abre mão de participação nas Casas Bahia para ficar com a maior parcela da herança.

Após os trâmites decididos entre os herdeiros, Saul teria o direito a mais de R$ 300 milhões; Eva, R$ 84 milhões; Michael, R$ 72 milhões; e as duas empresas representadas por Natalie, R$ 21 milhões cada uma.

Mas os valores só podem ser repassados, segundo os irmãos, quando o inventário for encerrado, e Saul quer uma parte antes. Michael e Eva dizem que ele já recebeu o que teria de receber e que, agora, tenta tirar dinheiro da herança antes do fim do processo.

Sobre as acusações criminais, Zamariola afirma que o direito de Saul à herança do pai não tem "qualquer relação com os fatos que vêm sendo investigados pelas autoridades policiais".

"As alegações do senhor Michael Klein e da senhora Eva Klein constituem apenas e tão somente tentativa de desviar o foco" da partilha dos bens.

A respeito das investigação da polícia relacionada às denúncias de abusos sexuais, o advogado de defesa de Saul, André Boiani e Azevedo, nega todas as acusações contra o empresário.

Diz que Saul tinha, sim, relações com as mulheres, mas que não houve qualquer tipo de ato violento.

"Ele mantinha relações consentidas com essas moças. [...] Essa aproximação não dava a ele direito algum de manter relações sexuais forçadas com quem quer que fosse, tanto é que não ocorreram", afirmou Boiani anterioremente a Universa.

Os advogados de Michael e Eva Klein também foram procurados, mas disseram que não vão se pronunciar sobre o caso.