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Ela planejava terminar, ele acreditava no futuro: duas versões do término

Carlos e Beatriz namoraram por cinco anos, até que decidiram terminar. A separação, porém, tem duas versões - Arquivo pessoal/Arte UOL
Carlos e Beatriz namoraram por cinco anos, até que decidiram terminar. A separação, porém, tem duas versões Imagem: Arquivo pessoal/Arte UOL

De Universa, em São Paulo

27/02/2023 04h00

Toda história tem dois lados, inclusive no amor. Universa conversou com um casal sobre o fim do relacionamento, e ambos narraram como foi o dia do fim e o que os levou àquele destino. Mas, adiantamos, as visões do que aconteceu são bem diferentes.

Com honestidade e sensibilidade, ficou claro que cada um tomou uma direção, mesmo antes do fim. Enquanto ela já planejava terminar, ele acreditava que era uma fase e que os dois seguiriam juntos.

Leia os depoimentos abaixo.

"Tinha decidido terminar uma semana antes da conversa"

Beatriz Silva Costa, 19, estudante, São Paulo (SP)

"Murilo e eu ficamos juntos por quase cinco anos e foi uma grande experiência. Nosso relacionamento começou aos 14. Acredito que esse é o motivo que fez com que eu me tornasse tão emocionalmente dependente dele. Sem o apoio dos meus pais, não tinha com quem conversar sobre a relação. Me afastei de algumas amizades. Meu mundo era ele. Achava que, se terminássemos, ficaria sozinha para sempre.

Todas as sensações eram intensas. Ele foi meu primeiro namorado e meu primeiro amor. Até minhas amigas entenderam essa intensidade, mesmo com meu afastamento. Elas sabiam que ia passar --e realmente passou. Demorou uns quatro anos, notei que a vida não tinha como ser só com ele, que existiam outros ciclos sociais e outras pessoas que eram importantes.
Entendi, conforme fomos crescendo juntos, que ele também precisava de espaço.

Dois lados de um término, frase Beatriz - Arquivo pessoal/Arte UOL - Arquivo pessoal/Arte UOL
Imagem: Arquivo pessoal/Arte UOL

A pandemia ajudou no distanciamento. Chegamos a ficar seis meses sem nos ver, só nos falando por telefone. As coisas foram esfriando.

A gente estava empurrando a relação com a barriga. Eu estava conseguindo ser mais independente emocionalmente dele, inclusive fui pedindo um tempo, mesmo que ainda dentro da relação, e sinalizei que não estava bem. Precisava lidar com algumas inseguranças. Mas fomos deixando rolar.

Em 2022, fomos morar na Argentina para estudar. A ideia não era que vivêssemos juntos no mesmo apartamento, e sim que cada um tivesse seu espaço. Mas o valor do aluguel era altíssimo, e como os nossos pais pagam as despesas, decidimos dividir o mesmo espaço. Morando junto, o que estava ruim, ficou pior. Tínhamos mais atritos e brigávamos todos os dias.

O que me incomodava era o lado imaturo e irresponsável dele com as tarefas e cuidados com a casa. Eu era a responsável por tudo, tinha um papel de mãe ali.

Acordava-o para que não perdesse a hora, dizia o que precisava ser arrumado. Era uma relação de mãe e filho mesmo, muito desgastante. Tinha o peso do estudo, de estar longe da família e dos amigos, em outro país, lidando com outro idioma, e eu ainda precisava cuidar de toda a casa. Ele não tinha aprendido a ter essa independência em casa, como eu, que costumava ajudar minha mãe. Fiquei sobrecarregada.

A maioria das nossas brigas era por limpeza e organização: eu sou muito organizada, e o Murilo não se importava tanto assim. Na minha casa, vivia em um ambiente tranquilo, meus pais quase nunca brigavam. De repente, eu me vi em uma relação em que diariamente a gente gritava um com o outro, se ofendia. Não estava entendo como me deixei chegar a esse ponto. Não era isso que eu tinha aprendido em casa.

Uma semana antes de terminar, já estava decidida a tomar essa decisão, só estava pensando em uma forma de dizer isso para ele. Não estávamos nos falando direito, mesmo morando na mesma casa. Estávamos afastados.

Em uma segunda-feira, quando voltávamos para casa da faculdade, disse a ele que nosso relacionamento não estava bem, que estávamos brigando por tudo e fazendo mal um ao outro. Que achava melhor terminarmos, porque do jeito que estávamos não estava bom, e eu não aguentava mais. Perguntei se ele concordava ou se era coisa da minha cabeça. Ele concordou comigo.

