Rebeca Andrade: noias com corpo, preparo para 2024 e novo 'Baile de Favela'
Aos 23 anos, a medalhista olímpica Rebeca Andrade sustenta o título de maior ginasta brasileira —pressão com que a jovem diz lidar com tranquilidade e orgulho.
A um ano da Olimpíada de Paris, Rebeca se prepara com expectativa de superar os feitos de um ano e meio atrás, quando conquistou o país com a apresentação ao som de "Baile de Favela" e se tornou a primeira brasileira campeã olímpica e a primeira atleta do país a ganhar duas medalhas numa mesma edição do campeonato.
Rebeca, que faz faculdade de psicologia, contou a Universa a fórmula que a ajuda superar a pressão de superar suas próprias marcas: acompanhamento psicológico, treinamento em equipe e, quando tem tempo livre, dancinhas no TikTok.
Na entrevista, a atleta relatou já ter tido problemas com autoestima: "Mais nova, não gostava do meu nariz, da minha pele, da minha barriga. Mas fui crescendo e me amando", diz.
O esporte foi peça fundamental no amor próprio, afirma Rebeca, que é a estrela de campanha BodyWork, de artigos esportivos, recém-lançada pela Riachuelo.
Rebeca também falou sobre o episódio em que teve que vir a público esclarecer que não apoiava o ex-presidente Jair Bolsonaro, depois de curtidas em publicações nas redes sociais. "Não entendo muito de política. Não teria como eu me posicionar como vejo várias outras pessoas se posicionando", diz ela. "Quando falo, é sobre política pública para o esporte."
Confira os principais trechos.
UNIVERSA: Você é uma referência no esporte brasileiro hoje. Quais suas memórias do início da carreira?
Rebeca Andrade: Comecei aos 4 anos porque a minha tia trabalhava num ginásio e perguntou para minha mãe se poderia me levar, ela queria que eu fizesse um teste para entrar na equipe de ginástica lá.
Fui me saindo bem, mas no início foi muito difícil. Minha mãe precisou abdicar de algumas coisas. Ela me dava o dinheiro da condução dela, para que eu pudesse ir para o ginásio. Era empregada doméstica, o serviço dela era longe, ia caminhando e já chegava cansada. Fez isso durante seis meses. Se não fosse por ela, se não fosse pelos meus irmãos, que me levavam para treinar, não estaria aqui hoje.
Com certeza é mérito meu por não ter desistido, por ter enfrentado todos os momentos difíceis, por ter acreditado, mas também da minha equipe, das pessoas que acreditaram em mim.
E quando você entendeu que a ginástica seria sua profissão?
Quando precisei sair de casa com 10 anos, me mudei para Curitiba para treinar, minha família toda ficou em São Paulo, viajei junto com os meus treinadores. Fiquei morando lá por um ano, depois fui para o Rio em 2011 e estou aqui desde então.
Não tinha dúvidas, em nenhum momento virei para minha mãe e disse que não queria mais, que tinha me arrependido da minha decisão.
A que teve que renunciar para se tornar a atleta que você é hoje?
O mais difícil é não estar com minha família, ir à escola e ver gente, estar com pessoas. Fiz meus últimos três anos do colégio à distância. Naquela época, deixar de ir às festas de 15 anos das minhas amigas foi difícil, mas fiz minhas escolhas. Poderia ir para festa? Poderia. Mas valeria a pena perder um dia de treino, sendo que eu teria um ano tão importante, que seriam as Olimpíadas de 2016? Na adolescência, esses são os seus problemas.
Seu namorado também é atleta. Facilita estar com alguém com um ritmo parecido ao seu?
Escolhi a melhor pessoa para estar ao meu lado. Meu namorado [Luiz Cleiton] é atleta de fisiculturismo também. Ele treina muito, faz muito cardio e essas coisas. entende o que é estar cansado e não querer sair. Passamos a maior parte do tempo dormindo, e adoro dormir!
Como uma ginasta de alta performance lida com a preguiça?
Faz parte da vida ter dias de cansaço, de preguiça ou de raiva. Sou tranquila com isso, aceito quando acontece porque não sou um robô. Não fico desmotivada, mas tem dias que fico com muita preguiça.
Aí eu sofro. Às vezes, fico até mais séria no treino, e as pessoas reparam porque sou uma menina muito alegre, gosto de conversar, gosto de falar, estou sempre dando risada.
