Topo

Sete mulheres denunciam dentista famoso por abusos no Rio, diz jornal

A jornalista e escritora Joana Aguinaga, 51, fez relato de abusos durante infância e recebeu inúmeras mensagens - Getty Images/iStockphoto
A jornalista e escritora Joana Aguinaga, 51, fez relato de abusos durante infância e recebeu inúmeras mensagens Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colaboração para Universa, em São Paulo

22/05/2023 15h13Atualizada em 22/05/2023 15h13

Ao menos sete mulheres denunciaram abusos que teriam sido cometidos pelo famoso dentista Estélio Zen, no Rio de Janeiro.

A notícia-crime conjunta ocorre após a jornalista e escritora Joana Aguinaga, 51, relatar detalhes à revista ELA sobre abuso sexual que sofrera quando tinha entre 11 e 14 anos. A informação do número das denunciantes foi divulgada pelo Jornal O Globo.

O que aconteceu?

A escritora Joana Aguinaga deu depoimento publicado pela revista ELA em que narrou abusos que diz ter sofrido dos 11 aos 14 anos pelo famoso ortodontista da alta sociedade carioca. "O silêncio não é mais uma opção. Para combater a pedofilia é necessário ampliarmos o conhecimento sobre suas diversas manifestações", declarou Joana, no final de março.

Desde então, ela vem recebendo várias mensagens de mulheres em sua conta no Instagram. Pelo menos 20 delas, de sua mesma faixa etária, escreveram que identificaram imediatamente o abusador e reconheceram a dinâmica dos abusos. "Nunca disse o nome dele. Elas me falavam quem era, e eu apenas confirmava", ressalta Joana.

O grupo que mora em várias partes do Brasil e outros países se juntou para denunciar as autoridades. A ex-promotora Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saia e notória defensora dos direitos das mulheres, foi contratada para representá-las como advogada.

Há duas semanas o Ministério Público do Rio de Janeiro recebeu a notícia-crime dos atos que teriam sido cometidos pelo ortodontista pediátrico Estélio Zen. As sete que fazem a denúncia alegam ter sido vítimas de abuso sexual em situação de vulnerabilidade, já que eram todas crianças e adolescentes na época do acontecido.

"O Ministério Público, agora, distribui o processo para um promotor, que pode requisitar a instalação de um inquérito policial. O que é um inquérito policial? É a colheita de provas. Como já se passaram muitos anos, temos o depoimento das vítimas. Entrarei com uma ação declaratória de validade para elas confirmarem as afirmações em juízo. Também solicitaremos informações ao Conselho Regional Odontologia do Rio de Janeiro (CRO-RJ). É preciso verificar se existem outras denúncias contra o senhor Estélio Zen. Na sequência, poderemos entrar com ações nas esfera cível e, de acordo com o número de vítimas, de danos sociais explica a advogada Gabriela Manssur, que apresentou a notícia-crime.

"É muito provável que queiram aderir à nossa denúncia. [...] Abrimos no Ministério Público um canal, chamado Dente de Leite, direcionado só para as mulheres ficarem seguras para isso emenda Gabriela.

A notícia-crime parte do princípio de dois objetivos ao provocar um "efeito pedagógico e preventivo contra a violência que afeta meninas e mulheres" no Brasil, tanto para Gabriela quanto para Joana, a primeira a dar voz aos abusos, a notícia-crime parte do princípio de dois objetivos ao provocar um "efeito pedagógico e preventivo contra a violência que afeta meninas e mulheres" no Brasil. "Além disso, soma-se aos demais esforços já empreendidos para a questão da imprescritibilidade da pedofilia", explica a advogada.

Conforme a ex-promotora Gabriela, pedofilia não é considerada crime no país. "O que são enquadrados como crimes são os atos de cunho sexual cometidos contra crianças e adolescentes. Por que a nossa defesa da imprescritibilidade? Porque as vítimas demoram a entender que aquilo que sofreram não é 'carinho' nem 'brincadeira' e, sim, abuso. Ninguém tem o direito de mexer no corpo de uma criança. Trazer à tona esses fatos é uma atuação de utilidade pública", declara.

Atualmente no Brasil o crime de estupro de vulnerável (menor de 14 anos) prescreve em duas décadas, começando a contar dos 18 anos.

Uma das vítimas, de 50 anos, foi paciente de Estélio dos 7 aos 18 anos, e é uma das sete mulheres que assinam denúncia. "Aos 9, coloquei aparelho fixo e precisava ir frequentemente ao consultório para acompanhamento. Ele me dava um abraço por trás, forçado, e ia andando comigo assim por todo corredor até a porta de saída. Também colocava os instrumentos de trabalho em cima dos meus seios", conta.

Outra denunciante, de 55, frisa que reconheceu o suposto abusador ao ler o depoimento de Joana: "Tinha 14 anos. Ele usava uma calça muito justa e branca, e encostava o pênis no meu ombro", recorda-se.

Universa fez contato com o CRO-RJ, mas não houve retorno até o momento.

Também houve tentativa de contato com Estélio Zen pelo telefone disponível em contatos do seu consultório, mas nenhuma das três ligações foi atendida. O espaço será atualizado se houver resposta.