Dinheiro abundante: tiktokers reciclam ideia de 'basta crer para acontecer'
Imagine que está endividada e, em vez de reclamar do azar e da falta de dinheiro, você se olhe no espelho e repita: "Tenho sorte e sou rica". Ou —como fez recentemente a influenciadora digital Alexandra Burnier— poste nos stories do Instagram um print da tela de proteção do celular com a frase "o dinheiro é constante e abundante na minha vida".
O que pode parecer falta de noção é uma tendência das redes sociais. Chama-se LGS, sigla para lucky girl syndrome, ou "síndrome da garota sortuda", em livre tradução. Somente no TikTok, principal centro disseminador da moda, a hashtag #luckygirlsyndrome acumula mais de 610 milhões de visualizações.
De acordo com a LGS, pessoas que repetem afirmações positivas e acreditam ser sortudas são capazes de realizar os próprios desejos. A prática —que recomenda repetir mantras, memorizar jingles motivacionais e colar adesivos com frases autocongratulatórias pela casa— seria capaz de interferir no cotidiano e mudar o destino de seus adeptos.
"O segredo é assumir a atitude positiva e acreditar, antes que a prova concreta apareça", ensina Laura Galebe, uma das principais divulgadoras da síndrome no TikTok. O vídeo em que ela apresenta a LGS tem mais de 3 milhões de visualizações e 490 mil curtidas.
"Delire", sugere Galebe. Livrar-se do constrangimento de repetir inverdades para si própria é uma recomendação comum nos milhares de vídeos disponíveis no TikTok sobre o assunto, a exemplo de "How to change your entire life with lucky girl syndrome" (como mudar sua vida inteira com a síndrome da garota de sorte).
O segredo do pensamento positivo
Bem antes da lucky girl syndrome viralizar no TikTok, a instrutora de ioga Magui Reinoso, que vive no Rio de Janeiro, já incentivava as alunas a repetir afirmações positivas —- ela é especializada em gestantes. Sempre agiu assim para ajudá-las no controle da ansiedade. "Comecei a usar as afirmações para incentivar as alunas a criarem pensamentos. Criamos o que queremos ver no nosso mundo", ensina Magui.
Apesar da fachada de novidade, a lucky girl syndrome tem princípios semelhantes aos de práticas que já faziam sucesso entre pais e avós dos integrantes da geração Z (nascidos entre 1990 e 2010).
Em 1952, o norte-americano Norman Vincent Peale reuniu conselhos sobre como mudar a vida a partir do pensamento em um livro, "O poder do pensamento positivo", que se tornou um clássico entre os best-sellers de autoajuda.
Anos depois, em 2006, a australiana Rondha Byrne publicaria o livro "O Segredo", também best-seller, com a mesma premissa de que pensamentos supostamente mágicos levam a conquistas.
Para a psicóloga Amanda Pessoa de Melo, de Recife, há um fator positivo na lucky girl syndrome: bons pensamentos geram bons sentimentos e desenvolvem a autoconfiança. Mas acreditar que, por isso, conquistas serão feitas é uma "distorção cognitiva". "Precisamos ser realistas", afirma. "O fracasso é inerente à condição humana e não depende do nosso otimismo. Pensar que ficarei milionária e quitarei as dívidas não fará com que isso aconteça", diz.
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