Atriz da Record, Paloma Bernardi diz 'viver em oração'. 'Não faria aborto'
Um meme com pinceladas de bullying surgiu há alguns anos na internet para caçoar celebridades que deixaram a Globo e migraram para a concorrência: "Morreu ou foi para a Record?"
A atriz Paloma Bernardi, 37, já estrelou produções globais e agora está no ar na série "Reis", da Record, cuja segunda temporada estreou na semana passada, 17. Ela diz não sentir a maldição do esquecimento. "Quando viajo para o exterior, fico realmente impressionada com o quanto sou reconhecida pelos trabalhos que faço na Record", afirma.
Adaptações como "The Last of Us", da HBO, que trazem para as telas o roteiro de um jogo, enfrentam o desafio de agradar a um público fiel do produto original. E se a adaptação for da Bíblia? "Temos licença poética. É uma história de ficção que tem a Bíblia como base", explica a atriz.
Ao longo do ano, Paloma Bernardi poderá ser vista no cinema em dois filmes. "Ninguém é de Ninguém" está em cartaz desde a semana passada e aborda relações abusivas. "TPM! Meu amor" tem estreia prevista para o segundo semestre. No papel da protagonista, ela vive uma mulher em busca do autoconhecimento.
Agora, a meta da atriz é conquistar o mercado internacional. Para isso, tem se dedicado semanalmente às aulas de espanhol. "E de repente trabalhar com o Almodóvar, por que não? Temos que sonhar alto."
Paloma respondeu a dez perguntas de Universa sobre carreira, maternidade e autoestima. A entrevista está a seguir.
UNIVERSA: Como é estar em uma adaptação da Bíblia?
Paloma Bernardi: A história de Bateseba já está no subconsciente do público que lê a Bíblia. Está escrito que ela nunca olhou para Davi. Bateseba toma um banho de purificação e ele a deseja. Ela aceita se encontrar com ele e, depois, compartilha a culpa pela traição. Por isso, fala-se que Bateseba é o pecado de Davi. A partir de um erro, a vida vai degringolando. Isso é o que acontece na Bíblia, mas usamos a licença poética. É uma história de ficção que tem a Bíblia como base.
A autora trouxe Bateseba já apaixonada por Davi e talvez o público possa dizer que não é assim que está na Bíblia. Não é mesmo. Mas é uma visão e um caminho que a nossa autora encontrou para ter uma história com nuances e que sustente duas temporadas.
Os temas da novela bíblica, como relação de pai e filha, de desejo, amor, as dúvidas, as traições, a culpa, o medo, são bem atuais. O público se identifica. A Record tem um público fiel, que acompanha todas as obras da casa e é a única emissora no Brasil com esse tipo de dramaturgia. E internacionalmente também. Quando vou para o exterior, fico impressionada com o quanto sou reconhecida pelos trabalhos que faço na Record.
Você é religiosa?
Sou católica praticante. Minha relação com Deus é extremamente forte, estou sempre em oração. Nunca tomo uma decisão sem partir da oração. Existem tantos mistérios entre céus e terras que é importante ter fé ativa. Precisamos nos apegar a alguma coisa.
Ano passado, você voltou aos palcos pela primeira vez após a pandemia. Como foi a experiência?
Foi um processo árduo, mas maravilhoso. Eram 30 atores no palco. Foi um ato de resistência trazer a arte para o público depois do período de isolamento, com assuntos importantes para se refletir. Fiz uma personagem que deseja abortar e depois tem depressão, se suicida. Neste processo, chorava muito. Mas me realizei. Fui indicada ao prêmio Bibi Ferreira de melhor atriz.
O papel fez você repensar a opinião sobre o aborto?
Não sou a favor do aborto, sempre sou a favor da vida. Mas precisamos ter, sim, para mulheres que passam por estupros. Respeito [outras opiniões] e penso que a mulher tem o direito de fazer o que quiser.
Mas a peça me fez pensar sobre como a maternidade é romantizada nas revistas e na publicidade. Estamos desmistificando essa ideia. A maternidade é um milagre, um momento sagrado da vida da mulher, mas pode haver depressão, inseguranças e medos.
Existe um momento ideal para a maternidade?
Existe essa pressão, mas outras mulheres e eu estamos levantando a bandeira de que é meu tempo, minha vida. Antigamente, as mulheres se casavam muito cedo, com 15 anos já tinham filhos. Era outro estilo de vida, ser dona de casa e esposa. Hoje em dia, somos multifacetadas, temos outros sonhos, além deste. E há mulheres que nem têm esse sonho.
Tenho o sonho de ser mãe, mas também ter minha vida profissional. É preciso entender qual o melhor momento para conciliar as duas coisas.
Foi por isso que decidiu congelar óvulos?
Estou com 37 anos e desejo ser mãe. Vi uma atriz que fez o congelamento, depois uma vizinha -- ela teve dois filhos e os chamava "meus Frozen".
Isso me instigou a estudar o assunto. Fui pedir orientação médica. Entendi que a saúde dos óvulos diminui a partir dos 35 anos. Então o ideal seria congelá-los. E foi o que fiz.
O procedimento traz independência para a mulher. Ela pode engravidar quando quiser ou estiver preparada para isso. Não é uma garantia, mas aumenta as possibilidades. É um investimento caro, mas aconselho as mulheres que podem que o façam.
Você começou a trabalhar na TV na infância. Como isso aconteceu?
Comecei com 4 anos, na publicidade. Meus pais investiram em cursos que eu queria fazer. Desde pequena, minha relação com a vida artística foi apoiada.
Como construiu a autoestima com tantos olhares voltados para você?
Como comecei trabalhando com publicidade, a beleza sempre esteve à frente. Isso faz com que nosso trabalho deva ser redobrado — para provar que posso ser mais do que um rosto bonito. Claro, diante do que a sociedade falava que era bonito.
Hoje, o bonito é ser diferente, valorizar todas as estéticas, corpos, rostos, peles e cabelo. Mas tenho a sensação de que está todo mundo igual: o rosto mais quadrado, a boca maior. Se você gosta, tudo bem, cada um faz o que quer da vida. Mas acho que todo mundo ficar com a cara igual não é legal.
Como é sua relação com as redes sociais?
Sou um pouco viciada, confesso. Se deixar, entro no Instagram e passo horas vendo o que nem queria ver. Preciso me policiar porque temos muita vida para viver além da virtual.
Mas também são um caminho para me aproximar das pessoas que não vejo há muito tempo e, como artista, me aproximar do público. As redes mostram o quanto sou gente como a gente. Sai um pouco do pedestal do artista.
Você quer internacionalizar sua carreira. Como pensa em fazer isso?
Tive a oportunidade de fazer testes para uma série espanhola para a Netflix. Decidi focar nas aulas de espanhol, que faço de duas a três vezes por semana. A estratégia é buscar as produções espanholas. E de repente trabalhar com o Almodóvar, por que não? Temos que sonhar alto.
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