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Acompanhantes de luxo entregam segredos da profissão

Lola Almeida, 33, e Roberta Faganelli, de 29 anos, revelam os segredos da profissão - Gabriel Potter/Arquivo Pessoal
Lola Almeida, 33, e Roberta Faganelli, de 29 anos, revelam os segredos da profissão Imagem: Gabriel Potter/Arquivo Pessoal

Angélica Morango

Colaboração para Universa, em São Paulo

02/06/2023 04h00Atualizada em 02/06/2023 10h59

Quando eu trabalhava no call center, ganhava R$ 1,4 mil por mês. Agora eu devo tirar, em média, R$ 7 mil por semana

Paulistana, Roberta Faganelli, 29 anos, trabalhava como atendente e adorava a rotina que tinha. O salário de R$ 1,4 mil pagava as contas e ela não pensava em abandonar o emprego, mas foi dispensada em janeiro de 2015.

Se candidatou a outras vagas, vendeu lanches e trufas de chocolate na rua, mas as contas não fechavam mais e a situação foi ficando aflitiva. Um dia, conversando com a mãe sobre uma prima que fazia programa, teve a ideia de fazer também.

"Procurei no jornal e na internet como é que fazia, como era ir pra boate. Conversei com o gerente de uma, e ele me explicou como era trabalhar com isso. Quando cheguei lá, ele só disse onde eu tinha que trocar de roupa e onde eu tinha que ficar para esperar os clientes. Eu fiquei meio assustada, porque só esperava ir pra conhecer, mas acabei fazendo o meu primeiro atendimento naquela noite e foi bem interessante. Foi assim que comecei."

Não teria nem metade do que eu tenho hoje se não fosse a Lola

Lola não gosta de revelar o rosto - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Lola não gosta de revelar o rosto
Imagem: Acervo Pessoal

Nascida em Porto Alegre, Lola Almeida, 33, era casada e trabalhava como técnica de enfermagem e instrumentadora cirúrgica. Mas, sob a aparente normalidade, ela vivia um relacionamento marcado por abusos psicológicos.

"Ele criticava tudo o que eu fazia e dizia que eu não precisava fazer faculdade. E não se preocupava com o meu prazer também. Fiquei na relação porque fui criada numa família com pai, mamãe e filhinho em que era feio se separar, então tentei manter ao máximo. Só me separei quando meu filho começou a ter problemas psicológicos vendo o meu casamento, que eu não estava feliz, e começou a apresentar problemas de agressividade. Vi que tudo isso estava prejudicando o meu filho e decidi me separar."

Para Lola, a decisão de entrar nessa profissão, junto com a liberdade do recomeço, veio pelas dificuldades financeiras. "Com a enfermagem, eu trabalhava 12 horas por noite, todas as noites, e comecei a ficar menos com o meu filho. Não tinha dinheiro nem pra passagem do ônibus, nem pra comprar um lanche. Foi assim durante um ano, então resolvi ser acompanhante. E por minha conta, não foi nenhuma amiga que me levou".

"Comecei numa casa de massagem ganhando R$ 50 por meia hora e R$ 100 por uma hora. Fiquei um ano lá. Daí comecei a cuidar do meu corpo, comprei um carrinho bem simples na época e fui tocar a vida em site. O investimento pra ser acompanhante não é pouco, não é só sair trabalhando. É um investimento bem alto tanto em estética quanto em terapia. É pesado."

Carreira

Tanto Lola quanto Roberta têm formação superior. Roberta é graduada em psicologia; Lola, em pedagogia, com pós em neuropsicopedagogia.

Discreta na medida do possível, Lola não expõe o rosto nas redes sociais, onde tem dezenas de milhares de seguidores —no Twitter são quase 50 mil.

"Meu principal desafio é não me expor, nós já somos muito expostas. No caso das meninas que mostram o rosto, elas enfrentam críticas muito fortes da sociedade e dos familiares. São guerreiríssimas. A grande maioria das acompanhantes têm um objetivo de vida: adquirir seu carro, sua casa, seu estudo, dar o melhor para o filho. Quando eu me aposentar, quero poder seguir sem ser criticada pelo meu passado."

"Há uma desvalorização da nossa profissão perante a sociedade e o governo. A gente não é vista como profissional. Somos vistas pela maioria das pessoas como marginais. Valorização é, por exemplo, conseguir declarar o imposto sem precisar ficar mentindo, sem precisar inventar o que a gente faz. Ter que falar que eu trabalho como cuidadora de idosos se eu quiser abrir um CNPJ, porque a profissão é reconhecida, mas não é regulamentada. Se a gente tivesse uma valorização em relação a isso ia ser benéfico pra gente e pro país também", expõe Roberta.

No Brasil, a prostituição é uma ocupação profissional reconhecida pelo Ministério do Trabalho desde 2002 e não possui restrições legais enquanto praticada por adultos. A atividade, entretanto, não é regulamentada. O que significa, por exemplo, que não existe um conselho que fiscalize e ampare os profissionais.

Os segredos das acompanhantes

"O maior fetiche dos homens é a inversão de papéis na cama. Eles gostam de ser penetrados, principalmente os mais velhos."

"Quando atendo casais, o maior fetiche do homem é ver a mulher deles com outra mulher. O homem tem um fetiche louco por duas mulheres se pegando, transando com vontade e com gosto. A mulher quer ter prazer também, quer que consigam achar o ponto dela. Geralmente o objetivo dos casais que me procuram é esse, não é chuva dourada (xixi no sexo) ou um monte de malabarismo."

"Sobre sexo, os homens acreditam que toda mulher sente prazer de uma mesma forma, num 'ponto X', né? Mas tem mulheres que gostam que sugue, tem mulheres que gostam que lamba, tem mulheres que preferem uma pressão mais forte, outras não... Cada mulher tem uma forma de gozar, assim como eles."

"A acompanhante sempre tem que se cuidar. Manter unha, bronzeado, cabelo, academia. No meu corpo eu tenho lipo e silicone. É botox, é ácido hialurônico... Todo procedimento estético que vou descobrindo, eu faço. Com isso, gasto por ano, em média, R$ 20 mil."

"Os homens procuram uma acompanhante pelo sexo, mas muitos deles são carentes. Não querem terminar o relacionamento, não são ouvidos em casa, não conseguem transar com suas esposas depois de um tempo e da rotina do dia a dia. Então, em primeiro lugar, eu nunca critico o meu cliente por estar traindo ou não."

"Às vezes o cara chega ao orgasmo em cinco minutos, e ele agendou uma hora. Você vai fazer o que depois? Não vai ficar olhando pra cara do cliente. Eu converso, invento assuntos mirabolantes, faço massagem, danço. Geralmente eles são muito maleáveis. Quando você vê, o tempo já passou. Esse mito de que eles vão lá pra conversar não é mentira, é verdade."

Dia Internacional da Prostituta

Em 2 de junho de 1975, mais de 100 profissionais do sexo ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França, para chamar a atenção para a violência naturalizada contra elas e suas famílias. A partir do ano seguinte, a data passou a ser reconhecida em todo o mundo.

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