Rainha do pôquer: 'Sei quando um cara mente e blefo se eles me subestimam'
Foi jogando pôquer por lazer na casa de um amigo há 10 anos que Carol Martins tomou gosto pelo carteado dominado por homens. Hoje, aos 41, é jogadora profissional e um dos maiores destaques brasileiros — compete até fora do país.
Apesar de ser "de humanas" — Carol é atriz, apresentadora, escritora e sócia de uma produtora —, o raciocínio matemático sempre esteve presente em sua vida.
E isso deu um empurrãozinho para ela tomar gosto pelo pôquer, jogo de cartas e fichas, com blefes, estratégia e muita lógica.
"Comecei a estudar de forma autodidata por tutoriais na internet e livros. Passei a frequentar um clube de pôquer e a brincadeira começou a ficar séria."
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o pôquer não é um jogo de azar. Ele é legal no Brasil e, como o xadrez, é considerado um esporte da mente.
Minoria na mesa
Aos poucos, Carol se especializou. "No clube, falei: quero jogar naquela mesa. Via que era uma mesa que parecia ser mais importante, tinha mais regalias, mais gente em volta. Descobri que era uma modalidade chamada Omaha."
Ela aprendeu Omaha e, ali, era uma das únicas mulheres na modalidade. Em 2019, apenas 4% dos competidores de um torneio mundial em Las Vegas eram mulheres.
Definitivamente, é um meio mais masculino — naquele tipo de jogo, ainda mais. Esse foi o impulso que ela precisava para se destacar.
Já achava uma coisa incrível uma mulher jogando pôquer. Denotava poder, algum fetiche. Depois, quando você entra no meio, quer se destacar. Nessa mesa, comecei a chamar mais atenção
Logo em seguida veio o convite para seu primeiro time, encabeçado por Felipe Mojave, um dos maiores nomes do esporte no país.
"Era a única mulher do time. Eram nove homens e eu. Lá comecei a me profissionalizar e a aprender tudo sobre pôquer."
Vantagem das mulheres
Diante dessa maioria esmagadora masculina — e em um meio machista —, a jogadora viu duas possibilidades de usar isso a seu favor. Estar em um ambiente em que se é constantemente subestimada foi visto por ela como uma vantagem.
Isso faz com que eu consiga blefar mais vezes, fazer jogadas estratégicas. Eu quero mesmo que você me subestime porque aí eu vou usar isso ao meu favor e vou ganhar de você
E, se os homens são considerados mais pragmáticos, as mulheres são mais intuitivas e observadoras — outro ponto para ela.
"Não vejo onde pode existir uma vantagem masculina sobre as mulheres. Principalmente em um jogo que, para mim, é muito da observação. Consigo saber quando um cara está mentindo, consigo observar e ver os padrões deles de apostas e usar isso a meu favor."
Outra cartada dela foi a de oferecer curso de pôquer focado em mulheres. A ideia é trazê-las para o jogo e diminuir o abismo daquela porcentagem de participação.
"É para as mulheres entenderem que a nossa disputa é de igual para igual. Assim, nossos resultados também serão mais vistos."
Joga para investidores
Antes de o pôquer chegar à sua vida, Carol estudou artes cênicas e rádio e TV. Além de atuar, também apresentou um programa por oito anos. Cinéfila e viciada em séries, tem o desejo de voltar para a frente das câmeras.
Em 2019, lançou um livro e ainda é sócia de uma produtora audiovisual com a ex-esposa.
Diante de uma rotina tão cheia, Carol teve de rever prioridades: ficou um ano e meio no time do Mojave e mais um ano e meio em outra equipe.
Depois, resolveu sair dos times e jogar só por meio de investidores, ou seja, pessoas que aplicam dinheiro em suas estratégias.
"São pessoas físicas que investem em mim, como investiriam na Bolsa [de Valores], por exemplo. Normalmente são jogadores de pôquer também, porque eles entendem como funciona a dinâmica. São acordos bem sérios", explica.
Desde o ano passado, ela faz parte do clube de afiliados da Pokerstar, uma das maiores plataformas de pôquer do mundo, e já é bem conhecida no meio jogando as modalidades Texas Hold'em e Omaha.
Corpo são
Em um torneio, se não cair no meio da disputa, um jogador pode passar de 10 horas a 12 horas jogando. E, se cair, pode entrar em outro. Carol conta que já passou cerca de 15 horas online. Tanto desgaste exige cuidados.
Tem de ter muita disciplina e muita atenção na saúde. Não bebo álcool há 20 anos, nunca usei drogas. Sou totalmente focada. Não tenho uma rotina normal, acabo atravessando madrugadas, e isso para mim não é problema. Mas me alimento bem, durmo bem, descanso antes dos torneios e cuido da mente
No próximo mês, a competidora brasileira vai a Las Vegas para disputar o mundial.
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