'Unha branca é hit': ela fatura em 'OnlyFans de pés' e revela maluquices
A publicitária Gabriela*, de 31 anos, queria viajar para o exterior e decidiu procurar uma alternativa para ter renda extra. Ao pesquisar na internet, encontrou uma solução inusitada: vender fotos dos próprios pés.
A comercialização começou em novembro e, desde então, Gabriela vem faturando em dólares com a podolatria.
"Já sabia que tinha gente comprando foto de pé, até por toda essa piada do 'pack do pezinho'. Faltava vergonha na cara, mas fui pesquisando e encontrei um site em que é bem tranquilo fazer isso. Dá para ser anônimo e então não dá muita vergonha."
A plataforma escolhida foi o FeetFinder — uma espécie de "OnlyFans", em que os clientes pagam para acessar fotos e vídeos de pés.
Só em janeiro deste ano, a página teve cerca de 3,2 milhões de acessos — a maioria dos Estados Unidos (41%), seguido pelo Canadá (6,6%), Turquia (6,4%) e Brasil (5%).
Tinha um objetivo ousado de fazer uma viagem e, para isso, precisava me dedicar. No primeiro mês em que fiquei mais empenhada, consegui US$ 186 (equivalente a R$ 980). Depois, vieram as férias e dei uma largada, mas, de lá para cá, estava fazendo uns US$ 10 (R$ 52) por semana
Gabriela
No dia em que foi entrevistada pelo UOL, Gabriela havia conseguido US$ 30 (R$ 158) em uma semana.
Trabalho customizado
Gabriela conta que, apesar de ter montado um perfil com fotos e vídeos para inscritos, o trabalho customizado é o que dá mais retorno financeiro — e garante as gorjetas.
"Descobri rápido que não é só postar foto e deixar ali. Tem de ficar batendo papo com os caras, flertando, o que é chato, mas tudo bem. Tem também uns caras que estão lá só querendo ser humilhados e xingados. Tem de flertar porque eles têm de achar que são especiais", diz ela, que é brasileira, mas conversa com os clientes em inglês.
As fotos são simples: dedo e sola do pé.
Não faço nenhum cenário ou montagem. Tiro fotos simples, geralmente do dedo e sola. Os usuários colocam na bio o que gostam: unha vermelha ou branca são os maiores hits. Quando faço esmalte, mando muita foto
Gabriela
Gabriela diz que as pessoas apresentam os mais diversos fetiches na plataforma.
"Tem de todo tipo — você precisa encontrar onde se encaixa. Tem caras que piram com um pé apertando o acelerador do carro, outros que só compram fotos de pé na neve. Quando é customizado, o valor de um vídeo de 5 minutos pode chegar a US$ 20 a US$ 25."
O pedido mais inusitado que já recebeu foi um vídeo de cócegas no pé. "Tem muita gente que pede isso."
Sem nudes
A maioria dos clientes de Gabriela são homens e dos Estados Unidos. Ela afirma que nunca enfrentou situações complicadas na plataforma.
"Eles gostam de falar deles mesmo, então não é difícil descobrir o gênero. Tem gente de todas as idades e lugares. Nunca tive problema, sempre foram trocas respeitosas."
A plataforma, segundo ela, tem uma série de regras de uso — inclusive a de não publicar nudes, mercado no qual ela não tem interesse. "Pretendo ficar só no pack do pezinho". Gabriela segue economizando para fazer a viagem no próximo ano.
*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.
O que é esse fetiche?
- A podolatria é, dentro da ciência, uma parafilia -- ou seja, uma preferência sexual que foge do comportamento comum aceito em uma sociedade, explica Marília Queiroz Zanini, sexóloga pelo InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade).
- O fetiche é habitual para muitas pessoas, apesar do estranhamento que pode causar.
O que define isso como fetiche é porque há um objeto de desejo, algo a ser a ser consumido. Esse objeto pode não ser uma área erógena ou genital, como é o caso da podolatria. A pessoa entra em excitação pela visão ou pelo toque. Ela quer, de alguma forma, interagir com o pé
Marília Queiroz Zanini
- A explicação para o que leva ao desejo é muito individual, segundo a sexóloga.
Esse tipo de comportamento normalmente acontece muito cedo, quando há o despertar da sexualidade. Nunca se percebe direito quando começou. Além disso, cada pessoa vai interagir com o pé de um jeito: preferirá sola de pé, que ele seja mais delicado, que as unhas estejam de um jeito determinado, cada um vai ter uma preferência
Marília Queiroz Zanini
- Pode haver uma relação da podolatria com BDSM, sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo.
Não estão necessariamente juntos, mas é uma coisa que é relativamente comum de encontrar em conjunto. Em ambos casos, homens relatam que gostam de ser subjugados, humilhados
Marília Queiroz Zanini
Foco nos pés é antigo
- O termo "pack do pezinho" ganhou destaque nas redes sociais nos últimos anos, mas a podolatria não é algo novo, segundo Marília.
- Na China antiga, por exemplo, mulheres jovens tinham os pés apertados em faixas a fim de modificar o formato deles. A prática era conhecida como "pés de lótus" e só começou a ser desencorajada no século 20, após campanhas no país.
Quando víamos aquelas mulheres na China fazendo treinamento para que os pés coubessem em micro sapatos era porque o padrão de beleza feminino também estava associado ao tamanho do pé. Poderíamos ver isso como uma forma de podolatria naquele momento
Marília Queiroz Zanini
- A abertura para falar sobre sexualidade na contemporaneidade encorajou as pessoas a trazerem à tona o fetiche por pés.
Acho que hoje somos mais capazes de falar sobre isso de uma forma mais aberta, até porque a gente tem uma geração de adultos que estão revendo os seus traumas e adolescentes que são mais capazes de conversar sobre a sexualidade. O mais importante nesse debate é que sempre haja consentimento entre as partes
Marília Queiroz Zanini
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