Caso Klein: 'Fazer vítimas deporem de novo é constrangedor', diz procurador
Cristina Fibe, Camila Brandalise e Pedro Lopes
Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro; e do UOL, em São Paulo
14/03/2023 18h01
O procurador do MPT-SP (Ministério Público do Trabalho de São Paulo) Gustavo Tenório Accioly se pediu formalmente à Justiça que as vítimas que denunciaram o empresário Saul Klein em 2020 por abusos sexuais não tenham que depor novamente ao órgão trabalhista. A próxima audiência será em junho, e Accioly teme que sejam chamadas pelo próprio Klein, para testemunhar, vítimas que o denunciaram.
Accioly participou do programa Sem Filtro desta terça-feira (14) e falou sobre o processo contra Klein, por exploração e tráfico de pessoas, movido pelo MPT-SP. A ação, apresentada em outubro de 2022, pede R$ 80 milhões em indenização.
"Chamar as mulheres para depor novamente causaria constrangimento porque elas teriam que vivenciar os sentimentos negativos associados à violência sofrida", afirma Accioly.
Relacionadas
Ele também fez questão de destacar que todos os depoimentos anteriores foram gravados e, por isso, o juiz do caso pode ter acesso a tudo o que já foi falado pelas vítimas sem a necessidade de colocá-las em uma situação de revitimização.
Procurados pela reportagem, os advogados que defendem Klein na ação trabalhista não responderam aos questionamentos até a publicação deste texto.
Na esfera criminal, o advogado Alberto Zacharias Toron afirmou a Universa que "Saul Klein nega ter praticado qualquer crime contra a dignidade sexual de qualquer das moças que tiveram relacionamento com ele".
"Jovens eram iludidas por falsas promessas de emprego"
Ainda durante participação no Sem Filtro, Accioly analisou o perfil de mulheres que são exploradas e violadas sexualmente.
"Geralmente são pessoas pobres e com dificuldade financeira em casa, que sofrem violência doméstica e são iludidas por falsas promessas de emprego achando que vão ter uma vida melhor por meio de um trabalho", disse.
"Vítimas eram submetidas a pornografias violenta e vingativa", diz procurador
O procurador ainda elencou uma série de elementos identificados nos depoimentos das vítimas que, segundo ele, provam o crime por tráfico de pessoas. Nos depoimentos, as mulheres contam que foram convidadas a participar de trabalhos como modelo e que tinham que participar de uma entrevista com o empresário.
Algumas relatam ter havido abuso nesse primeiro momento. Outras dizem que eram chamadas para festas nas casas de Klein e, nessas ocasiões, eram vítimas de violência sexual.
"Mulheres participavam da organização criminosa"
Accioly afirmou que Saul Klein contava inclusive com mulheres em sua rede de aliciamento. Ele, entretanto, pontuou que algumas também eram vítimas de exploração.
"Klein contava com pessoas, mulheres geralmente, que, diante da coleta de provas, participavam da organização criminosa e, ao mesmo tempo, eram vítimas e algozes", disse, ao explicar como, de acordo com sua análise, o esquema funcionava.
Indenização de R$ 80 milhões é por violação de dignidade de "todas as mulheres"
Diante das acusações contra Saul Klein, Accioly afirmou que o MPT-SP entrou com um pedido de indenização para que o valor seja revertido em interesse público da sociedade e das mulheres. O valor da indenização é de R$ 80 milhões.
"O MPT pede uma reparação por dano moral coletivo. A dignidade da mulher, quando ela é violada, atinge todas as mulheres, e todas estão sujeitas a isso. Esse valor deve ser revertido para conscientização e reparação de danos causados a vítimas de violência", explicou.
Assista ao Sem Filtro
Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.
Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal UOL.
Veja a íntegra do programa: