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Desculpa Alguma Coisa

Tati Bernardi faz entrevistas malucas e inesperadas com pessoas que você adora


Erika Hilton fala de expulsão de casa depois que mãe mudou de igreja

Colaboração para Universa, em São Paulo

30/03/2023 04h00

Entrevistada por Tati Bernardi no videocast Desculpa Alguma Coisa, de Universa, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) lembrou quando foi expulsa de casa ainda adolescente e viveu na rua

"Minha mãe não era caxias. Ela era aquela tia maravilhosa, uma referência. Tinha muitos perfumes, trocava de cabelo, era moderna. De repente, após entrar para a igreja, virou uma louca, uma carola, completamente desequilibrada. Só que ela já tinha me dado uma criação autêntica e aí quis me limitar", contou Erika

Com 14 anos, peitei minha mãe, peitei a sociedade. Não me submeti a nada pelo meu lar, pela comida. Com 13, 14 anos, me disseram que eu ia pra rua e eu disse que se era isso pra ser quem sou, estava pronta. Mas não estava."

Erika conta que, desse tempo, suas memórias são um "grande apagão, cinza e nebuloso". "Fui para a rua em busca de pertencimento. Nunca levei um tapa na rua de outra travesti, e isso é muito raro."

Ela lembra que, mesmo tendo sido expulsa de casa pela mãe, foi a criação dela que a ajudou a seguir.

"Sobrevivi a tudo que eu passei nas esquinas, nas ruas, nas calçadas, pelo amor da minha mãe, que tive antes. Quando via outras meninas, outros contextos, pensava que sobrevivi pela base da minha família";

Apesar de tudo que ela fez, sempre tive essa gratidão à minha mãe. Erika Hilton

Erika faz ainda uma reflexão, apontando que a prostituição de pessoas trans não recebe a mesma atenção que a de pessoas cis. "A gente não tem, por exemplo, comoção com crianças trans se prostituindo."

E se rolar tesão por alguém de direita?

Erika comentou sobre sua relação com pessoas de direita. A deputada brincou que "sente preguiça" de fazer política para o "homem branco, hétero, cis" e do espectro político contrário ao seu.

"Não vou ser hipócrita. Mas driblo e faço. Política não pode ser uma coisa de casta", afirmou. E admitiu sentir tesão por algumas pessoas com as quais não concorda politicamente. "É um porre, um saco", brincou. "Mas nunca transei com ninguém de direita", pontua.

Ela diz ainda que gosta de quem não está 100% antenado com política. "É muito bom porque ajuda a gente se desligar. Quando saio com quem é da política, não consigo."

Bissexualidade? "Tentei, mas não foi bacaninha. Falta uma barba, um feromônio. Falhei e não é sobre", divertiu-se.

Medo de ser deputada

Erika falou sobre como lida com as ameaças que passou a receber após entrar para a política.

"Tenho medo, recebo ameaças. A ruptura institucional com a morte de Marielle [Franco], mostra que isso [ameaças serem cumpridas], acontece, eles saem ilesos", disse.

Erika ocupou um cargo político pela primeira vez em 2018, quando fez parte de um grupo de nove pessoas, a Bancada Ativista, eleito para uma vaga na Assembleia dos Deputados de São Paulo. Em 2020, foi eleita vereadora de São Paulo e, em 2022, tornou-se deputada federal.

Aos 14 anos, na esquina de prostituição, tinha que entrar em carro de estranho, também tinha medo. Mas lá senti muito menos do que hoje, como deputada federal. Não sou de ferro, não sou de aço Erika Hilton

Ela diz que, na política, a violência é endereçada. "Na rua, O ódio é direcionado à comunidade, mas havia a possibilidade de eu não ser a escolhida da vez. Hoje é meu nome, meu CPF."

Autoestima e uso de hormônios

Na conversa, a deputada falou de autoestima e da importância de valorizar a própria aparência.

"Resgatar um lugar de valorização, um lugar de sim, sou f*da, é importante. Me olho e falo: olha tudo isso, olha onde cheguei. Olha o que estamos fazendo, Não é fácil, mas a gente tenta. Faço esse exercício", disse.

"Recomendo às pessoas que se achem. Isso é um resgate da autoestima que de nós é roubada o tempo inteiro. Não podemos nos enxergar apenas na miséria e no sofrimento."

Erika falou também sobre seu processo de usar hormônios. Ela chamou a atenção para o fato de ter começado muito cedo e sem prescrição.

"Comecei a me hormonizar muito cedo, nas ruas, sem prescrição, com o que as meninas recomendavam. E isso não é bom, porque hormônio é uma coisa séria."

A deputada, contudo, reforça nunca ter feito cirurgia estética no rosto. "Mas tenho vontade de fazer no nariz", diz, contando, na sequência, que colocou silicone nos seios.

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Assista à íntegra do "Desculpa Alguma Coisa" com Erika Hilton:

O "Desculpa Alguma Coisa" vai ao ar às quartas, às 20h, no Canal UOL, no YouTube de Universae em plataformas de áudio.