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'Controlava minha roupa': como evitar desgastes com padrastos e madrastas

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa

11/02/2023 04h00

Quando a mãe da estilista Carolina Souto*, 31 anos, decidiu se casar de novo, ela apoiou. Afinal, a convivência com o futuro padrasto sempre havia sido boa. Só que o cenário mudou quando todos foram morar juntos. Na tentativa de fazer o papel de pai, as proibições do novo membro da família passaram a incomodar a enteada.

Na adolescência, as coisas costumam ficar mais complicadas e, quando comecei a namorar, minha mãe aprovou meu namorado, mas ele não. Chegava a tratar mal. Isso também aconteceu com outro relacionamento"

Além da interferência nas relações, a estilista lembra que o padrasto tinha o hábito de impor regras, como a hora para chegar e as roupas que ela usava, por exemplo.

As atitudes incomodaram tanto que Carolina decidiu fazer um intercâmbio em Portugal, aos 19 anos. Da capital Lisboa, não voltou mais.

"A situação desgastou para nós três. Não julgo minha mãe, nem me sinto no direito de impedi-la de amar, mas as coisas poderiam ter sido diferentes, como são com a minha meia-irmã", desabafa.

Padrasto e madrasta não são pais

Para a terapeuta Ivana Cabral, especialista em relacionamentos, um dos maiores erros que podem acontecer numa relação é justamente quando o padrasto e a madrasta tentam ocupar o papel que não é deles na vida dos enteados.

O correto, em qualquer cenário, é respeitar a posição de cada um.

A profissional indica que o melhor a ser feito é se moldar àquela família já existente. Ou seja, em vez de a pessoa que está chegando buscar modular o lar a partir de sua personalidade, é recomendado que perceba a dinâmica da casa e vá ingressando no ritmo, aos poucos.

Depois de conquistar seu espaço, aí sim pode pensar em sugerir mudanças.

A própria separação dos pais já pode afetar a criança e os jovens de muitas maneiras. Além da alteração na rotina, há a sensação de quebra da confiança e da idealização familiar, a ansiedade, o medo de abandono e até mesmo a depressão por uma espécie de luto.

Da mesma forma, a desconfiança e a dúvida sobre ser ou não aceito pelo padrasto ou madrasta são bastante comuns.

Práticas que ajudam o convívio

Entender o processo dos filhos é o pontapé inicial para os pais que desejam dar uma segunda chance ao amor.

Apostar em boas práticas de convivência desde o início ajuda a driblar os problemas que levam à desarmonia no lar.

"É importante ter uma comunicação clara, explicitar as regras de convivência, as dificuldades, as necessidades. O 'contrato de convivência' precisa deixar de ser implícito", diz o psicólogo Filipe Colombini.

É sempre bom desapegar daquele padrão de família feliz, típico dos "comerciais de margarina", e pensar em pessoas com histórias e valores diferentes, que requerem acolhimento, compreensão e empatia.

Assim, erros e acertos serão assumidos, dando espaço à discussão desse novo contexto familiar.

Para Ivana, é fundamental que esse processo seja gradual, sem mudanças bruscas, porque requer adaptações de todas as partes.

Uma dica para trazer naturalidade é promover viagens juntos antes de todos morarem na mesma casa para já irem convivendo por um tempo maior.

Ela também lembra a importância de separar bem os papéis. Ou seja, quando a mãe ou o pai estiver em uma discussão com os filhos, o ideal é que a madrasta ou o padrasto não participe.

"Jamais deve-se castigar fisicamente um enteado. Essa já é uma prática considerada inadequada para os próprios pais, quem dirá para padrastos ou madrastas. É o maior fator para criar um ambiente desagradável", aponta a especialista.

Quando a harmonia não acontece

Desde a decisão por um novo casamento, é importante a mãe ou o pai ter em mente a possibilidade de o novo par e o filho não se darem bem. Caso isso aconteça, uma ponderação passa a ser necessária, segundo os profissionais.

Filipe admite que não há uma fórmula: cada pai ou mãe terá o seu melhor jeito de encarar tudo.

Ainda assim, manter diálogo, regular o emocional e buscar entender o filho com empatia são algumas atitudes básicas.

"Recomenda-se buscar espaços e momentos reservados para troca tanto com o filho, quanto com o novo cônjuge. Depois, pode haver trocas mediadas entre ambos", orienta o psicólogo.

Se a dinâmica não melhorar, talvez seja a hora de buscar ajuda profissional.

Buscar o equilíbrio é a melhor e a mais óbvia saída, mas não deixe de fazer ponderações. "Companheiros vêm e vão, mas um filho é para sempre. Ele não merece ser jogado de lado quando um novo relacionamento amoroso é iniciado", diz Ivana.

Em contrapartida, o cenário pode ser positivo, permitindo ao filho experimentar a sensação de pertencimento com relação à nova família, além de um alívio por não estar mais em um ambiente tóxico —se este for o caso.

E, é claro, ver o pai ou a mãe feliz significa muito.