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Djamila Ribeiro: 'Como negra, não tive direito de saber de onde vim'

Djamila Ribeiro fala sobre racismo para ONU News  - Flavio Teperman/Divulgação
Djamila Ribeiro fala sobre racismo para ONU News Imagem: Flavio Teperman/Divulgação

de Universa, em São Paulo

03/04/2023 16h07

A filósofa Djamila Ribeiro deu uma entrevista à ONU News falando sobre, como mulher negra, ter sido apartada da sua identidade. "Não me foi dado o direito de saber de onde vim", disse Djamila em entrevista a ONU News. Ela lembrou que documentos referentes a escravidão foram queimados, por isso, ela e muitas pessoas negras não conseguem saber de onde os antepassados vieram.

"Nós, como negros brasileiros, temos esse buraco. Quem é descendente de italiano, muitas vezes, descobre de onde veio a família e até tira cidadania. Queria poder tirar cidadania de Gana ou da Nigéria, mas não sei de onde meus ancestrais vieram", conta.

Ela também falou sobre como o termo negro carrega pesos diferentes de acordo com seus países. No Brasil, nos Estados Unidos e até em Cabo Verde, a sua compreensão é feita de forma diferente.

"Uma mulher negra de pele clara tem que se entender como negra. Quando ela diz que é preta, está apagando minha experiência que sou uma mulher de pele escura, e desde há muito tempo, na minha vida, venho passando por algumas situações por conta da minha cor de pele. Então, a gente tem que ter tudo muito claro, entender como essas coisas funcionam e não deturpar esses conceitos que são muito importantes para nós", afirmou.

"Uma mulher negra de pele clara, no Brasil, sofre racismo como eu. Mas a gente sofre de maneiras diferentes. A gente não pode universalizar a experiência porque, no Brasil, essa questão do colorismo ainda é muito forte. Quanto mais claro, mais tolerado."

Ela reforça que todos os negros são discriminados no país. Mas a gente sabe que quanto mais escuro você é, acaba tendo menos acesso a determinadas coisas e o tratamento é diferente. A gente não pode esquecer isso", explica.

Romantizando a África

Apesar de o continente ser composto por 55 países, ter línguas e culturas diferentes, o continente africano foi romantizado como um todo, segundo Djamila. "Tiveram que construir uma África mítica, não entendendo que ali também tinham conflitos. Eu entendo, mas isso não pode acontecer", explica.

Para saber suas origens, Djamila disse que fez um teste genético, pois nunca conseguiu construir uma árvore genealógica. O resultado: 80% nigeriana. "A gente precisa estar mais próximo enquanto povo negro que quer entender suas origens e como brasileiros precisamos conhecer mais a nossa história", diz.

Com informações da ONU News