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'Perguntou se eu estava gostando', relata influencer abusada em exame no RJ

Cris relatou o abuso nas redes sociais. Martinho Gomes de Souza Neto teve a prisão em flagrante convertida em preventiva - Divulgação/Instagram
Cris relatou o abuso nas redes sociais. Martinho Gomes de Souza Neto teve a prisão em flagrante convertida em preventiva Imagem: Divulgação/Instagram

Daniele Dutra

Colaboração para Universa, no Rio

04/03/2023 04h00Atualizada em 04/03/2023 15h46

"Ele perguntou se eu estava gostando. Eu questionei: 'o que você falou?'. Quando olhei para as mãos dele, vi que ele não estava usando o aparelho para examinar. Ele estava me masturbando com a mão". O relato é da digital influencer Cris Silva, de 26 anos, que denunciou um médico radiologista por abuso sexual durante um ultrassom transvaginal no Rio de Janeiro. O homem foi preso.

Em entrevista a Universa, Cris relatou que, assim que percebeu o abuso, pediu para que o médico parasse com o ato. "Falei que queria parar o exame. Ele me segurou pelo braço, disse para eu sentar no colo dele. Puxei meu braço, disse que não ia. Nesse momento, bateram na porta, ele se assustou e eu corri para me trocar no banheiro."

Assim que a vítima conseguiu se trocar, o médico começou a fazer perguntas estranhas. Ele quis saber se ela precisava de alguma coisa e se estava bem financeiramente. Cris respondeu que sim e que só queria fazer o exame e ir embora.

Ainda segundo a influencer, funcionários bateram na porta pela segunda vez e quando, o médico a abriu, uma mulher perguntou, irritada, o motivo de ele não ter aberto a porta da primeira vez e o porquê da demora para concluir o exame.

Segundo a vítima, o médico alegou dificuldades para imprimir os papéis do resultado do exame. Assim que saiu da sala, a mulher deixou a porta aberta e, logo em seguida, Cris correu e foi pedir ajuda.

Eu escrevi no meu celular dizendo que precisava de ajuda e que acreditava ter sido vítima de abuso sexual. As duas funcionárias se entreolharam e me chamaram para um canto. Me ofereceram coisas, perguntou se podia fazer algo por mim, como um desconto. Disse que não queria dinheiro, não queria nada, só queria ajuda para chamar a Polícia, mas não chamaram.
Cris Silva

"Um outro médico veio conversar comigo e perguntou se isso não poderia ser resolvido só entre a gente, falei que não e que iria chamar a Polícia."

O telefone de Cris é dos Estados Unidos e, por isso, ela não conseguia fazer ligações direto do aparelho. Como os funcionários da clínica não quiseram ajudá-la, ela decidiu se trancar no banheiro e pedir ajuda para seu namorado e para os seus seguidores nas redes sociais.

O namorado da vítima chamou a Polícia Militar até o local, que fez a prisão em flagrante do médico e conduziu a influencer para o exame de corpo de delito.

Não é a primeira vítima

Em um vídeo, aos prantos, Cris compartilhou em suas redes que descobriu que ela não havia sido a primeira mulher vítima do médico, e que ele estava preso e não teria fiança. Ela também chegou a dizer que sofreu abuso na infância e não teve coragem de denunciar porque era só uma criança, mas agora conseguiu:

"Esse choro é de alívio, é de felicidade, porque sei que agora isso não vai acontecer com mais ninguém", disse a vítima no vídeo.

Martinho Gomes de Souza Neto teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. A decisão aconteceu durante a audiência de custódia realizada ontem, pelo TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Cinco vítimas já procuraram a delegacia para denunciar o homem por importunação sexual.

O caso está sendo investigado pela 12ª DP. "Ele responde a um inquérito de 2020 na Deam Centro (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) e, depois da divulgação da prisão do médico, cinco mulheres procuraram a delegacia para relatar que também foram abusadas por ele, sempre do mesmo modo de atuação, durante exames", disse à reportagem o delegado André Rosa Leiras.

Universa contatou, por e-mail, o advogado Cassio Rodrigues Barreiros, que faz a defesa de Martinho Gomes de Souza Neto, mas, até a conclusão da reportagem, não tivemos retorno.

O que diz a clínica

A Clínica da Cidade, local onde Cris foi abusada pelo médico, lamentou a violência relatada pela vítima e alegou que prestou assistência à jovem. Leia a nota na íntegra:

Responsáveis pela clínica e uma funcionária permaneceram com a paciente desde o momento do relato até o término do registro da ocorrência na delegacia. Uma psicóloga, especializada em violência contra a mulher, foi contratada para prestar apoio à vítima, mas a jovem não retornou às tentativas de contato até o fim da tarde desta sexta-feira (3).

Importante destacar que o profissional denunciado pela paciente está devidamente inscrito no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CRM-RJ) e Conselho Federal de Medicina (CFM), e que a clínica não tinha meios legais para identificar eventuais processos contra ele, que correm em segredo de justiça, segundo a imprensa.

A seleção dos nossos profissionais é rigorosa, com base em checagens prévias e periódicas nos conselhos de classe (CRM-RJ e CFM), além de todos os documentos.

Com mais de 20 anos de atuação, a Clínica da Cidade cumpre seu papel social de tornar a medicina acessível a todos. São mais de dois mil médicos, que, todos os dias, se dedicam e prestam serviço de excelência a preços acessíveis, contribuindo para melhorar a saúde de milhões de pessoas. Este sempre foi o propósito da Clínica da Cidade.