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Influencer ameaçada por 'coach' recebeu pedido de ajuda de outras mulheres

Vanessa de Oliveira: "Fiquei em choque" - Acervo pessoal
Vanessa de Oliveira: "Fiquei em choque" Imagem: Acervo pessoal

de Universa, em São Paulo

09/03/2023 13h57

A influencer Vanessa de Oliveira, 48, de Balneário Camboriú (SC), descobriu a existência de Thiago Schutz, o "coach do Campari", seis meses atrás, ao ser procurada por mulheres preocupadas em aumentar o VSM, sigla para "valor sexual de mercado".

"Eu nem sabia o que era isso", afirma Vanessa, uma das três mulheres ameaçadas de "processo ou bala" por Thiago, junto com a atriz Lívia La Gatto e a cantora Bruna Volppi. Ela fez um boletim de ocorrência contra o "coach" na Delegacia da Mulher de Camboriú e solicitou que ele fosse representado criminalmente.

A sigla VSM é utilizada por Thiago em posts no Instagram e vídeos no Youtube. Ele e outros "red pills" — integrantes de grupos masculinistas — defendem que mulheres com filhos e que tiveram muitos parceiros sexuais têm baixo VSM. Como promove cursos e dá dicas para promover o empoderamento feminino, Vanessa passou a receber mensagens em seu perfil no Instagram (mais de 771 mil seguidores) de mulheres com a autoestima abalada.

Antes de responder a elas, tratou de descobrir a origem da história. Chegou a Thiago Schutz e seus apoiadores e, como relata, "ficou em choque". "Os sujeitos defendem que mulheres com mais de 30 anos não têm valor", afirma Vanessa. Depois de se familiarizar com o universo dos "red pills", decidiu denunciar o conteúdo produzido por eles na internet. Então passou a ser alvo de ameaças constantes.

Segundo Vanessa de Oliveira, as ameaças de Thiago Schuz contra ela seguiram o mesmo padrão daquelas dirigidas a Lívia La Gatto e Bruna Volpi. Mandou uma mensagem com a frase "processo ou bala" para Vanessa, postou o print da tela nos stories do Instagram e por volta das 4h da manhã fez seis chamadas de áudio consecutivas para ela, que não as ouviu porque estava dormindo.

Vanessa também só soube da ameaça nos stories horas depois do post, ao ser avisada por seguidoras. "Muita gente me disse para tomar cuidado", conta. Logo depois, gravou um vídeo em seu Instagram (@vanessadeoliveir). A retaliação veio de forma coletiva: muitos "red pills" começaram a denunciar seu perfil e ela chegou a ser desativada da rede social. Conseguiu recuperar a conta após três dias.

"Esse discurso tem que ser criminalizado. Os 'red pills' acreditam que homens são líderes e mulheres precisam ser comandadas, uma violência e pobreza de espírito", afirma Vanessa.

Longo percurso até fim de investigação

A influencer Vanessa de Oliveira fez um BO contra Thiago Schutz - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
A influencer Vanessa de Oliveira fez um BO contra Thiago Schutz
Imagem: Acervo pessoal

A delegada da mulher de Balneário Camboriú, Ruth Henn, não quis comentar a denúncia de Vanessa de Oliveira. "O caso corre em segredo de justiça", afirmou, em mensagem enviada à reportagem de Universa.

Segundo a delegada Nadia Aluz, do 27º Distrito Policial da Capital, no Estado de São Paulo, o inquérito policial contra Schutz apura a prática de três crimes: ameaça, perseguição e violência psicológica contra a mulher. Ela explica que ainda há um longo percurso até que as investigações sejam concluídas.

Primeiro testemunhas e acusado serão ouvidos. Depois, o inquérito será enviado para o Ministério Publico. O órgão pode solicitar diligências complementares, pedir o arquivo ou oferecer a denúncia, "que é a forma de iniciar um processo criminal propriamente dito", como explica a delegada.

Para o advogado Raul Abramo, mestrando em Processo Penal pela Universidade de São Paulo (USP), é improvável que, se condenado, Schutz cumpra pena em regime fechado. "No Brasil, por falta de vagas nos presídios para penas do semiaberto, essas condenações acabam sendo cumpridas em regime aberto", afirma.