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Acusado de assédio sexual, Boaventura é suspenso da Universidade de Coimbra

Boaventura de Sousa Santos - Juca Varella/Folhapress
Boaventura de Sousa Santos Imagem: Juca Varella/Folhapress

Adriana Negreiros

De Universa

14/04/2023 16h30

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos foi suspenso, hoje (14), da direção do CES (Centro de Estudos Sociais) da Universidade de Coimbra. Boaventura, 82, mais renomado pensador de Portugal, foi acusado de assédio sexual por quatro ex-alunas, além da ativista indígena Moira Millán, da Argentina, que esteve no CES, em 2010, para uma palestra.

Ele nega as denúncias, se diz alvo de "cancelamento" e, em e-mail enviado aos estudantes e funcionários do CES, afirma que a decisão de afastamento foi dele.

Uma das ex-alunas (a única brasileira), que havia feito a denúncia sem revelar a identidade, saiu, hoje, do anonimato. Trata-se da deputada estadual Bella Gonçalves, do PSOL de Minas Gerais.

Bruno Sena Martins, 45, investigador do CES e igualmente acusado de assédio sexual, também foi afastado da instituição. De acordo com comunicado enviado pelo CES à imprensa, a suspensão continua enquanto prosseguem as investigações, conduzidas por uma comissão independente.

As denúncias contra Boaventura e Martins foram feitas em artigo do livro "Sexual Misconduct in Academia - Informing an Ethics of Care in the University" (Má conduta sexual na academia - para uma ética de cuidado na universidade), publicado no final de março pela britânica Routledge, uma das mais prestigiadas editoras acadêmicas do mundo. As autoras do artigo são a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom.

Ponta do iceberg

Um manifesto de apoio às mulheres que acusam Boaventura de Sousa Santos de assédio sexual reuniu mais de 150 assinaturas em poucas horas. Entre os signatários do manifesto estão professores universitários, escritores, artistas e políticos, quase todos de Portugal.

O documento intitulado "Nós sabemos" oferece um email (sabemostodas@gmail.com) para novas denúncias de condutas inadequadas em universidades. Pede que a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Elvira Fortunato, e a ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, tomem providências quanto às denúncias.

A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), entidade do governo responsável pelo financiamento de investigação nas universidades, também é convocada a se pronunciar a respeito do assunto. "Os casos denunciados são apenas a ponta do iceberg", diz o manifesto.