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Nicole Bahls sobre assédio na época do 'Pânico': 'Medo de ser demitida'

De Universa, em São Paulo

03/02/2023 04h00

No dia 18 de janeiro, Nicole Bahls recebeu uma visita inesperada em sua casa: a da Polícia Federal. De camburão, foi levada a uma delegacia para prestar depoimento sobre seus dois macacos de estimação, Mikal e Davi. Descobriu que comprou os bichos dentro de um esquema de tráfico de animais, motivo que a levou a ser procurada pelos policiais e por agentes do Ibama.

"O episódio me conscientizou da gravidade que é um artista ter um animalzinho silvestre, mesmo legalizado, porque somos espelho para muitas pessoas", diz, em conversa com Universa, vendo o lado bom da história.

Modelo e apresentadora, Nicole hoje se dedica à produção de conteúdo digital: faz diversas publicidades em seu Instagram, aproveitando a simpatia e a espontaneidade que a lançou à fama no "Pânico", da RedeTV!, onde trabalhou de 2009 a 2015 como panicat.

Do programa, guarda gratidão pela primeira oportunidade na televisão, mas não se esquiva em dizer que o humorístico ultrapassou limites". "Se fosse nos dias de hoje, seria muito difícil o 'Pânico' ser sustentável e as pessoas darem audiência como era antes", opina. E afirma que o episódio de assédio sexual vivido em 2013, durante uma gravação externa, teria outro desfecho.

Na ocasião, o diretor de teatro Gerald Thomas colocou a mão embaixo do vestido dela, entre suas pernas e, mesmo com a modelo visilmente incomodada, continuou. "Foi uma coisa bem constrangedora. Na hora, me senti muito desconfortável", contou. "Não levei como pauta para o programa porque tinha medo de ser demitida. Hoje, mais madura, buscaria por uma penalidade para quem fez esse ato."

Leia trechos da entrevista abaixo.

UNIVERSA: Pensando em como as mulheres eram tratadas no programa "Pânico", como você avalia a experiência de ter sido uma panicat?
Nicole Bahls: Sou muito grata a eles porque foram os primeiros nomes que me deram uma oportunidade de trabalhar na televisão.

Eu não tinha noção, era muito nova, não era uma coisa que me fazia mal. Mas, com o conhecimento que aprendi, vejo que, se fosse nos dias de hoje, seria muito difícil o "Pânico" ser sustentável e as pessoas darem audiência como antes. Tinham alguns momentos que seriam considerados intoleráveis.

Naquela época não tinha tantas regras como hoje, e essas regras são muito importantes para melhorar o convívio entre as pessoas.

Tem gente que fala "ai, tem muito 'mimimi', tem muita militância", mas acho de extrema importância a militância. Graças ao "mimimi" muitos limites têm sido dados para não machucarem as pessoas, para não expor as mulheres, para não tratar a mulher como objeto.

Em quais momentos você acha que o programa passou do limite?
Tive uma gravação [em 2013] que eu estava com um vestido muito curtinho. Um diretor de teatro [Gerald Thomas] tentou enfiar a mão debaixo do meu vestido, em direção à minha calcinha. Foi uma coisa bem constrangedora. Na hora, me senti muito desconfortável.

Foi um negócio que me fez mal. Depois fiquei um pouco reflexiva, ia gravar com medo das pessoas na rua, do que elas poderiam fazer, o que eu poderia passar. Pensei que poderia ser por causa das roupas que a gente usava, mas roupa não justifica. Se for assim, não podemos mais sair na rua. Tem que ter respeito.

Não levei como pauta para o programa porque tinha até medo de ser demitida. Naquela época, não tinha conhecimento de como agir com aquilo. Fiquei tentando digerir por um tempo, mas tenho plena certeza que é uma coisa séria e que isso não poderia ter acontecido. Hoje, mais madura, buscaria por uma penalidade para quem fez esse ato.

A PF e o Ibama foram até sua casa em 18 de janeiro por causa dos seus macacos de estimação. O que aconteceu?
Ganhei os macaquinhos de aniversário porque tinha esse sonho. Passou um tempo, saí de casa para ir ao mercado, e minha funcionária ligou para falar: "Nicole, tem um pessoal da Polícia Federal e do Ibama aqui para saber do Mikal e do Davi". Eram oito pessoas nessa operação, quatro policiais federais e quatro agentes do Ibama.

Fizeram uma entrevista e levei para conhecer o espaço dos macaquinhos —fiz um lago, com brinquedos para eles se movimentarem e serem criados soltos. Depois de três horas de conversa, um policial, muito educado, disse: "Nicole, você vai ter que acompanhar a gente até a delegacia porque, infelizmente, os documentos dos seus macacos são falsos". Meu mundo veio abaixo, quase morri do coração. Já tinha um laço afetivo muito grande com eles.

Pensei "meu Deus, vou ter que entrar no camburão, misericórdia". Com a investigação, chegaram na moça que vendeu os macacos. E agora eles estão vendo se vão conseguir reabilitar os animais para voltar à natureza ou se vão continuar por aqui um tempo. Não sei como será esse processo.

