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Desculpa Alguma Coisa

Tati Bernardi faz entrevistas malucas e inesperadas com pessoas que você adora


Marisa Orth diz que lutas por espaço são legítimas, mas limitam

Colaboração para Universa, em São Paulo

26/03/2023 04h00

Em participação no videocast "Desculpa Alguma Coisa", de Tati Bernardi para Universa, Marisa Orth criticou os questionamentos que têm sido feitos sobre um suposto limite da arte.

O assunto começou com uma discussão sobre por que falar que quer emagrecer não é mais algo bem visto hoje em dia. "Esses questionamentos nasceram de grupos que estavam putos com a forma como eram tratados na mídia, e isso é absolutamente respeitável. É muito legítimo, as minorias estão de saco cheio", disse.

Na sequência, levou o assunto para seu trabalho como atriz. "Qual minha profissão? Sair do meu lugar e pegar o seu. Sou profissional em sair da minha pele e entrar na dos outros. Não posso?"

Ela continuou o questionamento. "Não posso fazer uma travesti, que tenho vontade de fazer. Não posso fazer um homem, uma preta. Começou a limitar. Então a queixa que nasceu como uma coisa libertadora está fechando se fechando."

Emocionar não pode mais? Cutucar não pode mais? Arte incomoda. Vai proibir de incomodar? Uma coisa que era pra libertar está virando um instrumento de prisão. Marisa Orth

"A graça era a gente brincar de tudo", finaliza.

Marisa, contudo, ressalta que entende a necessidade de que se tenham cada vez mais vagas de trabalho para pessoas pertencentes a minorias.

Manteiga no olho e alucinação em retiro na Índia

Marisa contou sua experiência em um retiro na Índia focado na terapia ayurveda, focada em reequilíbrio energético.

"Fui estimulada a ter diarreias e vômitos, uma limpeza, um detox mesmo. Peguei tudo que veio de difícil pra mim, porque falaram que eu era 'strong woman' (mulher forte, em inglês)", disse.

"Tem um negócio de passar ghee [um tipo de manteiga] no olho", brincou."Fiquei 21 dias. Os primeiros cinco você quer morrer".

Ela teve alucinações com a dieta vegetariana que seguiu. "Vi um quiabo e achei que era um pene ao pesto. Vi uns pãezinhos, achei que era fatias de pernil", divertiu-se.

Senhora Magda até hoje

Marisa comentou sobre ser lembrada, até hoje, pela Magda, sua personagem no humorístico "Sai de Baixo", mesmo o programa tendo acabado em 2002.

Ela contou que a chamaram de "senhora Magda" em um hotel chique em que se hospedou. "Amo quando vou num lugar bem metido e chamam. No começo me irritava porque tinha medo de nunca mais poder fazer outra coisa, o barato de ser atriz é poder fazer vários personagens. Mas hoje amo a Magda", disse.

A atriz ainda contou que entrou em uma crise com a fama da personagem. "Mas, ao mesmo tempo, era tudo que sempre quis. É muito complicado fazer sucesso. Saíram coisas horríveis, como 'Marisa vendeu a alma ao diabo'. Tenho um enorme prazer de ter me tornado uma artista popular."

A atriz acrescentou ainda que estar muito em evidência também dá medo. "Só conhece o fracasso quem conhece o sucesso", disse.

Ela citou a importância do colega Miguel Falabella para sua carreira: "Ele me obrigou a perceber o humor na minha vida. Eu tinha muito desprezo pelo humor, e o Miguel me mostrou como era importante. Não sabia que ia viver disso, achei que [fazer humor] era só para divertir minha prima."

Popular, burra e gostosa

Marisa Orth brincou que ser considerada sex symbol foi um "brinde de Deus."

"Nunca imaginei. Fico tão feliz com isso. Foi outra grande surpresa. Fui criada para ser uma intelectual. Virei popular, burra e gostosa. Tenho orgulho, adorei. Mas não tenho saudade, porque é isso, foi um brinde. A Magda que era o símbolo sexual", diz, referindo-se à personagem do "Sai de Baixo", humorístico que foi ao ar entre 1996 e 2002.

No programa exibido aos domingos à noite, Marisa vivia a esposa de Caco Antibes, interpretado por Miguel Falabella. Ficou marcada pelo bordão 'cala a boca, Magda', dito após os comentários sem sentido da personagem.

Capa da Playboy e sucesso de vendas

O sucesso foi tamanho que, um ano depois da estreia, Marisa estampava a capa da revista "Playboy", experiência sobre a qual também falou no programa.

"Me senti muito envergonhada e muito cansada. E bem. Queria fotos nuas, mas não eróticas. Queria belas, bonitas. Que quando fossem penduradas, o lugar não ficasse imediatamente uma borracharia."

Ela relembra os preparativos para as fotos: "Não conseguia comer, tinha uma pequena anorexia, fiz muita ginástica."

No fim, se sentiu "heróica" por estampar uma edições mais vendidas da história da revista —foram 835 mil exemplares e quarto lugar no ranking geral.

Sobre o passar do tempo, Marisa diz ser um desafio ser feliz sabendo que vai envelhecer. "Não é fofo, mas é bom porque você fica esperta. Eu sou linda. Faço a linha coroa bonita."

"Admiro Regina Duarte, mas sempre foi musa da direita"

Na conversa, Marisa deu sua opinião sobre o posicionamento da atriz Regina Duarte, uma voz ativa em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Admiro ela ainda. Sempre foi muito doce e gentil comigo. Quero crer que seja uma espécie de idealismo, uma dificuldade de envelhecer, um crepúsculo dos deuses, achar que precisa estar em evidência", disse Marisa.

Senti uma coisa infantil nela, acho que é mais isso. Ela foi a mais famosa do Brasil durante três décadas, não é fácil. Dou perdão. Agora, podia parar de fazer propaganda para aquele verme? Podia. Marisa Orth

Além de apoiá-lo nas redes sociais e em entrevistas, Regina também foi nomeada secretária especial da Cultura no governo Bolsonaro, em março de 2020, cargo que deixou em maio do mesmo ano.

A atriz contou ainda que já precisou apresentar peças para os censores na época do regime militar. "A gente tirava tudo que achava que poderia ser censurado. Era ridículo", pontuou.

Apresentar BBB teve "grana incrível" e fracasso

A atriz lembrou ainda sua rápida passagem pela primeira edição do Big Brother Brasil, em 2002, durante entrevista ao Desculpa Alguma Coisa, videocast de Tati Bernardi para Universa.

"Foi uma experiência boa de fracasso", disse sobre apresentar o BBB. "Fiquei nove dias aparecendo todo dia e, depois, me colocaram fazendo entrevista, sobrei."

Marisa teve um passagem relâmpago como apresentadora do reality show da Globo logo na estreia, quando dividiu o posto com Pedro Bial. Ela saiu de cena, e ele seguiu comandando o programa até 2016.

A atriz diz que, na época do convite, tinha medo do desafio de virar apresentadora mas, com um belo aumento de salário, topou. "Me deram uma grana incrível e insistiram muito. Insisti muito para não fazer, mas fiquei vaidosa. Parei pra pensar: talvez eu seja melhor que minhas personagens", contou.

Ela opinou sobre o reality e disse ter pena dos participantes. "Aquilo é lesivo demais pro sistema psiquiátrico das pessoas".

Marisa diz que ama ironia, não gosta de homem certinho e ficaria com amigos

Assista à íntegra do Desculpa Alguma Coisa com Marisa Orth:

O programa Desculpa Alguma Coisa vai ao ar às quartas, às 20h, no Canal UOL, no YouTube de Universa e em plataformas de áudio.