Ir ao swing é traição? Quando curtição liberal vira um problema na relação?
A professora Clara*, 53, está em um relacionamento e frequenta casas de swing com o namorado, onde pratica a troca de casais. Para ela, ir aos clubes e transar com outros homens não é traição. Pelo contrário, acredita que a decisão envolve prazer, parceria e cumplicidade — desde que os combinados entre os dois sejam cumpridos.
"Trair é desrespeito, humilhação, desejar mais a outra do que eu, mesmo estando no swing — como, por exemplo, ir para a área reservada com outra pessoa e não me incluir ou trocar telefone para se falarem depois. É perceber que há algum interesse além do momento no swing."
Já para a estrategista digital Fada, seu apelido nas redes, 36, a traição só acontece se uma terceira pessoa for levada ao convívio do relacionamento. Ou seja, se houver espaços para conversas diárias e até saídas sem que ela fique sabendo, deixa de ser aceitável.
"Não existe traição no meu ponto de vista, pois se o casal tem uma relação aberta, diálogos leves e vão para o swing, isso é levado de boa entre eles. Agora, se for escondido, aí sim é traiçoeiro", contrapõe.
Afinal, o que é traição?
"A princípio, entende-se que traição é se relacionar, se envolver ou simplesmente sair com alguém. Mas o que deixa essa simples definição amplamente complexa e de difícil conceituação é compreender o que envolve esse 'sair com alguém'", aponta a sexóloga Gislene Teixeira, especialista em relacionamentos.
Precisa ter sexo para trair? "Não, necessariamente. Há vezes em que uma troca de olhares mais intensa ou um sorriso mais envolvente já é interpretado como traição, por sugerir que está pintando um clima e fazer o ciúme surgir", responde Gisele.
De acordo com ela, há também a traição emocional: fazer com o outro o que não aceita do par em casa, como sexo anal, por exemplo.
No swing, trair é descumprir combinados
Segundo a sexóloga, traição no swing pode até ser mais diluída e rara, mas existe. Surge quando alguém do casal quebra aquilo que foi prometido, porque, por mais que o ambiente seja bastante liberal, tudo precisa ser combinado entre o par, considerando seu contexto e limitações.
As regras destes acordos podem ser múltiplas, variadas e as mais diversas que possam existir. E precisam fazer sentido e serem respeitadas pelo casal. Uma vez rompido o combinado, a outra parte, então, entende que houve uma traição.
Gislene Teixeira, sexóloga especialista em relacionamentos
Traição assistida x consentida
Mesmo quando o martelo é batido sobre ter rolado uma traição, ainda é possível classificá-la sob alguns aspectos. "Há swingers que entendem a prática como traição assistida e outros como consentida. Enquanto a primeira tem a ver com a fantasia de assistir o par transando com outras pessoas, a consentida tem viés de permissão", explica a sexóloga.
Apesar das diferenças no entendimento, Gislene garante que a classificação acaba sendo uma questão do próprio casal.
Swingers também se separam
Liberdade não torna um casal imune à separação, inclusive em casos de traição, dentro da definição de cada um deles.
"Quando ocorre a traição, há muitas outras questões envolvidas que não apenas o desejo sexual por outra pessoa, como também o envolvimento emocional. É comum a pessoa questionar se não é mais desejada, não se sentir mais atraente e tornar-se um carrossel de incertezas e inseguranças", pondera a especialista em relacionamentos.
Gislene aponta que traição não costuma ser a principal razão que leva os adeptos ao swing a se separarem. A prática pode levar à novas descobertas e, a partir disso, fica evidente que não há mais compatibilidade entre o par.
Ciúme controlado
Para a profissional, até um casal que alimenta o ciúme pode se dar bem no swing, desde que tenha consciência clara disso, com parceria, respeito, admiração e, sobretudo, um diálogo honesto.
Na questão da traição consentida, o casal costuma trabalhar muito com o diálogo aberto, ser muito parceiro e até mesmo buscar ajuda profissional, como terapia de casal. Eles geralmente querem entender se estão no caminho certo. Então, o ciúme é controlado, mitigado por conta da parceria e prazer.
Gislene Teixeira
Também é importante que a pessoa enciumada trabalhe a autoestima, a autovalorização e o amor-próprio. Isso é tão essencial quanto entender que ninguém pertence a ninguém.
O mais importante de tudo, segundo ela, é apenas participar de swing se for uma escolha dos dois e nunca uma imposição, chantagem ou tentativa de agradar o outro. "Caso não seja escolha pessoal, com certeza, tudo fica muito mais complexo e praticamente impossível de lidar".
*Nome fictício para preservar a identidade da fonte.
Leve o fetiche para casa
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