Deu para aprender alguma coisa com esse susto?
Sim. O pessoal do Ibama o tempo me conscientizou da gravidade que é um artista ter um animalzinho silvestre, mesmo legalizado, porque somos espelho para muitas pessoas. E acabou que esse espaço que eu montei para os macacos pode receber outros que são resgatados, porque às vezes não têm espaço suficiente para recebê-los. Já tem um que estou completamente apaixonada, sem braços, que é o Marcelinho, vou fazer um cadastro e quero poder recebê-lo na minha casa.

Boninho, diretor da Globo, falou que até gostaria de ter você no BBB, mas disse que você "queimou o cartucho" por ter participado de A Fazenda. Foi reality demais mesmo ou ainda quer ir para mais algum?
Acho que queimei meu cartucho mesmo, mas ele também tem que levar em consideração que, quando fui para A Fazenda, não tinha artista no Big Brother. Então ele tem que repensar, tem que mandar esse convite para mim, que sou apaixonada pelo programa.

Nicole Bahls e Boninho: modelo ainda quer uma chance no BBB - Instagram - Instagram
Nicole Bahls e Boninho: modelo ainda quer uma chance no BBB
Imagem: Instagram

O BBB é uma coisa que ainda tenho curiosidade de participar. Mas confesso que converso comigo: "Nicole, mas você quer ir para mais um reality. Ninguém aguenta mais sua cara". Acho que fiquei três meses na primeira A Fazendo, depois mais três meses no Power Couple, são mais de 200 dias em reality show. É uma experiência incrível, que vale a pena viver.

Depois de cinco anos brilhando na avenida, em 2023 você não vai desfilar no carnaval. Por quê?
Esse ano queria me dedicar mais ao Camarote Mar que vou ser embaixadora, então decidi não desfilar mais. Para ocupar vaga de uma escola, temos que nos dedicar de corpo e alma. Tudo que me dedico a fazer, me entrego completamente. Então, achei que poderia me atrapalhar um pouco por conta de agenda.

Em 2023, Nicole Bahls se deixa desfile na Sapucaí para se dedicar a camarote - Instagram - Instagram
Em 2023, Nicole Bahls se deixa desfile na Sapucaí para se dedicar a camarote
Imagem: Instagram

Em uma escola de samba, mulheres, meninas e a comunidade passam o ano inteiro trabalhando, crescem ali. Então acho que a gente tem que ter responsabilidade quando assume um posto numa escola.

Como é sua relação com o carnaval?
Minha mãe é apaixonada pela escola de samba Beija-Flor e transferiu isso para mim. Desfilei pela primeira vez pela Mangueira e pude sentir aquele clima, foi um sonho. Já tinha um carinho pela escola por acompanhar outros artistas que faziam parte dela. Depois fui Vila Isabel, para admirar a Sabrina [Sato] e também acabei me envolvendo com a energia da escola. Mas como um bom filho à casa retorna, ano passado foi meu último desfile, pela Beija-Flor.

Nicole Bahls (à direita) com outras "panicats" do programa "Pânico na TV!" - Reprodução - Reprodução
Nicole Bahls (à direita) com outras "panicats" do programa "Pânico na TV!"
Imagem: Reprodução

Você sente alguma pressão com seu corpo?
Hoje a cobrança é um pouco menor. Na época do "Pânico" era bem mais, Estávamos muito expostas de biquíni, não podia ficar com a barriga estufada, eram várias "panicats", então acabava existindo uma concorrência de quem estava com a barriga mais murcha do que a outra, quem estava com menos celulite. Nunca transformei isso em sofrimento. Era uma cobrança minha para estar bem, para fazer a entrega no meu trabalho.

Neste momento da minha vida não preciso me cobrar tanto. Já venho amadurecendo mais isso, acho que tudo que é excesso faz mal. Então tem dias que quero comer um sanduíche, vou uma feijoada se quiser e, no outro dia vou maneirar um pouco mais.

Por trabalhar muito com seu corpo, você já sentiu alguma pressão de ter que ser muito ligada em sexo?
Às vezes as pessoas acham que uma mulher, por ser sex symbol, tem que subir de ponta cabeça, virar no teto. É uma cobrança muito externa. Para mim, as coisas têm que ser sentidas. Se não tivessem sentimento, vai ser uma coisa muito vaga. Sou uma mulher de entrega, mas gosto de entrega com bastante sentimento. Não gosto só do "oba-oba".

Você deixou de pegar o avião da "farofa da Gkay" depois que uma vidente previu que a aeronave cairia. Qual sua relação com espiritualidade e crenças?
Saiu uma notícia de uma vidente falando que o avião poderia cair, sou muito supersticiosa e amante da vida. Pensei: "Minha vida está tão boa, estou construindo minha casa, realizando um sonho. Depois de tanta luta, como é que vou pegar um avião desse cair?". E aí acabei comprando outro voo, até mais caro. Sou medrosa, não tenho coragem de ir em montanha-russa, não tenho coragem de saltar de paraquedas. Mas tenho a fé muito presente na minha vida. Sou de uma família católica desde criança. Minha avó sempre foi muito religiosa. Gosto de astrologia, gosto de ouvir hino evangélico. Toda religião tem um pouquinho de coisa boa para a vida.