Você tem noias com seu corpo?
Gosto muito do meu corpo quando estou em período de competição, sinto que fica mais tonificado. Mas respeito cada fase dele. Sei que, quando entro em férias e não sigo tanto a dieta, não estarei igual quando tenho competição.
Quando era mais nova tive muito mais problemas com isso. Não gostava do meu nariz, da minha pele, da minha barriga. Mas fui crescendo e me amando. Não porque falaram que eu tinha que me amar mais, mas porque fui conhecendo meu corpo.
Precisamos abraçar nossas fases. Não estou falando que é fácil, realmente é muito difícil para a mulher porque sempre recebemos muito julgamento.
No ano passado, a ginasta Simone Biles desistiu de competir durante a Olimpíada por questões de saúde mental. Como você cuida disso?
São dois pontos. O primeiro é a minha psicóloga, a Aline, que me acompanha desde os meus 13 anos. Estamos sempre em contato. Conversamos de duas em duas semanas, mas se nesse meio tempo eu tiver algum problema, uma ansiedade, ela está lá, pronta para me atender.
E o outro ponto é saber que minha equipe está com o mesmo objetivo que eu, que estamos lutando, treinando para alcançar as mesmas coisas. Isso me tranquiliza bastante porque, por mais que eu tenha um dia difícil dentro do ginásio ou fora dele, sei que estou dando 110% de mim. As minhas amigas também. Sei que, se chegarmos na competição, vamos estar prontas para fazer o nosso melhor, e isso me dá esse conforto.
Tento me manter saudável, tanto da mente quanto do corpo. Quando chego do treino cansada, vou assistir a uma série ou ter meus momentos de lazer, ir à praia, ao cinema, fazer dancinha para o TikTok e coisas que me deixam tranquila.
Muitos atletas criticam o baixo investimento do Brasil no esporte. Como mudar isso?
Hoje temos um pouco mais de possibilidades e oportunidades, mas sempre pode melhorar. Deveríamos ter mais acesso ao esporte nas escolas e em outros lugares públicos, porque tem muita gente que não tem condição de se manter --às vezes porque não pode pagar o lugar que oferece o esporte ou é difícil chegar até lá.
Imagina se a criança tem talento, mas que não pode ser explorado porque os pais ou a pessoa que cuida não tem condições de pagar aquele lugar onde está acontecendo o esporte que a que a criança quer fazer? Isso é muito difícil.
Você acha que meninas, principalmente meninas negras como você, têm as mesmas oportunidades que os meninos no esporte?
Ainda tem uma diferença. Mas o esporte feminino está crescendo muito. Na última Olimpíada, quase nos igualamos. Isso é muito grandioso para as mulheres. A maior parte das conquistas de medalhas foi de mulheres. Me sinto megaorgulhosa de fazer parte dessa porcentagem.
E na questão de pessoas pretas conseguirem entrar e ter apoio no esporte, sempre vou achar que pode melhorar.
Mas hoje temos muito mais gente para inspirar e para falar sobre, como eu, ao usar minha voz para falar sobre isso, ou a Dai [a ex-ginasta Daiane dos Santos] usar a voz dela para falar sobre isso. Ela foi a minha maior inspiração para continuar fazendo ginástica. Quanto mais espelhos tivermos, com mais resultados, mais portas conseguiremos abrir para outras meninas, de outras gerações. E isso tem acontecido.
Em novembro, você teve que vir a público esclarecer que não era uma apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como é sua relação com a política?
Falo sobre política pública: sobre o incentivo ao esporte, o que precisamos, o que precisa melhorar, o que já está legal. Essa é a minha parte, porque não entendo muito de política, não. Não teria como eu me posicionar como vejo várias outras pessoas se posicionando.
Depois da música "Baile de Favela" marcar suas apresentações, o que prepara para 2024?
Todo mundo está me perguntando isso, estou tão ansiosa quanto vocês. Ainda não sei. Vou encontrar com Rhony [Ferreira, coreógrafo] e saber se ele está com alguma ideia, se ele já tem alguma música pronta.
Estou torcendo por uma música que seja tão boa quanto "Baile de Favela" porque ela pegou em todo o todo mundo, tinha uma batida muito legal e a coreografia ficou incrível, sem contar a alegria de levar a música para o outro lado do mundo, em Tóquio. Foi muito grandioso.
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