'Não saio de casa', diz mulher que divulgou estupro para denunciar o ex
A mulher que publicou nas redes sociais imagens de agressões e estupros cometidos pelo ex-marido em Praia Grande (SP) contou que vive com medo e não sai de casa, mesmo com o suspeito detido.
Juliana Rizzo, 34, disse que mesmo preso preventivamente, Ricardo Penna Guerreiro, 46, ainda a ameaça. O homem estaria se relacionando com pessoas ligadas a facções criminosas, criando um clima de tensão constante na vida da vítima.
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"Estão me dizendo que ele deu uns nomes para pessoas que deveriam ser procuradas. Eu não estou saindo de casa, não estou bem psicologicamente", afirmou a mulher em entrevista a Universa.
A vítima chegou a passar oito meses escondida de Ricardo em uma casa no interior de São Paulo em uma das primeiras tentativas de fugir das agressões sofridas em casa.
O suspeito encontrou o endereço dela em um e-mail de cobrança e foi até a mulher em um "gesto de cuidado" quando ela pegou covid-19.
"Tive muito medo. Acabei conversando com ele, mas ele se demonstrou disposto a ajudar", recorda.
Na ocasião, eles fizeram uma viagem de barco, mesmo a contragosto da mulher. "Ele começou a beber e usar drogas. Quando anoiteceu, eu falei pra irmos embora. Ele ficou nervoso e me sentou com um soco no peito. Eu sabia que havia mais agressão. Ele me espancou e gritava xingava mandando ir embora em alto mar. Eu pensei: 'Esse monstro não mudou nada. Só piorou'", afirmou.
Além de ser agredida, ela conta que ouviu o homem se gabando após bater nela. "Eu escutei ele contando pra filha e pro genro dando risada: 'Bati na Juliana igual bate em homem'", recorda.
As agressões também eram feitas por meio de ameaças em mensagens.
Após receber uma medida protetiva, o homem enviou uma foto do documento para a vítima e a ameaçou novamente. "Você é extremamente insana e inconsequente. Como você pôde? Suas insanidades complicam a minha vida, de verdade", afirmou.
"Vou chutar sua cara. O mandado de prisão já saiu", completa.
"Vou matar você, vou esfaquear você", diz o homem em outra mensagem. "Tem que ser furada na barriga", afirma em outro momento.
Agora, isolada em casa, Juliana procura um emprego para tentar seguir a vida. Ela só conseguiu "permissão" do ex abusivo para estudar próximo ao fim do relacionamento e não renovou a matrícula para o quinto semestre do curso de direito.
"Eu estou aflita. Busco uma oportunidade de trabalho. Quero recomeçar minha vida, temo pela minha vida", afirma.
Entenda o caso
- Juliana Rizzo, 34, denunciou ter sido agredida e estuprada enquanto dormia pelo próprio marido, Ricardo Penna Guerreiro, 46
- Ela chegou a compartilhar cenas do estupro sofrido dentro de casa nas redes sociais para denunciar o ocorrido
- O relacionamento dos dois começou em 2017 e acabou em 2021, após os estupros e agressões por parte do marido aos filhos dela
- Além de publicar as cenas de estupro, a mulher postou imagens de hematomas e outros ferimentos sofridos por ela nas redes
Ricardo Penna foi preso preventivamente no último dia 27 após passar por uma audiência de custódia.
"Por ora, por ser segredo de justiça, não podemos nos manifestar", disse Renan de Lima Claro, sócio do advogado Alex Ochsendorf, que faz a defesa de Ricardo, a Universa.
A violência sexual contra a mulher no Brasil
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.
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