Teve choro, claro, mas a minha maior tristeza foi vê-lo triste. Na hora, choramos juntos. Quando contei para minha mãe, chorei mais uma vez. Mas foi como tirar um peso das costas. Não fiquei dias de cama, chorei umas duas ou três vezes e só.

Moramos juntos por um tempo ainda, até eu achar um lugar para morar. Ficamos assim por um mês: terminados e morando na mesma casa. Mas, depois, achei meu canto.

Além de namorado, ele foi, por muito tempo, meu melhor amigo. Murilo sabe quase tudo da minha vida. Quisemos manter a amizade e mantemos. Mas não nos falamos muito, só às vezes, quando perguntamos da família um do outro."


"Não acreditava que a relação poderia acabar"

Carlos Murilo, 20, estudante

"Começamos a namorar muito jovens, por isso, éramos imaturos no começo da relação. A Beatriz foi minha primeira namorada e meu primeiro grande amor. Todos os sentimentos que tínhamos no começo da relação eram muito intensos, ainda mais com os hormônios à flor da pele. No primeiro ano, era como se vivêssemos em função um do outro: querendo se ver o tempo todo, se falando o dia inteiro todos os dias.

Por isso, acredito que demorou um pouco para a nossa relação se estruturar de uma forma mais madura. Quando brigávamos, era por alguns motivos bem bestas, mas na maioria das vezes era por crise de ciúme que tínhamos um do outro. Sempre tive muitas amigas mulheres, sou muito ruim de responder mensagens no WhatsApp. Até se não respondesse uma mensagem de 'boa noite' virava um problema. Já cheguei a ter ciúme dela usar blusa cropped, uma besteira que demorou para eu desconstruir na minha cabeça. Ter ciúme de roupa é absurdo.

Perdemos aos poucos a nossa conexão durante a pandemia. Não sei explicar muito bem, mas era quase como quebrar uma expectativa, ao contrário daquela idealização do namoro. Quando começamos era o "vamos casar", mas, com o amadurecimento, a gente foi caindo na rotina, e as novidades faziam falta.

Acredito que até tentei fazer umas coisas diferentes para fazer a manutenção do relacionamento. Sentia falta de ir ao parque, ir a um restaurante, fazer algo diferente, coisas que nos tirassem da mesmice. Mas não funcionou muito bem.

Decidi que ia me mudar para a Argentina para estudar, e ela quis ir comigo. Acabamos morando juntos por questão financeira. Os valores dos aluguéis estavam muito altos. Nós já estávamos carregando a carga emocional da pandemia, não tão conectados. A gente se amava, mas parecia que não queríamos ficar naquele relacionamento.

Dois lados de um término, frase Carlos - Arquivo pessoal/Arte UOL - Arquivo pessoal/Arte UOL
Imagem: Arquivo pessoal/Arte UOL

Tivemos muitos conflitos por causa de arrumação da casa, de louça. Nosas criações foram muito diferentes. A Beatriz me ajudou a ter mais responsabilidade, mas pequenas coisas tomavam proporções diferentes. Brigávamos por uma colher fora do lugar. Virávamos a cara um para o outro e nem me lembrava dos motivos.

Não estava esperando pelo nosso término. Tínhamos brigado dois dias antes e não estávamos nos falando muito.

Chamei-a para voltar comigo da faculdade andando para conversar. Começamos a falar sobre o relacionamento, que não estava bom, que a gente se amava, mas não éramos mais compatíveis. Percebemos que tínhamos virado amigos.

A poucos passos de entrar no nosso apartamento, perguntei se era isso mesmo, se íamos terminar. Me lembro de ela perguntar: 'Você quer continuar empurrando com a barriga?'. isso me marcou. Não achei que me sentiria tão mal. Estava bem até entrar em casa. Juntos no apartamento, nos abraçamos por uns dez minutos, choramos muito e falamos que aquilo que vivemos foi bom, que queríamos que o outro seguisse bem.

Fiquei muito mal nos primeiros dias, foi muito doloroso. Mas acho que faz parte desse período de perda. A gente sentia que a relação estava acabando, mas, até aquele momento, eu achava que seguiríamos juntos. Estávamos sustentando aquela relação há muito tempo.

Para mim, o término não parecia real, eu inventei uma ilusão para não acreditar que ele aconteceria.

Posso dizer que ainda somos amigos, mas confesso que estou dificultando esse lado. Fiquei bem abalado com o término e achei que seria melhor não manter contato, por mais que eu quisesse o bem dela e tê-la por perto, achei melhor me afastar."